No dia em que o primeiro-ministro, António Costa, agradeceu publicamente, em plena Web Summit, o investimento da Nokia em Portugal, salientando a importância que várias tecnológicas internacionais têm atribuído ao país, o Jornal Económico falou com o Chief Technology Officer da Devoteam, Philippe Bournhonesque, que foi à cimeira ligada à tecnologia moderar um painel sobre uma dos desafios tecnológicos mais pertinentes da atualidade: a inteligência artificial (IA).
O CTO da multinacional francesa Devoteam, que detém 58% da empresa portuguesa Bold, revelou ao JE que, atualmente, “apenas 15% das empresas implantam inteligência artificial” nos suas atividades e nos seus processos operacionais. Pelo que Bournhonesque haverá “uma falsa perceção” de que a aposta em IA não é necessária, apesar de “existirem use cases em todas as indústrias de que a IA pode ajudar”.
“Há desafios, mas nós temos de formar as pessoas”, disse.
Mas qual é a importância efectiva da inteligência artificial atualmente? A questão passará impreterivelmente no que se denomina por data (informação codificada), uma vez que a capacidade de tratar, analisar e interpretar dados é limitada quando a complexidade dos mesmos tem aumentado exponencialmente, depreende-se das explicações de Philippe Bournhonesque.
O especialista explicou que o recurso a IA assenta no investimento feito na tecnologia, na existência de data e nas capacidades de tratar dados. “A IA pode ajudar a saber o que acontece, analisando weak signals (sinais fracos) na data”, explicou. Quer isto dizer que ao recorrer à inteligência artificial é possível identificar pequenos sinais do mercado ou de comportamento dos consumidores que à primeira vista são indetermináveis.
Acresce que “50% dos dados são desconhecidos ou não analisados”, salientou Bournhonesque. O que para o CTO da Devoteam representa, simultâneamente, um desafio e um motivo para que as empresas apostam em IA. Basta para isso, “construir uma plataforma e uma infraestrutura” para as empresas.
“Acredito que todas as indústrias podem retirar proveito da IA, sobretudo pelo que é conhecido como customer experience [experiência do consumidor]. Há o famoso chatbot [ferramenta de resposta automática utilizado nas empresas para responder em tempo real a questões dos seus clientes, interpretando apenas dados de texto e voz], mas estamos apenas no início”.
Apesar de a IA ser uma tecnologia capaz de criar resultados positivos nas operações da pessoas, sobretudo pela seu contributo na transformação digital nas sociedades atuais, há também a outra face da questão. Isto é, onde fica a ética desta tecnologia? “Toda a tecnologia tem uma boa maneira de ser usada e uma má forma de ser aplicada”, respondeu.
“Se um governo quiser usar IA para espiar uma sociedade, pode fazê-lo. Mas – talvez – a sociedade pressione para que isso não aconteça”, acrescentou. No que respeita a ética, “as empresas estão focadas nessa questão” e a prova é que “quando começam a trabalhar em IA têm de analisar o seu modelo e verificar se é ético ou suspeito”.
Contudo este é, como classificou Philippe Bournhonesque, “um research topic” (um assunto ainda em fase de exploração), por ser “muito difícil de definir o que é ou não é um bom modelo de IA”.
“Há um algoritmo para o reconhecimento facial, que analisa os rostos de pessoas brancas mas não o faz para as pessoas negras. Porquê? porque a base de dados usada para criar o modelo de reconhecimento facial tem muito poucas pessoas negras”, exemplificou.
Relação da Bold com inteligência artificial “está no início”
Em Portugal, no caso da Bold, agora sob controlo do grupo Devoteam (por isso a insígnia Bold by Devoteam), a inteligência artificial “está no início”. Ainda assim, o peso da operação portuguesa dentro do grupo é bastante. Entre as empresas da multinacional Devoteam, a operação portuguesa só está atrás de alemães e franceses. “Estamos a criar novos serviços do grupo a partir da Bold”, sublinhou o CTO.
Foi há um ano que a Devoteam, uma multinacional que aposta na transformação digital, comprou 58% da consultora tecnológica de origem portuguesa, Bold. Um ano depois, “o balanço é muito positivo”.
“Primeiro pelas condições de mercado – é importante, mas não é decisivo. Depois pelas pessoas muito criativas e abertas a novas ideias. E também porque os portugueses falam inglês corretamente”. Assim justificou Bournhonesque a sua satisfação com a operação da Bold.
Mas a entrada na gestão da Bold também representa uma oportunidade de futuros negócios, pelo “ecossistema empresarial português que está a crescer”. Neste ponto, Bournhonesque lembrou que empresas globais como a Google, a Bosch e a Siemens já estão no mercado português e estão “cosntruir equipas tecnológicas fortes”.
“Nós já trabalhamos com elas na Alemanha, por exemplo, e agora esperamos alargar essa relação aqui em Portugal”.
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