[weglot_switcher]

Madrid tenta aplacar contaminação do separatismo no exterior

Ofensiva diplomática em vários países europeus e americanos terá surtido efeito a dias das eleições.
8 Novembro 2019, 09h30

O separatismo – tanto o catalão como o basco – tem sido desde sempre uma fonte de complicações para os governos de Madrid no exterior. Ciente disso mesmo, o executivo do socialista Pedro Sánchez colocou em marcha uma estratégia de controlo dos efeitos colaterais da crise catalã – que, sabia-se, iria ocorrer em força a partir do momento em que fossem tornadas públicas as sentenças de prisão que o Supremo Tribunal lançou sobre os separatistas que estavam em julgamento.

O governo levou por diante intensa atividade em várias geografias fora de Espanha, com cerca de uma centena de presenças de altos funcionários em vários órgãos de comunicação social um pouco por todo o mundo, ao mesmo tempo que organizou cerca de 20 eventos públicos que serviram para evidenciar o caráter democrático de Espanha – a que acrescentou discretos avatares diplomáticos.

Segundo os analistas, o próprio tema da transladação do corpo do ditador Francisco Franco pode ser observado nessa ótica: com a decisão, Pedro Sánchez evidenciou, por um lado, que Espanha não vacila no que diz respeito à defesa da democracia e, por outro, que não é uma crise interna – ainda por cima uma crise que toca nos fundamentos do Estado – que é matéria suficiente para fazer o governo central desistir daquilo que considera ser um imperativo democrático. O Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol decidiu mesmo monitorizar essa sua decisão – até porque sabe de antemão que os responsáveis pelos ideais separatistas fazem precisamente o mesmo em termos de exposição dos seus argumentos no exterior. Segundo a imprensa espanhola, o governo central ganhou esta batalha no exterior: o ministério contabilizou uma centena de aparições externas favoráveis ​​à leitura que o governo faz da crise, enquanto os independentistas alcançaram apenas 47 posições que lhe são favoráveis.

A Europa (com Alemanha, Reino Unido, França, Bélgica, Holanda, Itália e Suíça como pontos principais) e, em menor grau, a América (Argentina, Brasil, Estados Unidos e Canadá) têm sido pontos fulcrais desta ‘movida’ diplomática. E os resultados assinalados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros parece confirmar que os resultados são os esperados. É que a ‘vitória’ do governo contrasta com uma contagem semelhante feita com base no julgamento dos independentistas no Supremo Tribunal Federal: nessa altura 40 posições eram favoráveis aos presos e apenas 33 se aproximavam do governo.

Todo este frenesim no exterior de nada serviu para acalmar a crise interna que continua principalmente nas ruas de Barcelona. Os independentistas já fizeram saber que não irão deixar as ruas pelo menos até às eleições, marcadas para 10 de novembro, e que querem ter uma palavra a dizer na formação do próximo elenco do executivo.

O governo está entretanto apostado, segundo os analistas, em contribuir para o crescimento das manifestações dos ‘contras’, levadas a cabo por catalães que recusam a independência como o caminho a seguir e preferem o aprofundamento da autonomia (ou mesmo a manutenção do que ela é atualmente). Resta saber se o rastilho da violência se apagará ou não em 10 de novembro.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.