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Sindicato dos Pilotos chegou a acordo de emergência com a TAP

Sindicato dos pilotos é o primeiro a aceitar as condições da administração e do Governo para um regime de transição dos acordos de empresa, mas ainda têm de passar pela aprovação dos associados. Acordo sobre as medidas de reestruturação da companhia aérea incluem cortes salariais superiores os 25% previstos no plano apresentado em Bruxelas.
TAP Portugal
5 Fevereiro 2021, 11h11

O Executivo e a administração da TAP chegaram a um entendimento com o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) com vista a um “acordo de emergência“, tendo aceitado as condições da administração e do Governo para um regime de transição dos acordos de empresa que terão ainda de passar pelo crivo dos associados em assembleia geral. Acordo, que evita a aplicação de forma unilateral de um regime sucedâneo, pressupõe cortes salariais superiores as 25% previstos no plano de reestruturação, devendo atingir os 45%, e, em contrapartida, uma redução do número de pilotos despedidos

O sindicato numa nota enviada aos seus associados no final da noite desta quinta-feira, 4 de fevereiro confirma o entendimento: “chegámos hoje [quinta-feira] ao final da tarde, em conjunto com a TAP e o Governo, a um acordo de emergência”. O SPAC refere que, a pedido dos seus interlocutores, assumiu “o compromisso de só divulgar os detalhes do acordo após o final das negociações” entre a TAP e o Governo e as outras estruturas representativas dos trabalhadores, “o que se prevê que venha a acontecer nesta sexta-feira, 5 de fevereiro.

A gestão da TAP apresentou a 12 sindicatos um “acordo de emergência” para colmatar o vazio legal que ficou pela suspensão dos acordos de empresa (AE), na sequência de a TAP ter sido declarada empresa em situação económica difícil e da necessidade de renegociar os termos dos novos acordos de empresa ao longo desse período. Mas só cinco prosseguiram com as negociações com vista a um entendimento. Além do sindicato que representa os tripulantes (SNPVAC), as negociações prosseguem também com o Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA), o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Portugal (Sttamp) e o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes, Manutenção e Aviação (Stama).

Recorde-se que o acordo de emergência, que suspende várias cláusulas do AE em vigor, terá efeitos até 31 de dezembro de 2024, ou até à celebração e implementação de um novo AE.

O prazo apontado para fechar os acordos de emergência era domingo, dia 31 de janeiro, mas as negociações têm-se prolongado, tendo decorrido nova maratona de reuniões nesta quinta-feira, 4 de fevereiro, que deverão ainda prolongar-se durante o próximo fim-de-semana.

Após a declaração de empresa em situação económica difícil, que permite suspender cláusulas dos acordos de empresa em vigor ou dos instrumentos de regulamentação colectiva aplicáveis e tomar medidas para cortar nos custos com pessoal, a TAP entregou aos sindicatos propostas de acordos de emergência no âmbito do plano de reestruturação entregue a 10 de dezembro em Bruxelas e que está a ser negociado com a DG Comp (Concorrência) da Comissão Europeia.

A redução de custos com pessoal será de 1,4 mil milhões de euros nos próximos cinco anos 2025, incluindo cerca de 80 milhões por ano relativos a encargos previstos nos acordos de empresa, que serão suspensos, estando em causa perdas de regalias, dias de folga e a evolução nas carreiras.

Tal como o JE noticiou na semana passada, o SPAC propôs à administração da TAP um corte salarial de 45% já este ano, superior aos 25%, previstos no plano de restruturação. Uma proposta inicial que contempla uma redução salarial decrescente durante quatro anos e que desaparece em 2025, ano em que a companhia aérea deverá regressar aos lucros. Pilotos estão, assim, dispostos a aceitar as condições aplicadas na Lufthansa no âmbito do plano de restruturação, com vista a minimizar o despedimento previsto de 500 pilotos.

Na proposta apresentada à administração da TAP, os pilotos propunham um corte salarial de 45% aplicasse este ano, reduzindo-se nos três anos seguintes para 40%, em 2022, 35% em 2023 e 30% em 2024 para regressar ao salário atual em 2025. Com base nesta proposta, a administração da empresa deverá agora rever o número de pilotos que poderão deixar de ser despedidos com base num plano mais agressivo de reduções salariais.

À semelhança do que está previsto no plano de restruturação para o corte salarial de 25%, os pilotos estimam, assim, que o regresso aos lucros leve a uma normalização das remunerações em 2025, ano em que a companhia aérea prevê regressar aos lucros, começando então a pagar as ajudas públicas. Até lá, as contas do Governo apontam para que a TAP perca 6,7 mil milhões de. Só em 2020, o volume de negócios deverá cair 75%.

Os números do plano

Mais de três mil trabalhadores arriscam a sair da TAP nos próximos anos, segundo o plano de reestruturação que já está a ser discutido com a Comissão Europeia e resultou como contrapartida da injeção de 1.200 milhões de euros de fundos públicos na companhia aérea em 2020. Só em contratos não renovados serão 1.259 pessoas (entre janeiro de 2020 e março 2021), fixando-se ainda a redução de mais dois mil efetivos: 500 pilotos, 750 tripulantes de bordo, 450 da manutenção e engenharia e 250 trabalhadores de outras aéreas.

Os sindicatos dos tripulantes, pessoal de terra e técnicos de manutenção têm pedido à empresa e ao Governo o maior recurso a programas voluntários como reformas antecipadas e pré-reformas, licenças sem vencimento, trabalho a tempo parcial conjugado com o regresso ao lay-off e rescisões por mútuo acordo. Já os pilotos propuseram-se a aceitar um corte salarial mais elevado nos primeiros anos do plano do que os 25% propostos com o objetivo de manter os postos de trabalho.

Na ronda de negociações realizadas nas últimas semanas, os sindicatos têm levado para estes encontros contrapropostas que visam diminuir o número de despedimentos no âmbito do plano de reestruturação da TAP que identifica a saída de 2.000 trabalhadores e cortes salariais cortes de 25% a partir de 900 euros, pretendendo conseguir uma redução anual da massa salarial entre 230 a 352 milhões de euros.

Além da redução de 2.000 trabalhadores, o plano prevê a redução de 25% da massa salarial do grupo (30% no caso dos órgãos sociais) e do número de aviões que compõem a frota da companhia, de 108 para 88 aviões comerciais.

No plano entregue em Bruxelas, ao abrigo da Directiva Europeia que regulamenta os auxílios de Estado, o Governo estima que a TAP tenha condições para começar a devolver os apoios do Estado em 2025, mas até lá poderá ter de receber um valor superior a 3,7 mil milhões de euros.

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