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CGD lucrou 492 milhões de euros no ano passado, menos 36,5% que em 2019

O resultado líquido consolidado equivale a uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) de 6,1% que compara com 9,8% em 2019.  Banco liderado por Paulo Macedo cumpriu quase todo o plano estratégico que teve em 2020 o seu último ano. Só falhou o ROE e o Cost-to-Income, por causa da pandemia.
Cristina Bernardo
11 Fevereiro 2021, 18h00

A Caixa Geral de Depósitos apresentou nesta quinta-feira o seu resultado líquido consolidado de 2020. O banco liderado por Paulo Macedo reportou um lucro consolidado de 492 milhões de euros, o que traduz uma queda de 36,5% justificada pelo reforço preventivo de imparidades que impactou nos resultados correntes (309 milhões).

O resultado líquido consolidado equivale a uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) de 6,1% que compara com 9,8% em 2019.

Este valor inclui um resultado extraordinário de 51 milhões de euros (depois de impostos) decorrentes de ganhos atuariais nas responsabilidades com benefícios pós-emprego (fundo de pensões e plano médico). Sem considerar esse resultado e os custos de reestruturação incorridos com a redução do quadro de pessoal e o encerramento da Sucursal de Espanha, o resultado líquido corrente atinge 450 milhões de euros, o que traduz uma redução de 29% face ao resultado corrente de 2019, atingindo um ROE de 5,6%, superior à média da banca portuguesa e europeia.

A margem financeira foi impactada pela evolução do stock de crédito e pelo baixo nível das taxas de juro. A receita com margem caiu 9,4% no consolidado. “A margem financeira diminuiu 106,3 milhões de euros (-9,4%) face ao mesmo período do ano anterior, impactada pelos níveis historicamente baixos das taxas de juro e pela amortização antecipada de crédito a entidades públicas que se verificou em junho e dezembro de 2019”, diz o banco.

Já nas comissões líquidas, foi registado um aumento marginal (+0,1%) face ao período homólogo, enquanto os resultados de operações financeiras registaram um valor positivo de 49,7 milhões de euros, valor que compara com 82,5 milhões em 2019.

Os outros resultados de exploração tiveram um decréscimo significativo, ficando 95,5 milhões de euros (-73,1%) aquém do valor registado no período homólogo de 2019, “tendo a contabilização em 2019 das mais-valias decorrentes da alienação do imóvel da Rua do Ouro justificado grande parte deste diferencial”.

Em 2020 o contributo da atividade doméstica para o resultado líquido do Grupo CGD foi de 398,5 milhões euros, o que representa uma redução de 32,7% face ao ano anterior. Para esta quebra no resultado líquido contribuiu, por um lado, a evolução dos outros resultados de exploração que totalizaram 57,3 milhões de euros no período de janeiro a dezembro de 2020 o que representa uma redução de 100,6 milhões face ao ano anterior, em grande medida devido à contabilização no primeiro trimestre de 2019 da mais-valia com a venda do imóvel na Rua do Ouro.

Por outro lado, também a reversão, já no segundo trimestre de 2019 de imparidades constituídas em 2017 para a participação no BCG Espanha e no Banco Mercantile (África do Sul) impactou negativamente a evolução do contributo da atividade doméstica para o resultado do Grupo.

Em Portugal a receita da margem financeira e os rendimentos de instrumentos de capital caíram 60,1 milhões de euros e 12,9 milhões respetivamente. “Em 2020, para fazer face a uma eventual degradação da carteira de crédito, decorrente do contexto atual, as imparidades de crédito líquidas de reversões registaram um aumento de 184,8 milhões face a 2019”. Os resultados de operações financeiras registaram uma redução de 15,3 milhões de euros, enquanto as comissões verificaram um acréscimo de 11,2 milhões de euros face ao ano anterior, “sustentado pela maior colocação de seguros e fundos de investimento, uma vez que as comissões associadas a serviços bancários tiveram uma redução de 7 milhões de euros (-2,3%)”.

Os contributos para o resultado líquido da atividade consolidada foram afetados pelo reforço de imparidades preventivas e pela alteração no perímetro de presenças internacionais, explica o banco.  O contributo das subsidiárias internacionais para o resultado consolidado caiu 49% para 93 milhões de euros.

