Já trabalhou em diversos lugares, como Londres ou Hong Kong. Estando agora em Portugal, que diferenças culturais encontrou com esses países?
Quero começar por dizer que gosto muito de Portugal. O povo português é de uma grande simpatia. Deixe-me referir que Portugal é importante para o Bison Bank e foi uma decisão acertada do Grupo em ter comprado aqui um banco. Nós encaramos Portugal como uma plataforma para o desenvolvimento do nosso negócio na Europa. As recentes visitas oficiais que os nossos Chefes de Estado prestaram aos nossos países deram-nos confiança para isso. A relação sino-portuguesa é de facto muito boa. Aliás, o presidente Xi Jiping referiu-se à relação entre a China e Portugal como um bom momento histórico.
No atual contexto de guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, Portugal oferece segurança para o investimento chinês no Ocidente?
Do ponto de vista dos investidores chineses, o ponto fundamental reside na estabilidade. Havendo estabilidade em Portugal, considero que o vosso país constitui uma boa entrada na Europa para o investimento chinês.
Como avalia a forma como o Governo português tem procurado manter um equilíbrio entre a aliança com os Estados Unidos e a parceria estratégica com a China?
Prefiro não comentar no que diz respeito à relação portuguesa com os norte-americanos. O que posso dizer é que considero ser muito importante que Portugal seja capaz de criar oportunidades para as empresas chinesas. A China é um mercado muito grande e, por isso, creio que é importante para o Governo português manter uma boa relação (diplomática) e comercial.
Quais são os objetivos do Bison Bank em Portugal?
A nossa maior competência reside na capacidade de construir uma ponte entre a Europa e a Ásia, além de atrair investimento asiático para Portugal. Conseguimos fazê-lo através dos contactos que os nossos acionistas têm nos mercados asiáticos e chinês. E não podemos descurar do facto que conhecemos bastante bem o mercado asiático. Por exemplo, acabámos de fechar o nosso terceiro negócio, no qual participámos, como assessores, na emissão de obrigações no valor de 1,9 mil milhões de dólares de uma das maiores empresas de investment management.
Acredita que o Bison Bank está numa posição de privilégio porque não só conhece as necessidades dos investidores chineses, como estes confiam mais facilmente num banco chinês do que num europeu?
…sim, sem dúvida. Essa é, de resto, uma das nossas maiores valências em Portugal. A outra é que temos a capacidade para exportar para a China oportunidades de negócio que se encontram em Portugal. Conseguimos alinhar os interesses dos nossos parceiros estratégicos com os nossos parceiros chineses porque conhecemos o mercado asiático.
Dentro do segmento de private banking, que tipo de investidores estão a tentar atrair?
Temos dois tipos de clientes – os chamados high net worth individuals, que são os muito ricos, e as empresas. Dentro dos primeiros, representamos os clientes que querem investir, seja em Portugal, seja na Europa. Também temos clientes que pretendem obter um visto gold investindo no imobiliário, que acabam por abrir uma conta bancária connosco.
Vocês tratam das formalidades, mas também encontram oportunidades de investimento?
Exatamente. Nós alinhamos os interesses dos nossos clientes muito ricos não apenas com uma boa oportunidade de investimento imobiliário, mas também com os interesses da contraparte vendedora.
Analisando a economia portuguesa, quais os setores que considera terem potencial para crescer?
O setor principal é o imobiliário, que está ligado com o sistema bancário e os serviços financeiros, acabando também por se ligar connosco. E, à medida que o tempo for passando, tenho a certeza que o ambiente seguro e estável que se vive em Portugal vai reforçar a confiança dos investidores, e acabaremos por nos envolver ainda mais no imobiliário.
Não teme uma bolha imobiliária?
De acordo com as estimativas, a economia europeia vai contrair ligeiramente este ano. Ao mesmo tempo, as taxas de juro continuarão muito baixas. Os preços das casas estão estáveis, apesar de uma ligeira subida. Por isso não creio que exista uma bolha. O imobiliário é um setor muito importante, no qual teremos de nos focar, assim como o setor industrial, nomeadamente nas componentes para os automóveis, que representam um proporção considerável das exportações para a China.
Poderá também atrair capital chinês para investir em empresas portuguesas? E em que setores?
Penso que sim, porque corresponde à lógica do nosso modelo de negócio. Eventualmente gostaríamos de atrair capital de risco chinês para as oportunidades que se encontram em Portugal. Dou-lhe um exemplo, esta semana, recebemos aqui um fundo de investimento especializado na área da saúde, que nos foi apresentado pelos nossos acionistas. Para responder à segunda pergunta, os setores em que mais nos vamos focar serão os da saúde, da energia solar/limpa e, também, do agroalimentar, especialmente o porco preto, um produto que foi recentemente autorizado a entrar no mercado chinês. Através do nosso departamento de fusões e aquisições transfronteiriço poderemos encontrar clientes chineses consoante os setores de atividade das empresas que procurem financiamento, para não referir que temos clientes muito ricos que poderão encontrar oportunidades de investimento em pequenas e médias empresas portuguesas.
Estão a trabalhar com empresas portuguesas estabelecidas nos países lusófonos, por exemplo em Moçambique?
Essa também foi uma das razões por que escolhemos vir para Portugal. Em Moçambique, por exemplo, o Grupo Bison comprou 48% do capital social do Banco Mais, que é um banco comercial. Com a presença em Moçambique pretendemos estabelecer a nossa posição, não apenas com empresas portuguesas, mas também com companhias chinesas. Neste momento vivem em Moçambique cerca 30 mil chineses e estão sediadas lá aproximadamente 300 empresas chinesas, a maioria das quais a trabalhar no desenvolvimento de infraestruturas locais, que estão a ajudar o governo local a construir estradas, pontes e habitação.
Voltemos às diferenças que encontrou em Portugal por comparação com outros sítios. Como vê a regulação da banca na Europa?
Trabalho no setor financeiro há mais de vinte anos e a minha perceção é que a atividade bancária na Europa é muito regulada. Aqui, o governo interno do banco assim como o risco do crédito são dimensões muito importantes e que eu vou ter em conta. Terei de atenção que as coisas aqui são um pouco diferentes do sistema bancário asiático.
Artigo publicado na edição nº1992, de 7 de junho do Jornal Económico
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