Foi sem surpresas que Boris Johnson se tornou o líder do partido e coo novo primeiro-ministro tem, desde a primeira hora a que chegar à sua nova morada, um difícil dossiê em mãos: não o Brexit – que tem tempo para esperar – mas a crise aberta com o Irão, depois da captura do petroleiro britânico Stena Impero.
O Reino Unido – que não é um país qualquer neste dificílimo tabuleiro de xadrez – está emparedado entre a vontade dos países europeus em manter vivo o acordo que assinaram em 2015 (com a França e a Alemanha à cabeça, sendo que os britânicos também o assinaram) e a necessidade de não hostilizar os Estados Unidos, que rasgaram o acordo mas podem ser a única saída viável para a crise económica que poderá estar a chegar ao território britânico.
O atual governo tem desempenhado um delicado equilíbrio entre palavras duras e movimentos diplomáticos, numa tentativa de reduzir a todo o custo as tensões com Teerão. Mas Johnson não terá essa mesma liberdade de movimentos (que se consubstancia nesse zigue-zague entre a palavra e a diplomacia): é que o apoio explícito do presidente norte-americano, Donald Trump, a Boris Johnson faz recordar a velha frase segundo a qual ‘não há almoços grátis’.
Johnson chegará assim ao lugar de primeiro-ministro não para lidar com a questão do Brexit, mas sim com algo que o coloca face aos seus próprios fantasmas e sem que os britânicos tenham uma ideia clara sobre o que o novo líder do governo irá fazer. É uma prova de fogo que poderá marcar em definitivo a forma como os britânicos – principalmente a imensa maioria deles que nunca foi chamada às urnas para se pronunciar sobre ele – irão encarar Boris Johnson.
Mas, segundo os jornais britânicos, os dossiês sensíveis não se esgotam com o Irão. É o regresso do Brexit. A incerteza gerada em torno do Brexit já forçou o governo de Theresa May a adiar até o próximo outono a apresentação do Quadro de Despesas Públicas Plurianual, uma previsão obrigatória das despesas e cortes previstos em cada departamento ministerial. O gabinete que controla o orçamento, um organismo oficial (mas independente) de controlo de contas, pondera que uma saída da União sem acordo pode significar um aumento extra do défice em mais de 30 mil milhões de euros por ano e uma queda do PIB de até dois pontos percentuais.
Johnson prometeu muitas coisas por causa das obrigações orçamentais que o Reino Unido tem com Bruxelas, e que o novo primeiro-ministro estaria disposto a deixar de cumprir, apesar das dúvidas legais geradas por tal violação de um compromisso internacional. Mas o Gabinete precisa de uma resposta rápida.
O chamado Projeto HS2, um plano ferroviário ambicioso para impulsionar o desenvolvimento económico no norte da Inglaterra, planeia conectar oito grandes cidades, construir 25 novas estações e contribuir para o deslocamento anual de 30 milhões de pessoas. Mas o seu orçamento disparou em 33 mil milhões de euros (face aos 62 mil milhões previstos inicialmente). Johnson terá de decidir se continua o pára o projeto.
O mesmo sucedeu com a terceira pista do aeroporto de Heathrow, a que Johnson ferozmente se opos quando era ‘mayor’ de Londres mas que os interesses comerciais da cidade impõem.
Assim de repente, os britânicos querem uma resposta a tudo isto antes de irem de férias.
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