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Sucesso da OPA sobre a SAD pode “permitir ao Benfica tomar decisões sem a realização de assembleias gerais”

O Benfica lançou uma oferta pública e parcial sobre 28,06% da sua SAD. A contrapartida da oferta do clube corresponde a um valor total máximo da oferta de 32,28 milhões de euros e um prémio de 81% sobre o valor da cotação no mercado. Analistas apontam que a operação poderá ser uma forma de a direção de Luís Filipe Vieira concentrar em si mais poder.
Cristina Bernardo
19 Novembro 2019, 11h39

A oferta pública e parcial que a Sport Lisboa e Benfica SGPS lançou sobre as ações da SAD do clube da Luz, com uma contrapartida de cinco euros por ação para adquirir 28,06% que não detém, pode representar uma vontade da direção de Luís Filipe Vieira de vir a tomar decisões sem ter de as escrutinar em assembleias gerais, segundo analistas de mercado ouvidos pelo JE. O Benfica detém 66,9% do capital da SAD, mas só com um mínimo de 95% da SAD é que poderá tomar decisões sem precisar do aval dos acionistas.

Ao Jornal Económico, o analista e junior account manager da XTB, André Pires, diz que “embora a intenção por trás da operação seja difícil de discriminar, pode esta manobra permitir ao clube tomar decisões sem necessidade de realização de assembleias gerais [de acionistas]”.

Porquê? “Para não ser necessária a realização de assembleia geral, seria preciso a detenção de 95% da SAD, o que de facto parece ser o objetivo”, complementa.

Contudo, o JE apurou que o objetivo do Benfica com esta oferta pública parcial não é superar uma participação acionista da SAD superior a 95%, visto que nessa condição a Sport Lisboa e Benfica SGPS seria forçada a lançar uma OPA sobre 100% da sociedade anónima. Esse não será um objetivo para o Benfica, que pretenderá continuar cotado em bolsa para poder emitir obrigações. Por isso, a operação de procura de ações visa ficar abaixo dos 95%.

Depois da transferência do Estádio da Luz e da Benfica TV da SAD dos encarnados para a Benfica SGPS, o reforço da posição acionista segue o programa definido pela direção benfiquista.

“A lógica [desta operação] é o reforço da SLB SGPS na Benfica SAD, ficando com maior percentagem”, indica o analista da Infinox Nuno Caetano ao JE, por sua vez.

O Benfica já é o acionisa maioritário da SAD – “não se antevê que essa posição esteja em risco” -, e para Caetano, a OPA parcial do Benfica à sua própria SAD  “poderá servir também para a valorização abrupta das ações por parte da SLB SGPS, e a consequência disso é a subida superior a 70%, estando a negociar em máximos de julho de 2007”.

De acordo com o comunicado no site da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) na segunda-feira à noite, “a oferta é parcial e voluntária e tem por objeto 6,455,434 ações nominais e escriturais de categoria B, que são ordinárias, no valor nominal de 5 euros, representativas de 28,0671% da sociedade visada”.

A percentagem de direitos de voto em assembleias gerais da SAD, detida pela Sport Lisboa e Benfica SGPS, é atualmente 66,9329%, pelo que no caso da aceitação da totalidade da oferta, apenas 5% do capital ficaria na posse de outros acionistas.

Por outro lado, esta operação poderá representar um benefício junto dos acionistas. “De facto, cinco euros [valor da oferta por cada ação] é quase o dobro do preço de fecho da sessão de segunda-feira”. As ações da Benfica SAD fecharam a sessão de segunda-feira a subir 0,73% para os 2,76 euros, o que se traduz numa oferta que pode representar um prémio de 81,16% face ao valor cotado.

“No entanto, como em qualquer clube, o que conta não é tanto o valor fundamental das ações. Esta OPA irá impulsionar, ou sobrevalorizar, as ações da SAD, bem como financiá-la”, salientou André Pires.

Já Nuno Caetano não estranha o valor da oferta, “na medida em que esse foi o preço pelo qual os acionistas adquiriram as ações aquando do IPO”.

Apesar da OPA, os títulos do Benfica continuam em negociação. Para o analista André Pires, essa decisão “poderá potenciar os ganhos, na medida em que a OPA (a cinco por ação) ocorrerá em simultâneo com a negociação de títulos, elevando o seu preço”.

“Anteriormente verificámos outras OPA à SAD do Benfica, em que a negociação foi suspensa devido à grande oscilação do preço de negociação”, recorda o analista da Infinox, que remete qualquer esclarecimento nesse sentido à CMVM.

[Informação atualizada pela última vez pelas 17h00]

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