[weglot_switcher]

Portugal é um dos 16 países da UE que ainda não adotou nova legislação europeia para as telecomunicações

Governo não adotou diretiva europeia para as telecomunicações em tempo útil. Gabinete de Pedro Nuno Santos, que tem a tutela das comunicações, responsabiliza pandemia e diz que o processo avança “brevemente”. Bruxelas só reconhece avanços legislativos em 11 países. Portugal não é um deles.
  • Cristina Bernardo
1 Fevereiro 2021, 07h55

Portugal é um dos 16 Estados-membros da União Europeia (UE) que não avançou com a transposição, completa ou parcial, do Código Europeu das Comunicações Eletrónicas (CECE), apurou o Jornal Económico (JE). A transposição do CECE deveria ter ocorrido até 21 de dezembro de 2020. Mas o Governo não cumpriu o prazo, nem comunicou à Comissão Europeia quando pretende avançar com a adoção da diretiva europeia para a legislação nacional.

Um porta-voz da Comissão Europeia revelou ao JE que apenas onze países da UE “confirmaram ter feito a transposição total ou parcial da diretiva”, sendo que a maioria desses Estados-membros assinalou o “avanço” da CECE no processo legislativo “tendo em vista a sua conclusão em breve”. Pelas regras comunitárias, todos os países “devem notificar a Comissão da legislação que aprovaram para transpor a diretiva para a legislação nacional”.

Entre esses onze Estados-membros não se encontra Portugal, sabe o JE. Apenas a Grécia, a Finlândia e a Hungria notificaram Bruxelas da transposição total do CECE. Já o Chipre, a Alemanha, a Holanda, a Dinamarca, a França, bem como a Lituânia, a Letónia e Luxemburgo indicaram ter feito a transposição parcial da diretiva. Antes de terminar o período de transição para o Brexit, o Reino Unido também tinha feito a transposição parcial da diretiva.

O porta-voz da Comissão Europeia rejeitou comentar o caso específico de Portugal e não confirmou que o Governo tenha avisado a Comissão Europeia do atraso no processo legislativo da adoção do CECE. Assim, a Comissão Europeia não tem ideia de quando o Executivo português vai avançar com incorporação do código europeu na lei nacional.

Não obstante, Bruxelas “mantém o estreito diálogo com todos os Estados-membros” e, assim que for notificada da adoção da diretiva, “vai verificar de perto se as medidas de execução notificadas transpõem e cumprem corretamente as disposições do CECE”.

O CECE é uma diretiva europeia mais abrangente do que a atual legislação para as comunicações eletrónicas, que pode influenciar novos enquadramentos sobre os contratos de fidelização com os operadores, a gestão do espectro radioelétrico. A diretiva prevê também um enquadramento legal de novas realidades no sector das telecomunicações, como a atividade de plataformas como a Netflix, e a atribuição de novas competências à Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom). Enquanto a transposição não for feita, as novas regras não entrarão em vigor.

O atraso da transposição do Código Europeu das Comunicações Eletrónicas preocupa os operadores, tal como noticiou o JE no dia 29 de janeiro. E a Anacom também não nega impactos regulatórios negativos que o atraso origina.

Fonte oficial do Ministério das Infraestruturas e Habitações, que tutela as comunicações, justificou o incumprimento do prazo com “os diversos estados de calamidade e de emergência, decorrentes da pandemia”, que terão “determinado o atraso” do envio do anteprojeto da transposição, elaborado pela Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) para o Executivo. Mas no site da Anacom, o regulador diz que enviou para o Governo e para o Parlamento o referido anteprojeto em agosto de 2020. A mesma fonte garantiu que “a última parte do anteprojeto da Anacom foi recebida em dezembro”.

Assim, a tutela assegurou que a “transposição do CECE está a ser ultimada e será feita brevemente”. Mas não se comprometeu com uma data definitiva para a concretização da transposição.

O CECE foi criado em 2018 e a transposição era um objetivo do Governo, desde o final de 2019, quando decidiu anular a revisão da atual legislação – o regulador já estava a preparar uma proposta para uma nova Lei das Comunicações Eletrónicas. Assim, o Executivo decidiu que a transposição do CECE iria definir a nova lei para as telecomunicações. A tutela criou um grupo de trabalho no início de 2020, que incluía a Anacom, a Apritel, a Deco e a Secretaria de Estado de Comércio e Serviços e Defesa do Consumidor. Mas os trabalhos terminaram no final do verão de 2020. O Governo decidiu transpor a diretiva dispensando contributos fora do previsto no CECE. Mas a proposta da Anacom inclui contributos de uma auscultação pública prévia, realizada entre novembro de 2019 e janeiro de 2020.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.