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Imperial Brands aposta em Portugal para crescer

Um estudo da multinacional, em Portugal 72% dos fumadores nunca tentaram tabaco eletrónico, o que representa um potencial margem assinalável de negócio, apesar das dúvidas sobre os riscos de saúde.
13 Dezembro 2019, 09h30

Portugal é uma das apostas de futuro para a Imperial Brands, holding do grupo britânico Imperial Tobacco, um dos maiores grupos no setor do tabaco a nível mundial, que está a fazer a sua transição do tabaco tradicional para formas alternativas, como o tabaco eletrónico. Apesar da pequena dimensão do mercado nacional, em comparação com outros na Europa ou do outro lado do Atlântico, no mercado nacional existe ainda uma grande parte dos fumadores tradicionais que não experimentou este tipo de produtos.

Segundo os mais recentes estudos da Imperial Brands, a que o Jornal Económico teve acesso, em Portugal, 26% da população tem o hábito de fumar (smoking prevalence) cigarros tradicionais, nem que seja uma vez por dia. Destes, cerca de 6% pararam ou tentaram através de alternativas como as pastilhas para deixar de fumar e 8% experimentaram ou tentaram os cigarros eletrónicos. Mas 72% deste universo de fumadores nunca tentaram o cigarro eletrónico ou vaping.

O que leva Grant O’Connell, diretor científico da Nerudia, participada da Imperial Brands para o segmento de negócios do tabaco eletrónico, a dizer que “Portugal é uma grande oportunidade para o mercado de cigarros eletrónicos e para nós”, prometendo para breve novidades da empresa no mercado português.

A Nerudia foi fundada em 2014 por David Newns e por Chris Lord. Foi comprada pela Imperial Brands em 2017, mas Newns continua ligado ao projeto. “A Nerudia surgiu de uma ideia de criar uma plataforma para produção de cigarros eletrónicos que proporcionasse o consumo de nicotina por via oral (oral nicotine delivery)”, explicou o fundador da Nerudia ao Jornal Económico. “O vaping não contém tabaco, não requer combustão e não gera fumo. É consumido através de equipamentos carregados com electricidade que proporcionam um aerossol. O tabaco eletrónico foi inventado por um engenheiro chinês, Hon Link, em 2003. Neste momento, já estamos na segunda geração desta indústria que, segundo as últimas estimativas já vale cerca de 20 mil milhões de dólares [cerca de 18 mil milhões de euros ao câmbio atual] a nível global”, destaca David Newns. As estimativas apontam para a existência de um total de 40 milhões de consumidores de tabaco electrónico em todo o mundo. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, o número de dispositivos vaporizadores disparou desde os sete milhões em 2011 para os 41 milhões em 2018. Só a Nerudia, já colocou no mercado 14 milhões de vapers.

“Estou a trabalhar no mundo dos cigarros eletrónicos desde 2011. O grande desafio é conseguir fazer a transição para produtos mais saudáveis. Como é que levamos a tecnologia em diante para conseguir atrair mais fumadores de tabaco tradicional para o tabaco eletrónico. Para conseguir esse objetivo, o tabaco eletrónico tem de ter uma grande variedade de soluções para os fumadores. Porque fumar é uma questão complexa. Não basta uma solução, temos de fornecer sabores diferentes. Não se trata de substituir um produto por outro produto”, defende David Newns.

Do lado do consumidor, as dúvidas sobre este tipo de produtos são ainda muitas e recorrentes. O fundador da Nerudia admite o problema, mas afasta riscos de saúde ou de segurança, afastando-se de outra realidade alternativa ao tabaco tradicional, o tabaco aquecido: “Claro que temos muito trabalho a fazer, mas é preciso dizer que está comprovado que o tabaco eletrónico é 95% mais seguro que o tabaco tradicional”. “Reconhecemos que optar por tabaco eletrónico é mudar as experiências de um fumador de uma forma dramática, mas isso pode ser conseguido com o esforço da comunidade científica”, defende o cofundador da Nerudia, acrescentando que “ a ciência tem estado a concluir que esta é uma opção segura, apesar das crescentes notícias negativas dos media sobre este tipo de produtos”.

E a questão da segurança? Newns responde: “nós temos um sistema fechado, que garante maior segurança, uma vez que as cápsulas (pods) são pré-abastecidos; fazemos um disclosure total sobre todos os ingredientes químicos que compõem os nossos líquidos de vaping, mas muitas empresas independentes do setor não o fazem” (ver texto ao lado).

Para o futuro, “a estratégia da empresa é tentar passar dos 14 milhões [de clientes] para mil milhões e encontrar novas soluções, novos produtos”. E Newns não enjeita críticas: “Houve Governos que baniram este tipo de produtos, como é o caso da Tailândia. Há outros, como o Governo do Reino Unido, que têm aprovado a substituição dos cigarros tradicionais pelo vaping. Na Tailândia, a taxa de fumadores de tabaco tradicional baixou apenas 1%; no Reino Unido, os fumadores de tabaco tradicional já são só 5% da população”, alerta David Newns.

Abid Khan-Lodhi é considerado um dos génios da Nerudia, tendo experiência profissional em alguns dos maiores grupos produtores de FMCG – Fast Moving Consumer Goods, como a Unilever, Dyson ou Reckitt Benckiser. É o responsável pelos NGP – Next Generation Products, ou seja, os produtos do futuro.

“Estamos a trabalhar na conectividade dos dispositivos, no fabrico em 3D, com impacto instantâneo na boca, para reforçar a nossa venda orientada. Temos protótipos que estão a ser testados, estamos a validar os conceitos, a fazer testes junto dos consumidores, estamos a afinar os produtos. Estamos também a desenvolver uma app para indicar o volume de líquido existente na cápsula inserida no vaporizador, verificar o estado da bateria, e que permitirá bloquear o dispositivo caso se tenha esquecido dele em algum lugar. É um serviço que está ainda em testes. Poderá ir para o mercado em 2020, ainda com mais utilidades, como indicar os locais onde o consumidor pode comprar recargas de líquido”, revela Abid Khan-Lodi.

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