[weglot_switcher]

Presuntos ‘às costas’, aplausos e concorrência à porta. Assim foi o ‘dia 1’ da Mercadona em Portugal

O grupo espanhol de distribuição abriu hoje a sua primeira loja em Portugal, com a afluência de centenas de potenciais clientes. Mas, o grande objetivo, para já, é atingir as 150 lojas, incluindo a região de Lisboa, a que o grupo deverá chegar em 2021 ou 2022.
2 Julho 2019, 16h48

Às oito horas da manhã desta terça-feira, dia 2 de julho, já havia quem quisesse entrar no parque de estacionamento para estrear a loja da Mercadona, em Gaia, que tinha hora marcada de abertura para apenas uma hora depois, às nove da manhã.

Meia hora depois, já cerca de três dezenas de potenciais primeiros clientes se perfilavam à porta da loja de Canidelo, juntamente com alguns curiosos, habituais nestas ocasiões. Alguns destes clientes estavam já equipados com os carrinhos de compras da Mercadona, agradados com a novidade de não precisarem de moedas, pois os carrinhos integram um dispositivo que os impede de serem deslocados para além do parque do estacionamento da loja.

Faltava ainda meia hora para a primeira loja da Mercadona em Portugal ser inaugurada oficialmente pelo presidente do grupo. Juan Roig encontrava-se lá dentro, a fazer uma última visita à loja antes de abrir as portas para o primeiro projeto de internacionalização do grupo.

Do lado de fora, às 8h45, já se podia falar de uma pequena multidão, ansiosa por descobrir as novidades que o grupo espanhol de distribuição lhes tinha reservado. A chegada de um ‘drone’ ao local só veio aumentar a expetativa. Até as gaivotas se aperceberam e participaram no ambiente de frenesim geral, apesar da manhã enevoada, ali a escassos metros da praia do Canidelo e da Foz do Douro.

Gente de todas as idades, homens e mulheres, famílias, mas com os maiores de 50 anos a dominarem. Foram aguardando e juntando-se até cerca de duas centenas, depois três, depois quatro… Um entusiasmo mais sublinhado pelo facto de a Mercadona rejeitar qualquer política de promoções aos seus clientes.

Mas os últimos três anos de uma estratégia de comunicação intensa e bem dirigida, associada ao facto de muitos portugueses já terem experiência de fazer compras na Mercadona do outro lado da fronteira explicam toda esta animação.

Às nove horas em ponto, entre muitos aplausos, abriram-se as portas da primeira loja da Mercadona em Portugal, tendo Juan Roig recebido pessoalmente a ‘cliente nº 1’, uma senhora que foi a primeira a chegar hoje ao local.

Depois, lá dentro, as prateleiras foram o centro das atenções e rapidamente as registadoras começaram a soar, com os primeiros clientes a apreciarem as novidades de produtos mais dirigidos para o mercado nacional ou as novas ‘imagens de marca’ do grupo, como os sacos de papel ou os cacifos gratuitos, por exemplo.

Houve quem fosse à procura de bacalhau. E houve quem saísse com um presunto às costas. Houve quem tivesse de dar duas ou três voltas ao parque de estacionamento para parquear a viatura. E também houve clientes espanhóis, à procura de matarem saudades da sua terra.

E uma hora depois, continuava esta inédita ‘romaria’ em Gaia. Mas, em frente à loja, a azáfama era outra. Até a ‘vizinha’ Re/Max tentou aproveitar a barafunda para angariar novos clientes para o seu negócio imobiliário. E os concorrentes do Lidl colocaram bem à vista uma carrinha de publicidade móvel, estacionada na rua, garantindo “máxima qualidade” e “melhor preço” e sublinhando que dispõe de “mais de 15 lojas no Grande Porto”. E quatro jovens em bicicleta distribuíam folhetos de promoção da cadeia retalhista alemã.

Percebe-se: este é o sinal visível do impacto que a entrada da Mercadona em Portugal já está a ter nos outros ‘players’ do setor da distribuição alimentar no mercado nacional.

Só no Grande Porto, o grupo espanhol vai abrir mais três lojas ainda este mês. Após um ligeiro interregno em agosto, a Mercadona vai retomar o ritmo de inauguração de lojas em Portugal, com mais seis aberturas previstas entre setembro e o final deste ano, todas localizadas nos distritos do Porto, Braga e Aveiro.

Em 2020, mais dez lojas da Mercadona vão abrir em Portugal, em localizações ainda não divulgadas publicamente. No seu caminho de ‘conquista’ para sul, as primeiras lojas na região de Lisboa deverão estar operacionais entre 2021 ou 2022. Num total previsto de 150 lojas assumidas para Portugal, pelo menos, para já.

Dificilmente, o mercado da distribuição alimentar em Portugal continuará a ser o mesmo depois da entrada da Mercadona. Prevê-se pressão nos preços – bom para os consumidores ; nos fornecedores – mau para os produtores; e nos salários – bom para os candidatos a emprego. Efeitos que se pensam ser bons para a economia nacional em geral, mas que deverão (irão) fazer repensar a estratégia e as margens dos anteriores ‘donos disto tudo’ no retalho alimentar em Portugal, como a Sonae, Jerónimo Martins, Lidl, Intermarché (Grupo Os Mosqueteiros), Dia (Minipreço) ou Auchan, só para falar dos maiores protagonistas.

Afinal, não foi por acaso que a Mercadona já anunciou que o investimento em Portugal vai superar os 260 milhões de euros desde 2016 até ao final deste ano, contando já com 900 colaboradores nacionais e esperando chegar ao final de 2019 com 1.100 trabalhadores lusitanos.

Uma aposta de um grupo que faturou no ano passado mais de 23,4 mil milhões de euros nas suas 1.636 lojas em Espanha. Uma aposta que também passa por trabalhar com cerca de 300 fornecedores nacionais, tendo as compras aos fornecedores lusitanos atingido já a soma de 203 milhões de euros desde 2016.

Por isso, às oito horas da manhã desta terça-feira, dia 2 de julho, também já havia quem vaticinasse em Canidelo, Gaia, que esta aposta da Mercadona pode muito bem representar o começo de uma nova era no setor da distribuição alimentar em Portugal.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.