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Vodafone e NOS colocam pressão sobre venda da rede da Altice

Operadoras relançam parceria para fibra ótica no momento em que a Altice negoceia a venda da rede do MEO com o argumento de que poderá ser aberta aos concorrentes. Altice acusa rivais de jogada de “marketing”.
26 Julho 2019, 13h04

A Altice Portugal tem defendido que a venda da rede de fibra ótica do MEO a um player independente permitirá a utilização desta estrutura pelas concorrentes NOS e Vodafone, transformando-a numa espécie de “REN das telecoms”. Este ponto é decisivo para determinar o preço de venda da rede, pois quantas mais operadoras a utilizarem no futuro, maiores serão as receitas que terá. Porém, a NOS e a Vodafone não parecem dispostas a facilitar a vida à Altice: as duas operadoras, que têm desde 2017 uma aliança na fibra ótica, relançaram esta parceria com o alargamento à DST Telecom, no dia 12 de julho, num movimento que coincide com as negociações entre a Altice e a Cellnex para a venda da rede do MEO, que, segundo a Bloomberg, está avaliada em cerca de quatro mil milhões de euros. Os ânimos estão ao rubro e a Altice acusa as concorrentes de fazerem uma jogada de “marketing” para “desvalorizar a relevância do investimento” que fez na fibra ótica.

Apesar da possibilidade de abertura da rede do MEO, que chega a cerca de cinco milhões de lares, tanto a Vodafone como a NOS dizem preferir que passem a existir duas grandes redes de fibra ótica em Portugal. De um lado, a que será partilhada por ambas; do outro, a do MEO, que a Altice quer vender, mas sem deixar de ter o controlo operacional.

“Não equacionamos nenhum cenário em que, a concretizar-se essa venda, a Vodafone possa vir a utilizar a rede em questão, pelo facto de a mesma se sobrepor à nossa rede atual, bem como à futura rede prevista ou à qual passaremos a ter acesso. A Vodafone cobre hoje 3,2 milhões de casas e empresas com fibra, estando em curso, e a decorrer ao ritmo esperado e sem sobressaltos, o acordo de partilha de rede com a NOS que nos permitirá alargar esse número até quatro milhões de casas”, disse fonte oficial da Vodafone ao JE.

A mesma fonte acrescentou que o acordo com a DST vai permitir acrescentar 1,2 milhões de casas, sobretudo em zonas rurais.

“Face ao que já temos hoje, ao projeto em execução e ao novo projeto em perspetiva, não vemos como equacionar a utilização dessa rede [do MEO]”, conc luiu.

Questionada sobre o número de casas efetivamente passadas com fibra no âmbito da parceria com a NOS, anunciada em setembro de 2017, a mesma fonte da Vodafone não avançou números.

“O acordo está a decorrer conforme previsto e o incremento das áreas de oferta de rede de fibra da Vodafone, que se tem verificado desde a assinatura deste mesmo acordo, é, na sua quase totalidade, resultado do sucesso da sua implementação”, frisou.

Por sua vez, a NOS garante igualmente que não conta utilizar a rede do MEO, graças à parceria com a Vodafone.
“Entre cobertura própria e a resultante das parcerias que celebrou – Vodafone e DST Telecom -, a NOS tem cobertura nacional, pelo que não tem necessidade de utilizar a rede de um outro operador para chegar a todos os portugueses”, disse ao Jornal Económico fonte oficial da operadora liderada por Miguel Almeida.

Questionada sobre quantos lares já foram efetivamente passados com fibra no âmbito da parceria com a Vodafone, a mesma fonte não quis responder. Mas o relatório e contas da NOS relativo a 2018 lança alguma luz sobre os resultados desta parceria que foi anunciada em setembro de 2017, com o objetivo de aumentar o número de lares cobertos com fibra ótica até à casa do cliente (Fiber to the Home, ou FttH), que é a tecnologia utilizada tanto pela Vodafone como pelo MEO.
Para compreender o que está em causa, é necessário ter em conta que a rede fixa da NOS, herdada da antiga PT Multimedia, chega atualmente a 4,5 milhões de lares. No entanto, trata-se de uma estrutura que é composta, na sua maior parte, por cabo coaxial, sendo por isso denominada de Hybrid Fiber Coax, ou HFC. Como esta tecnologia permite menor largura de banda do que o FttH, nos últimos anos a NOS tem procurado atualizar a sua rede, primeiro fazendo o upgrade da sua rede histórica para a tecnologia DOCSIS 3.1 e depois investindo numa rede de fibra ótica propriamente dita. E é aqui que entra em cena o acordo com a Vodafone e a DST, que a NOS considera decisivo para que, em 2022, a FttH já represente 70% da sua rede fixa, contra apenas 22% no final do ano passado.

A parceria com a DST Telecom permitirá, por sua vez, acrescentar entre 900 a 1,2 milhões de casas passadas com fibra, sobretudo nas zonas rurais. De recordar que a DST tem igualmente uma parceria de partilha de rede com a Altice, num total de 100 mil lares partilhados com o MEO.

Altice acusa concorrentes de manobra “sensacionalista” e de “marketing”
Questionada pelo Jornal Económico sobre o memorando de entendimento anunciado no passado dia 12 de julho pela NOS, Vodafone e DST, fonte oficial da Altice acusou as concorrentes de levarem a cabo “uma iniciativa de marketing”, que não corresponde a uma “efetiva oferta de serviços aos consumidores portugueses, em particular aqueles das regiões de baixa densidade populacional, onde a Altice tem vindo a investir”, disse fonte oficial da operadora liderada por Alexandre Fonseca.

“Certamente que este anúncio não é completamente alheio aos receios já manifestados pelos operadores envolvidos, no que respeita à capacidade comprovada de investir e construir fibra ótica da Altice Portugal e em particular aos anúncios de possível capitalização desses investimentos, através de parcerias com terceiros, para criar redes mais abertas e que suportem o crescimento do mercado, estimulando a concorrência e a rentabilidade desses investimentos já efetuados”, acrescentou a mesma fonte oficial, numa alusão à intenção de abrir a rede do MEO, após a venda.

“Potencialmente, estes anúncios de carácter sensacionalista e numa lógica de marketing, terão por objetivo desvalorizar a relevância do investimento já feito pela Altice Portugal e que esta pretende disponibilizar a todos aqueles que desejam continuar a expandir e melhorar os serviços de comunicações em Portugal e a todos os portugueses”, acrescentou.

Questionada sobre as negociações em curso para a venda da rede, a mesma fonte garantiu que o processo está a decorrer com normalidade, apesar de a intenção original da Altice ter sido chegar a um acordo no primeiro semestre.

“Neste momento estamos concentrados no decurso do processo negocial, pelo que não será correto nem desejável prestar comentários antes de qualquer decisão final. No entanto, e ao contrário de algumas notícias trazidas a público de fonte desconhecida e sem qualquer base de verdade, podemos adiantar que estamos bastante satisfeitos com todo o processo de negociação, que reflete a grande importância estratégica, o valor intrínseco e o prestigio do património e dos investimentos da Altice Portugal no País”, defendeu.

 

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