O banco recebe o contributo dos resultados do Banco Nacional Ultramarino (Macau); do Banco Comercial e de Investimentos (Moçambique); do Banco Caixa Geral – Angola; da sucursal de França; da sucursal de Timor; e do Banco Interatlântico (Cabo Verde), e outros.

A CGD revela que o custo de risco de crédito atingiu 0,33%, fruto do reforço de imparidades e provisões em 309 milhões de euros por antecipação dos efeitos da pandemia Covid-19 na qualidade do crédito.

Os custos de estrutura consolidados caíram -12,4% para 835,4 milhões de euros, e na actividade doméstica a queda foi de -12,8% para 630,8 milhões.

Os custos de estrutura recorrentes apresentam uma redução de 8% face a 2019, refletindo uma melhoria nos níveis de eficiência evidenciada pelo rácio cost-to-income recorrente de 49,8% na atividade doméstica.

Nos indicadores do balanço, o banco revela que os depósitos de clientes aumentaram 6,8 mil milhões de euros, evolução essencialmente justificada pela captação da CGD Portugal, impulsionado pelo aumento da taxa de poupança das famílias.

O stock de crédito a empresas em Portugal (excluindo os sectores de construção e imobiliário, onde se concentra a redução de NPL) cresceu 2,7%.

Na produção de crédito à habitação a CGD manteve a tendência de aumento da quota de produção que atingiu 22,4% em 2020 e 24,5% no último trimestre, alcançando-se na produção anual um crescimento de 12% face a 2019.

O crédito bruto a empresas ascendeu a 15.761 milhões de euros e a CGD destaca o crescimento do crédito a empresas em Portugal (excluindo os sectores de construção e imobiliário) de 234 milhões de euros (+2,7%).

Os rácios de capital atingiram 18,3% no capital core (CET1) e 20,9% no capital total.

CGD vai distribuir dividendos

Seguindo a recomendação do BCE, irá ser proposta à Assembleia Geral a distribuição de dividendos referentes a 2020 num valor correspondente a 20 pontos base do rácio CET1, o que equivale acerca de 85 milhões de euros, anunciou o banco.

Os rácios de capital após dedução do dividendo projetado situam-se em 18,1% no capital core (CET1) e 20,7% no capital total, situando-se acima da média dos bancos da zona euro.

Qualidade da carteira de crédito

O banco liderado por Paulo Macedo destaca a melhoria da qualidade de ativos, com o rácio NPL líquido de imparidades totais a atingir os 3,9% e o reforço da cobertura total por imparidades para 98%.

“Continuação na melhoria da qualidade dos ativos, com o rácio de Non-Performing Loans a reduzir para 3,9% o que, a par do reforço de imparidades, permite atingir um rácio de NPL líquido de imparidades de apenas 0,1% (se consideradas todas as imparidades de crédito)”.

No que toca a imóveis detidos para venda, a CGD diz que mantém tendência de redução e reforço da cobertura. Se em setembro tinha 500 milhões de euros em imóveis recebidos em dação e disponíveis para venda, em dezembro esse valor é de 471 milhões o que representa uma queda de 16% face a 2019. O rácio de cobertura desses imóveis por imparidades é de 52%.

Sobre a execução em 2020 do Plano Estratégico assinado com a DG Comp Europeia em 2017, a Caixa afasta-se no que toca à meta da rentabilidade (ROE acima de 9%), devido ao reforço de provisões e imparidades e meta de ter em 2020 um cost-to-income corrente abaixo de 43%. Já que teve um rácio de 49,8% em 2020.

O banco cumpriu os objetivos de gestão para 2020, no que toca ao rácio de NPL (non-performing loans) abaixo de 5%. Mas o banco tinha 67.070 contratos de crédito em regime de moratória, totalizando 5.992 milhões de euros.

As moratórias têm como limite de duração o fim de setembro de 2021.

Outra meta do plano estratégico da CGD era atingir em 2020 um rácio de CET1 (fully implemented) acima de 14% e o banco ultrapassou essa meta.

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