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Sardinha: Uma velha conhecida ainda chega a tempo dos Santos Populares

Desde meados de setembro de 2018 que os pescadores de Portugal e Espanha estão sem poder pescar sardinha, mas a interdição está quase a terminar. Os portugueses regressaram ao mar a partir de 3 de junho para apanharem um peixe emblemático, mas que tem perdido primazia no setor.
9 Junho 2019, 09h00

De Norte a Sul do país, os barcos para a pesca da sardinha estão a poucos dias de voltar a desbravar o mar. A atividade começa a partir das 18 horas e os pescadores só regressam na manhã do dia seguinte. Pelo meio, uma pequena paragem para descansar. E isso até é bom, pois significa que se encontrou um cardume volumoso e se lançaram as redes.

No entanto, as coisas nem sempre correm bem. Não tanto pela falta da sardina pilchardus (nome científico) mas pelas quotas impostas. Os armadores portugueses de sardinha estão contra os limites anuais e diários de capturas para este ano e foram “forçados” a pedir ao Governo o adiamento da pesca de 15 de maio para 3 de junho. “Entendemos que as quantidades globais são reduzidas tendo em conta a avaliação que fazemos aos recursos”, afirmou ao Jornal Económico Jorge Abrantes, assessor técnico da Associação das Organizações de Produtores da Pesca (ANOP) do Cerco. “Estamos confiantes de que a sardinha tem uma dimensão maior do que aquela que está a ser validada cientificamente como ponto de partida”, acrescentou o responsável,

Está em causa o seguinte: num despacho publicado em Diário da República, no dia 15 de maio, o Governo fixa para este ano um limite de capturas de 10.799 toneladas, a dividir por Portugal e Espanha, quando para 2018 as possibilidades de pesca eram de cerca de 12 mil toneladas.

Apesar de ter sido estabelecida esta quota, os pescadores portugueses só poderão pescar cinco mil toneladas entre 3 de junho e 31 de julho, ainda assim um ligeiro aumento face a 2018, ano em que podiam pescar 4.855 toneladas nesse período homólogo.

O limite diário de desembarques por embarcação foi reduzido de 1,250 para 1,063 toneladas para embarcações até nove metros, de 2,500 para 2,125 toneladas para embarcações até 16 metros e de 3,750 para 3,188 toneladas para embarcações acima dos 16 metros.

Ao contrário de 2018, a sardinha pequena, mas com tamanho comercial admissível, só pode ser posta à venda entre as 00h00 de segunda e as 00h00 de quinta-feira e a sua pesca está proibida nas zonas até 20 metros de profundidade, delimitadas entre o norte de Aveiro e o sul da Figueira da Foz, entre o norte e o centro do país, e entre Cacela e Vila Real de Santo António, no Algarve.

As embarcações deixam de poder descarregar em mais do que um porto durante um período de 24 horas e não podem transferir a sardinha para uma lota diferente da correspondente ao porto de descarga.

Desde abril que os armadores portugueses e espanhóis pediam que fosse fixada uma quota de 15.425 toneladas, correspondentes aos 10% da estimativa de stock existente, fixada em 154.254 toneladas no mais recente parecer do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES, na sigla em inglês) para 2019.

João Ramos, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Pescas, recebe todos os dias queixas de pescadores e armadores. “Os primeiros querem ganhar a vida e trabalhar durante todo o ano. Os outros têm muitas despesas por terem um barco parado e não conseguirem faturar. Mas, infelizmente, temos de obedecer às regras”,  diz o responsável ao Jornal Económico.

Segundo dados da Pordata, divulgados no início deste ano, a cavala é o tipo de peixe mais capturado em Portugal – em 2017 foram capturadas 19 mil toneladas -, tendo ultrapassado a pesca da sardinha a partir de 2012. Por outro lado, apesar de o polvo corresponder a apenas 5% do total da captura de pescado em 2017, representa a maior receita gerada pelas vendas em lota em Portugal (14%).

O Algarve continua a liderar a captura do polvo em Portugal, ainda que tenha havido uma diminuição de 39% entre 2002 e 2017. Consequentemente, a receita gerada pela venda do polvo diminuiu em 11% no Algarve.

Como se escolhe uma boa sardinha?

De acordo com a Associação de Defesa dos Consumidores (DECO), na época dos santos populares o preço da sardinha é inflacionado e é importante saber escolher não só pelo preço, mas principalmente a qualidade do produto. Nos mercados de Lisboa o quilo de sardinha fresca pode variar entre os 4,99 e 8,50 euros, mas se quiser uma opção mais económica tem sempre a hipótese da sardinha congelada, com preços que vão dos 2,49 até 5,75 euros.

A compra de sardinha com qualidade precisa de um olhar atento do consumidor e para isso a DECO deixa algumas dicas: pele brilhante, guelras vermelhas e olhos salientes e transparentes, com cheiro a maresia, são bons indicadores de frescura.

Esta observação serve também para detetar a má qualidade deste peixe: se a pele estiver com uma cor opaca, não compre. Cheiro a algas, odor a ranço, amoníaco ou azedo indica problemas de conservação. A carne deve ser firme e elástica. Com o tempo, amolece. Evite peixes com os olhos côncavos, com córnea opaca ou ensanguentada, ou pupila acinzentada e distorcida. As guelras quando acastanhadas indicam que o peixe pode não estar em boas condições.

Pescadores estão a diminuir

Os baixos salários, as restrições à captura e a concorrência da náutica de recreio estão a fazer baixar o número de pescadores em Portugal, sobretudo no Algarve, região onde, desde 2001, o número caiu para metade. De acordo com dados divulgados em fevereiro pela Pordata, existem 17.642 pescadores em Portugal, grupo profissional que tem vindo a diminuir desde 2001 em todas as regiões do país, com o Algarve no topo da lista, região na qual se registou uma redução de 56% de pescadores entre 2001 e 2017.

De acordo com os mesmos dados, verifica-se também uma alteração da concentração geográfica do número de pescadores em Portugal: em 2001, era no Algarve e no Norte que se encontravam grande parte dos pescadores; em 2017, quase metade dos pescadores de Portugal encontram-se nas regiões do Norte e Centro (26% e 23%, respetivamente).

 

Artigo publicado na edição nº1990, de 24 de maio do Jornal Económico

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