A dimensão da vantagem de Marcelo Rebelo de Sousa na sondagem realizada pela Aximage para o Jornal Económico na qual foi perguntado aos portugueses em que candidato votariam se as eleições presidenciais, que irão realizar-se em janeiro de 2021, fossem realizadas agora pode resumir-se numa única frase: o Chefe de Estado tem, com 69,6%, cinco vezes mais intenções de voto do que a soma dos outros cinco possíveis candidatos que foram apresentados aos entrevistados, o que faria desse ato eleitoral pouco mais do que uma mera formalidade.
Sendo verdade que até hoje nenhum Presidente da República eleito no pós-25 de abril foi derrotado ao candidatar-se a um segundo mandato, com Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva a conseguirem manter-se no Palácio de Belém com maiores (Cavaco Silva não foi além de 52,9% dos votos em 2011) ou menores dificuldades (Mário Soares obteve 70,35% em 1991), os 69,6% de intenções de voto que a sondagem atribui a Marcelo Rebelo de Sousa tornam-se ainda mais relevantes na medida em que os 12,0% de inquiridos que não votariam nessas presidenciais são três vezes mais do que aqueles que escolheriam o segundo possível candidato com maiores intenções de voto: Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP – ainda que possa deixar de o ser no XXI Congresso do partido, marcado para novembro de 2020 -, com apenas 4,0%.
A vantagem de Marcelo Rebelo de Sousa é esmagadora em todo o eleitorado, mas é entre aqueles que votaram PS nas últimas legislativas que atinge maior nível de apoio, com 83,9%, o que superaria os 75,9% de eleitores do PSD que votariam no atual Chefe de Estado (ex-líder desse partido). E também contaria com 68,1% daqueles que votaram no Bloco de Esquerda, 60,9% de quem optou por outros partidos (incluindo o CDS-PP, PAN, Chega, Iniciativa Liberal e Livre) ou votou branco e nulo, e 51,1% dos eleitores da CDU.
Apesar dessa vantagem, o eleitorado da CDU é o único que se apresenta relativamente dividido, pois 32,0% apoiariam uma eventual candidatura de Jerónimo de Sousa, enquanto outros 10,5% dariam o voto ao fundador do Bloco de Esquerda (e atual conselheiro de Estado) Francisco Louçã. Curiosamente, a percentagem daqueles que apoiariam Louçã é inferior entre os eleitores do Bloco de Esquerda (9,5%), sendo a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes aquela que mais intenções de voto consegue entre os bloquistas (exceto o atual Presidente da República), com 11,6%, entre os nomes de potenciais candidatos.
A falta de alternativas claras a Marcelo Rebelo de Sousa entre os eleitorados de outros partidos também é evidente no PSD. Apesar de a lista de nomes elaborada pela Aximage e pelo Jornal Económico incluir dois ex-militantes (um dos quais ex-líder do partido), e das divergências entre a liderança social-democrata e o Chefe de Estado, a verdade é que apenas 7,3% daqueles que votaram no PSD nas legislativas escolheriam André Ventura, deputado único e presidente do Chega, se as presidenciais de 2021 decorressem agora, e o resultado de Pedro Santana Lopes, líder do Aliança, seria ainda pior, com apenas 3,5%, menos do que aqueles que prefeririam ver Ana Gomes em Belém (5,1%).
André Ventura consegue também ser o segundo possível candidato presidencial com maiores intenções de voto entre quem votou branco, nulo ou nos outros partidos, atingindo 9,6%, bastante à frente de Ana Gomes (4,3%), ainda que a tendência mais relevante detetada pela sondagem da Aximage seja o elevado peso daqueles que não votariam, chegando a 16,6% enquanto tal percentagem varia entre 2,4% nos eleitores do Bloco de Esquerda e 6,4% nos da CDU.
Mais velhos com Marcelo
Sendo dominante a posição do atual Presidente da República, que tem protelado o anúncio da recandidatura devido a problemas de saúde – prometendo uma definição até outubro de 2020 -, ainda o é mais nos eleitores mais velhos: atinge 80,2% entre aqueles que têm 65 anos ou mais. Por outro lado, entre os mais jovens (de 18 a 34 anos) não vai além de 58,4%, ainda assim a longuíssima distância de Jerónimo de Sousa, com 5,8% num universo de eleitores em que um em cada quatro entrevistados disseram que não votariam ou que não sabem e não respondem.
Mais uma vez, nenhum dos políticos apontados como potenciais adversários do atual Presidente da República obteve fortes apoios em qualquer escalão etário. Nas segundas posições, além do secretário-geral do PCP entre os mais jovens, André Ventura obteve 5,9% dos eleitores entre 35 e 49 anos, Francisco Louçã chegou aos 6,5% naqueles que têm entre 50 e 64 anos, e Ana Gomes atingiu 3,5% entre os que têm 65 ou mais – sendo também esse o melhor eleitorado para Santana Lopes, com 2,5%.
A pouco mais de um ano das presidenciais de janeiro de 2021, Marcelo Rebelo de Sousa, que terá então 72 anos, está numa corrida consigo próprio, tendo a certeza que pode tornar-se o mais velho reeleito desde 1976: Ramalho Eanes tinha apenas 54 anos em 1980, Mário Soares contava 66 anos em 1991, Jorge Sampaio chegara aos 61 anos em 2001 e Cavaco Silva tinha 71 anos em 2011.
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