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Centeno defende “adaptação” das medidas de apoio a sectores mais afetados

O governador do Banco de Portugal diz que a palavra-chave da tomada de decisões deverá ser a “adaptação das medidas”. Antecipa que o quarto trimestre do ano passado tenha um crescimento semelhante ao do terceiro trimestre, admitindo rever em baixa as projeções para o primeiro trimestre deste ano, ainda que para já considere “cedo” para prever uma recessão para a totalidade do ano.
27 Janeiro 2021, 23h33

O Governador do Banco de Portugal (BdP) considera que as medidas de apoio temporárias devem ser focadas na assimetria revelada pela crise e focadas nos sectores mais atingidos, alertando que não se devem transformar em medidas permanentes. Mário Centeno mostra-se relativamente optimista sobre a capacidade de recuperação da economia portuguesa este ano e em 2022, apesar do impacto do novo confinamento.

“Fizemos todos uma análise correcta quando encarámos a crise como temporário e simétrica, mas tem sido menos temporária para alguns sectores e tornou-se assimétrica. As temporárias devem ser focadas nessa assimetria e devem ser focadas nos sectores mais atingidos”, disse na “Grande Entrevista”, esta quarta-feira, na RTP3, acrescentando que “a palavra de ordem na tomada de decisões é a adaptação das medidas. O BCE fê-lo em dezembro quando recalibrou o seu pacote de medidas, prolongou-as no tempo. E eu acho que todos os níveis de decisão isto deve ser uma realidade. Devemos continuar focados em medidas para uma crise temporária, no plano sanitário”.

O responsável pelo regulador bancário salientou que “sem levantar questões estruturais, as políticas devem ser focadas nos sectores onde a crise se sente. A política monetária não é a política monetária mais adequada porque abrange todos aos mesmo tempo, mas as políticas orçamentais podem”.

Destacando que “a economia tem reagido às diferentes fases da pandemia de forma positiva”, admitiu que existem ainda poucos dados disponíveis sobre  o comportamento da economia nas últimas duas semanas, que coincidem com o agravamento das medidas de confinamento e também com o agravamento da evolução pandémica. No entanto, explicou que “se compararmos o comportamento da economia em novembro, onde também foram implementadas medidas de confinamento, com o que aconteceu em março, os indicadores preliminares que temos de janeiro indicam que não vamos ficar em números dessa dimensão”.

“Antecipamos que o quarto trimestre possa vir a ter um comportamento muito em linha com aquilo que foi o terceiro trimestre do ponto de vista do crescimento. Esta revisão em alta da previsão para o quarto trimestre vem no seguimento de outras revisões que foram sendo feitas ao longo do segundo semestre de 2020 mostra que houve uma capacidade de adaptação muito significativa das economias, das empresas, dos trabalhadores”, afirmou, salientando que o Instituto Nacional de Estatística irá publicar a estimativa preliminar do PIB do último trimestre do ano passado na próxima semana.

Apesar de não antecipar uma nova recessão para este ano, Mário Centeno admitiu que “ainda é cedo” e que é preciso analisar os números das compras e levantamentos de ATMs, que revelam uma queda muito significativa nos primeiros dias do confinamento, tendo atingido valores de queda superiores a 20%.

“Há mais incerteza sobre o curto prazo, sobre fevereiro/março, do que sobre a incerteza de que as análises estabeleçam para o final deste ano e 2022. O médio prazo neste momento está envolto em menos incerteza, do que o curto prazo. Isto é um cenário difícil para os decisores de política”, afirmou, frisando que “não querendo parecer optimista. A revisão em alta do crescimento do quarto trimestre do ano passado de 2020 é muito relevante para o crescimento em 2021 porque estabelece uma base para o crescimento económico mais elevada”.

“O primeiro trimestre de 2021 provavelmente vai ser revisto em baixa e isto [uma revisão em alta do último trimestre de 2020], como nas previsões do FMI, equilibra-se e não carrega necessariamente para diante um fardo para o crescimento”, antecipou relativamente à atualização das projeções do BdP que serão publicadas daqui a dois meses.

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