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Oceanos e glaciares saem derrotados no combate às alterações climáticas

Os oceanos estão mais quentes, mais ácidos, com menos oxigénio e a perder biodiversidade e o IPCC alerta que a situação pode tornar-se irreversível
29 Setembro 2019, 14h00

Mais inundações, mais tempestades tropicais, menos biodiversidade, menos glaciares, milhões de pessoas que vivem em regiões costeiras em risco. Estes são os traços gerais do novo relatório do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC) que vem deixar fortes alertas sobre o estado atual e futuro dos oceanos e da criosfera, o gelo que cobre o planeta Terra.

O diagnóstico não é animador. De acordo com o Relatório Especial sobre Oceano e Criosfera num Clima em Mudança, divulgado no Museu Oceanográfico do Mónaco, os oceanos têm funcionado como uma “esponja” ao proteger a terra dos efeitos das alterações climáticas, tendo absorvido até hoje cerca de 90% do calor em excesso e acabando por ser vítimas dessa absorção. Até 2100, os oceanos deverão aquecer até quatro vezes e as consequências disso não passam despercebidas.

Ao longo deste século, presume-se que os oceanos enfrentarão “condições sem precedentes”: continuará a haver um aumento de temperatura das águas, ainda mais acidificação, perda de oxigénio, mais ondas de calor marinhas e os fenómenos atmosféricos El Niño e La Niña tornar-se-ão mais frequentes.

O documento, que foi ridigido por 104 investigadores de 36 países diferentes, mostra os benefícios de agir (e a necessidade de o fazer o quanto antes). Os cientistas deixam claro que os oceanos “dependem criticamente de uma redução de emissões ambiciosa e urgente”, coordenada com medidas de adaptação ao cenário atual.

A principal preocupação remete para o aquecimento da água. Oceanos mais quentes alimentam furacões mais fortes e tempestades mais chuvosas. Mas este aquecimento também tem influências menos óbvias para os seres humanos. À medida que a superfície da água aquece, ela fica mais clara, dificultando a mistura com a água fria e rica em nutrientes que fica por baixo. Portanto, a parte superior do oceano estagna, retendo menos oxigênio e menos nutrientes essenciais que sustentam a vida marinha e a sua biodiversidade.

Água mais quente resulta numa subida do nível do mar mais acentuada. De acordo com o relatório, só no século XX, o nível médio das águas do mar subiu cerca de 15 centímetros. Até 2021, esta subida pode ser entre 43 centímetros a 84 centímetros.

Os primeiros afetados dessa subida do nível da água serão as populações que vivem nas zonas costeiras. Cerca de 680 milhões de pessoas vivem em zonas costeiras baixas, e estima-se que esse número possa ascender a mil milhões em 2050. Na região do Árctico, são cerca de quatro milhões de pessoas, sendo que 10% delas são povos indígenas. Juntam-se ainda os 670 milhões que vivem em zonas montanhosas altas. Todas elas ficarão em risco.

Antes de apresentar soluções – redução de emissão de gases efeitos estufa, mais utilização de energia renovável, adaptação das zonas costeiras e desenvolvimento e aplicação de sistemas de alerta em caso de cheias -, o painel aponta os dedos aos governos que se limitaram a fazer promessas vazias e discursos esperançosos e alerta que é preciso tomar medidas hoje para evitar cenários irreversíveis.

O IPCC relembra que isto é um problema que afeta a todos. “Todas as pessoas na terra dependem directa ou indirectamente dos oceanos e da criosfera”, lê-se. Os oceanos cobrem 71% da superfície da Terra e contêm cerca de 97% da água no planeta.

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