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Diretor geral da FAO acusa: “há mais obesos que famintos” no mundo

Segundo, José Graziano da Silva, outros dois mil milhões de pessoas, uma em cada quatro a nível mundial, encontra-se em situação de insegurança alimentar – o que significa que não sabem se terão o suficiente para comer para a semana.
Rafael Marchante/Reuters
21 Julho 2019, 18h15

As estimativas apontam para 830 milhões de pessoas obesas em todo o mundo, contra cerca de 820 milhões de pessoas famintas.

Esta comparação foi feita ontem, dia 20 de julho, por José Graziano da Silva, diretor geral da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação, no âmbito do FISAS – Fórum Internacional Territórios Relevantes para Sistemas Alimentares Sustentáveis, que pela primeira vez decorreu em Portugal, em Idanha-a-Nova, desde 18 de julho passado e com encerramento previsto para hoje.

Segundo, José Graziano da Silva, outros dois mil milhões de pessoas, uma em cada quatro a nível mundial, encontra-se em situação de insegurança alimentar – o que significa que não sabem se terão o suficiente para comer para a semana.

De acordo com estas contas, há, pelo menos, cerca de 3,8 mil milhões de pessoas no planeta que sofrem de carências e excessos alimentares.

Segundo os responsáveis ontem presentes no debate do FISAS, a solução está do desenvolvimento de políticas públicas adequadas,.

Até ao final do dia de hoje, estão representados no FISAS 15 países, provenientes de quatro continentes, “com uma preocupação comum: promover uma transição para sistemas alimentares sustentáveis, de maneira que nos permita cumprir os ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] e a chegar a um futuro sustentável”, salienta um comunicado da organização.

Presente na sessão inaugural do FISAS, o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural de Portugal, Luís Capoulas Santos, sublinhou que “Portugal tem assumido claras opções estratégicas para a produção de uma alimentação saudável e segurança alimentar”.

“Do Plano Nacional Agrícola, de que são exemplo o Estatuto de Pequena Agricultura Familiar, o Programa de Regadios Tradicionais e a Reforma da Floresta, 30 a 35% são medidas relacionadas com o clima e a questão energética”, exemplificou este governante.

Capoulas Santos terminou a sua intervenção com a atribuição da Medalha de Honra da Agricultura de Portugal ao Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, que encerra o seu segundo mandato à frente da organização este mês.

José Graziano da Silva defendeu a criação de políticas públicas adequadas para a promoção da agricultura sustentável, da agroecologia e do acesso à alimentos saudáveis por toda a população.

Como exemplos, citou a política que promove as compras públicas de alimentos provenientes da agricultura familiar, iniciada no Brasil e já implementada em dezenas de países; a rotulagem clara dos alimentos, como tem sido feito no Chile; e a taxação de alimentos não saudáveis uma vez que, a longo prazo, estes acabam por onerar os sistemas públicos de saúde.

“Não mudaremos os sistemas alimentares com tecnologia. No lugar disso, precisamos fazer mudanças nas leis e na área da investigação”, afirmou o Diretor-Geral, no mesmo dia em que a FAO anunciou que apoiará um programa de cooperação para a criação do Centro de Competências para a Agricultura Sustentável na CPLP, a ser sediado em São Tomé e Príncipe.

Segundo José Graziano da Silva, esta iniciativa é uma forma de “abrir uma janela na catedral da ‘Revolução Verde’, para plantar a ideia de que um modelo novo e mais sustentável e responsável de produção e consumo é possível. A ‘Revolução Verde’ foi capaz de prevenir a fome na década de 1970, mas atingiu seus limites e é hora de implementar diferentes modelos para combater a crescente fome e a obesidade que o mundo sofre”, concluiu.

Para Armindo Jacinto, presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, será nas comunidades rurais que se encontrará resposta às alterações climáticas.

“É essencial alterar a forma como produzimos os alimentos. Novos comportamentos e novas atitudes são o caminho para o futuro. Ignorar o sinais do planeta é por em causa o futuro da humanidade”, defende este responsável.

Para o conseguir, o autarca promete, até ao final do dia de hoje, anunciar 50 compromissos a implementar na região.

Na sessão inaugural do FISAS, estiveram também ministros da Agricultura e representantes de Governo da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, bem como representantes do Mecanismo da Sociedade Civil do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP e da INNER – Rede Internacional das Bio-Regiões.

Até ao final de hoje, inúmeros produtores de Portugal, Espanha, França, Brasil, São Tomé e Príncipe, Angola e Cabo Verde irão partilhar boas práticas de desenvolvimento rural.

As conclusões dos debates ficarão registadas na ‘Declaração de Idanha-a-Nova para a Promoção de Sistemas Alimentares Sustentáveis’, um acordo de referência para a ação governativa e programas que se destinem a promover a transição para sistemas alimentares mais sustentáveis em Portugal e noutros países da CPLP.

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