O gigante suíço Axpo – controlado pelos cantões da Suíça alemã – aposta na sua operação ibérica no segmento do gás natural, operando diretamente compras de gás natural liquefeito (GNL) que são abastecidas ao mercado por via marítima. Trata-se da compra de grandes quantidades de gás a preços “competitivos” – refere o administrador Miguel Checa – que permitem estruturar ofertas de mercado com preços tendencialmente mais baixos também para Portugal, sendo um mercado com uma dimensão muito inferior à do mercado espanhol, onde o maior número de consumidores e o efeito dos contratos grossistas permitem ter custos mais reduzidos.
“Em Espanha o mercado do gás natural GNL representa um segmento importante do sector energético, que está interligado a Portugal pelos pipelines da rede do gasoduto. Conjugando as unidades de regaseificação existentes em Espanha com o terminal portuário de Sines, em Portugal, há infraestruturas relevantes para formar preços competitivos no segmento do gás natural no mercado ibérico. Os preços ibéricos são marginais e o sector local também beneficia pelo facto de utilizar tecnologias muito evoluídas”, refere o administrador Miguel Checa, que gere em Portugal a Goldenergy, do grupo Douro Gás controlado pelos suíços da Axpo.
“A Goldenergy pretende apostar mais no mercado de gás natural por via das compras de GNL que é descarregado por navio em Sines. A Axpo tem feito compras de GNL no mercado internacional e recebe esse gás pelo terminal de Sines o que tem permitido aproveitar as oportunidades de abastecimento de gás natural a preços baratos. Na realidade, o gás natural não tem de vir todo da Argélia por gasoduto. Pode ser abastecido onde houver disponibilidade para fornecê-lo, a preços mais baixos, dos EUA, ou da Rússia – e é inegável que os navios carregados de gás russo são mais baratos que o gás proveniente da Argélia –, mas também pode vir de outras geografias, até mais distantes, como a Austrália”, refere o gestor.
“O mercado do gás natural é um mercado global, que já não está indexado à cotação do petróleo, nem à evolução do Brent. Havia um spread entre o Brent e o preço do gás natural e nos últimos meses notou-se definitivamente que os dois mercados funcionam separados, porque a evolução do Brent e do gás natural foram completamente diferentes. Esta realidade é muito recente e deve-se ao aumento da produção de gás natural, desde o que é produzido nos EUA, ao gás que vem da Austrália. Também surgiram novos canais de produção”, explica Miguel Checa.
Mas há uma questão prévia a esclarecer: para a Axpo e a Goldenergy apostarem mais no mercado português de gás natural terão de ter armazenamento próprio? Miguel Checa diz que “o custo logístico do armazenamento de gás natural é um custo regulado”. Por isso defende que podem “otimizar esse custo se aumentarmos a nossa quota de mercado, fornecendo maior volume de gás ao mercado português, o que reduzirá as necessidades de armazenamento de gás natural. Face às previsões dos clientes que temos em Portugal, é expectável que o gás que colocamos em Portugal não seja esgotado em menos de um determinado número de meses, o que implicará pagarmos custos de armazenamento, mas se aumentarmos o número de clientes, escoamos para o consumo o gás que temos armazenado e baixamos esses custos regulados”.
“Se, por exemplo, fornecermos ao mercado português o carregamento de um navio de gás natural a cada dois meses, os nossos encargos de armazenamento baixam e o volume de gás faturado em cada mês aumentará. Este será o nosso objetivo no segmento do gás natural”, refere Miguel Checa. “Acreditamos que a atividade da Axpo trará maior liquidez ao mercado grossista de gás natural em Portugal, e somos market maker do MIBGas, além de sermos há muitos anos operadores do mercado elétrico no OMIP”, explica o gestor.
O gás natural nunca teve uma rede de abastecimento a particulares em Portugal. Nunca teve capilaridade. Por isso o mercado nacional do gás natural surge quase como um parente pobre da mobilidade de nova geração, incapaz de assegurar a transição para veículos com zero emissões poluentes. Nesse sentido, “a aposta da Axpo é na eletrificação, com soluções de painéis fotovoltaicos e gestão de carregamentos feita por smart grids. Para soluções de armazenamento, prevemos a utilização de baterias que permitirão acumular durante o dia a energia que será parcialmente utilizada de noite”, comenta Miguel Checa. No entanto, “para os veículos pesados de transporte de passageiros, geridos por redes de transportes públicos, pensamos que o gás natural fará mais sentido”, adianta o gestor.
Aliás – acrescenta Miguel Checa – “a tendência de autoconsumo, de produção de energia pelos particulares que permita um elevado nível de independência energética, nunca será dinamizada pelo modelo de negócio do gás natural – que também dificilmente permitirá situações de autossuficiência ou de independência energética dos países. A eletricidade sim, permite modelos de autoconsumo e de independência energética. Além disso, as energias renováveis têm vindo a descer de preços e atingiram agora a paridade tarifária na rede. Há maior eficiência nas renováveis. Em Espanha havia subsídios para os painéis fotovoltaicos de 550 euros por MW, mas hoje, passados oito anos, já não há subsídios”, remata o gestor.
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