Urge entender a ascensão do nacionalismo no espaço da UE. É manifestamente insuficiente reduzir o fenómeno a uma mera expressão de populismo. A construção da UE representou uma reação institucional ao nacionalismo.

Mas, em oposição aos Estados asiáticos fortes com nacionalismos fortes, os seus mentores optaram por uma fórmula redutora das identidades nacionais, sem fronteiras e com Estados de poder reduzido. Propuseram o multiculturalismo como ideologia de referência, tornando o multiculturalismo e o nacionalismo duas ideias em confronto. Contudo, o crescimento do nacionalismo na UE, não só atingiu em cheio as aspirações dos liberais internacionalistas, como evidenciou o fracasso do multiculturalismo.

O multiculturalismo tem sido responsável pelo progressivo enfraquecimento das identidades nacionais, que passaram a ter de competir com uma imensa panóplia de outras lealdades (políticas, culturais, étnicas e religiosas), corroendo o papel agregador das sociedades desempenhado pelo nacionalismo. Em simultâneo, a UE foi incapaz de criar uma ideologia supranacional que se sobrepusesse às ideologias nacionais ou a outras afiliações ideológicas.

A ascendência do nacionalismo na UE está também relacionada com a abertura à imigração muçulmana, que alguns Estados europeus consideram uma ameaça à sua identidade étnica. A evidente dificuldade, se não impossibilidade, de assimilar estes grupos, produziu uma onda de sentimento nacionalista orientado contra a UE, com um tremendo potencial para descredibilizar o seu projeto. A conjugação do fracasso generalizado da assimilação destes grupos com a exacerbação da ameaça do terrorismo islâmico na Europa contribuiu decisivamente para o crescente abandono do multiculturalismo e da política de fronteiras abertas por largas franjas de cidadãos europeus.

Conforme salientado por alguns pensadores, este nacionalismo moderno reúne algumas características que o diferenciam dos nacionalismos do século XIX. Argumentam, que ao contrário da versão anterior, o nacionalismo moderno é iminentemente defensivo e contra as elites. Visa defender as nações contra as ameaças de natureza económica, social, cultural e demográfica nascidas no seio dessas sociedades.

Para os novos nacionalismos europeus, as grandes ameaças são de natureza interna e não externa. Não se trata de um nacionalismo expansionista. Este argumento coloca-nos perante um outro problema igualmente novo: a exacerbação dessas divisões políticas e culturais, acompanhada pela incapacidade de os governos gerirem os inerentes conflitos, corre o elevado risco de desembocar em confrontações civis sectárias e violentas.

Por outro lado, os grupos sociais mais afetados pelo estado letárgico da economia europeia, vítimas de uma globalização que já não é conduzida pelo ocidente, passaram a incorporar a legião nacionalista contra a UE. Os tempos que se avizinham poderão ser muito difíceis. Segundo alguns analistas, a Europa poderá encontrar-se no dealbar de uma crise económica, social e cultural causada pela globalização que escapou ao controlo do ocidente. A concretizar-se este cenário, as mudanças sociais a operar nas sociedades europeias serão profundas e duras. Vão necessitar de solidariedade social e do espírito unificador que só o nacionalismo consegue mobilizar.