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Biden deixa de apoiar sauditas na guerra do Iémen

É um poderoso aviso de que a Casa Branca está empenhada em acabar com o legado da política externa da administração Trump. Uma decisão que importa a todo o Médio Oriente e que é uma boa notícia para o Irão.
5 Fevereiro 2021, 17h40

O presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou o fim do apoio dos Estados Unidos às operações ofensivas lideradas pelos sauditas no Iémen, como parte de uma ampla reformulação da política externa americana. No seu primeiro discurso sobre política externa, Biden sinalizou que os Estados Unidos não seriam mais aliados inquestionáveis ​​das monarquias do Golfo. E anunciou ainda um aumento de mais de oito vezes no número de refugiados que o país aceitará, tendo também declarado que vai alterar a postura para com o presidente russo, Vladimir Putin, havia.

“A América está de volta”, declarou Biden, para enfatizar que “A diplomacia está de volta ao centro de nossa política externa”.

Sobre o Iémen, Biden disse que “Essa guerra tem que acabar”, explicando que a venda de armas relevantes com destino naquele cenário também acabariam. No entanto, disse que os Estados Unidos continuarão a fornecer apoio defensivo à Arábia Saudita contra ataques de mísseis e drones das forças apoiadas pelo Irão. As forças norte-americanas também continuarão as operações contra a Al Qaeda na Península Arábica.

A fim de reconstruir a “liderança moral” norte-americana, Biden disse que também restauraria o programa de refugiados e anunciou uma ordem executiva que aumentaria o número de refugiados aceites no primeiro ano fiscal do governo Biden-Harris para 125 mil, muito mais que os 15 mil no governo Trump.

O distanciamento entre Washington e Riade é uma das reversões mais espetaculares da agenda de Donald Trump, mas também marca uma rutura com as políticas de Barack Obama, que havia apoiado a ofensiva saudita no Iémen, embora mais tarde ele tenha procurado impor restrições à sua expansão.

Trump e seu secretário de Estado, Mike Pompeo, trataram a Arábia Saudita e o seu príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, como um grande aliado na campanha para paralisar o Irão. Para esse fim, Pompeo usou poderes de emergência para evitar o Congresso e manter o fluxo de fornecimento de armas para o Golfo.

O sucessor de Pompeo, Tony Blinken, disse entretanto que já fez mais de 25 ligações introdutórias para homólogos em todo o mundo, e o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita não esteve entre eles.

A notícia é um bom indício para o Irão – que se encontra numa fase de ‘pré-namoro’ com a administração Biden, insistindo por todos os meios para que os Estados Unidos regressem ao perímetro do acordo nuclear assinado em 2015 por Barack Obama. De algum modo, o afastamento em relação a Riade quer dizer que Joe Biden não coloca toda a influência de Washington numa deriva unicamente centrada em Teerão.

Os analistas tinham  previsto que a influência saudita na Casa Branca iria necessariamente baixar com a entrada de Joe Biden, mas o facto de o novo presidente ter inaugurado a sua agenda para o Médio Oriente com o Iémen – ou seja, com um assunto que implica diretamente o Irão – é um poderoso indicador de que muita coisa está em mudança. Uma boa notícia para o Irão, uma má notícia para Israel – que se queixa desde 20 de janeiro do potencial de violência que existe para a região se a administração norte-americana alterar profundamente a sua relação com Teerão.

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