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Até que ponto é preocupante a queda histórica da poupança?

Estudo do BPI alerta que baixa taxa de poupança põe as famílias numa situação de “fragilidade” quando houver “tempos conturbados”. Mas frisa também que é uma tendência natural: depois da crise, portugueses fizeram compras que haviam sido adiadas e pagaram empréstimos antecipadamente.
30 Setembro 2019, 07h50

A queda da taxa de poupança de poupança das famílias não dá sinais de inversão. Depois de ter atingido um novo mínimo histórico no ano passado, em que apenas 6,5% do rendimento disponível bruto foi encaminhado para aforro, este indicador continua a deteriorar-se este ano. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de poupança das famílias atingiu 5,9% no ano terminado em junho.

Um estudo do BPI publicado esta semana analisa esta tendência da economia nacional, começando por apontar que a poupança das famílias portuguesas regista uma tendência descendente desde 2001, exceto em 2009 e 2012, períodos de crise económica e financeira.

“O principal motivo apontado pelas famílias portuguesas para poupar é a proteção face a acontecimentos inesperados, ou seja, a poupança por motivo de precaução”. Por isso, conclui o banco, a precaução terá sido a principal razão para o aumento da poupança em 2009 e 2012, períodos marcados por uma elevada incerteza e com as expectativas sobre o mercado de trabalho e o rendimento das famílias a deteriorarem”.

A partir de 2014, refere o estudo, a melhoria das condições económicas e financeiras contribuiu para a melhoria das expectativas das famílias. “Desde então, o consumo tem crescido de forma significativa, excedendo o crescimento do rendimento disponível bruto. De facto, o contexto de menor incerteza, de crescimento económico e de melhoria das expectativas face ao mercado de trabalho permitiram que as famílias avançassem com decisões de consumo que tinham sido adiadas durante o período da crise, especialmente o consumo de bens duradouros (com destaque para os automóveis)”.

Por isso, à medida que as decisões de consumo adiadas no passado vão sendo satisfeitas, “é esperado que o consumo cresça de forma mais gradual”. E como o rendimento disponível bruto deve continuar a recuperar nos próximos anos, “é possível que se assista a uma reposição (ligeira) da poupança das famílias”.

O BPI justifica o ritmo moderado de recuperação da poupança com as condicionantes que as famílias enfrentam, a nível de rendimentos e despesas. Segundo dados do Banco de Portugal e do Eurostat citados no estudo, 68% das famílias portuguesas reportaram dificuldades em fazer face às despesas regulares em 2018, face a 45% na Zona Euro, e 34,7% das famílias não tem capacidade para fazer face a despesas financeiras inesperadas (32,2% na Zona Euro).

“Se a estes fatores juntarmos as questões demográficas, nomeadamente o envelhecimento da população (já que os idosos são um dos grupos etários que menos poupam), é possível afirmar que o aumento da poupança agregada será muito gradual nos próximos anos”, indica o BPI.

O estudo aponta que, “em tempos mais conturbados, a baixa poupança das famílias irá colocá-las numa situação de maior vulnerabilidade face a choques inesperados no seu rendimento”, mas sublinha também que, apesar de haver uma redução da poupança dos particulares, o endividamento tem vindo a diminuir, “com as famílias a pagar antecipadamente os seus empréstimos a um ritmo mais elevado, incentivadas pelo atual ambiente de baixas taxas de juro e de ausência de outros instrumentos de poupança rentáveis”.

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