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Debate: Hillary chama racista a Trump

Durante hora e meia, os dois candidatos trocaram argumentos e a democrata revelou maior domínio dos diversos temas abordados.
Jonathan Ernst/Reuters
27 Setembro 2016, 04h47

O primeiro debate relativo às presidenciais norte-americanas de 8 de novembro, entre Hillary Clinton e Donald Trump, ficou marcado pelo momento em que a democrata chamou “racista” ao republicano e pelas perguntas dirigidas a propósito da declaração de impostos que o rival não apresenta, nem justifica por que razão não o faz.

“Começou a sua carreira política com a mentira racista de que o primeiro presidente negro dos Estados Unidos não nasceu neste país. E insistiu ano após ano”, disse Hillary, recordando algo do passado que a imprensa norte-americana divulgou nas últimas semanas. “Donald iniciou a sua carreira em 1973 sendo acusado pelo Departamento de Justiça por discriminação racial porque não queria alugar andares a afro-americanos. Tem um largo historial de comportamento racista.” Trump argumentou que só falou no assunto relativo a Obama porque parecia que “isso não interessava a mais ninguém”.

“Não estou interessado em publicar as minhas declarações de impostos, mas sou auditado. E publicarei essas declarações quando for conhecido o conteúdo dos três mil e-mails de Hillary”, ripostou o milionário. “Durante os últimos 30 anos todos os candidatos tornaram públicos os seus impostos. Por que razão não quer publicá-los? Creio que poderá não ser tão rico como diz. Ou não é tão apoiante da caridade como afirma. Ou talvez não queira que os norte-americanos saibam que não pagou qualquer imposto federal”, atacou.  “E, no entanto, é algo que os cidadãos têm direito a ver, pois parece que tem algo a esconder.” Resposta: “Se não paguei é porque fui esperto.”

Os dois candidatos trocaram acusações acerca do Iraque e do Daesh com Trump a acusar Hillary e Obama de desastre no primeiro caso e de criação do grupo terrorista no segundo, reagindo a democrata a lembrar que o republicano apoiou a invasão do Iraque e lembrou ter feito parte da equipa que decidiu a operação para matar Osama bin Laden, propondo o mesmo para o líder do Daesh.

Quando o tema foi a segurança cibernética, Hillary manifestou preocupação, criticando Trump por ter convidado os hackers russos a piratearem os EUA. “Não há dúvida que o fizeram e preocupa-me que Donald fale tão bem sobre Vladimir Putin”, referiu.

Trump dirigiu-lhe então um ataque a propósito do caso da utilização do correio eletrónico privado quando era secretária de Estado. “Foi mais do que um erro, agiu de propósito. E, quando há funcionários seus que se refugiam na 5ª Emenda para não prestarem declarações sobre um correio eletrónico ilegal, isso é uma desgraça”, afirmou Donald Trump, enquanto Hillary reconhecia ter errado.

“Clinton recusa-se a usar duas palavras – lei e ordem”, acusou Trump, referindo-se ao tema das tensões raciais. “A raça continua a ser um desafio importante no nosso país. Infelizmente, a raça continua a determinar demasiadas coisas, desde a escola a que se vai até à forma como se é tratado pelo sistema judicial”, contestou a rival, pedindo maior controlo de armas, uma vez que a proliferação destas é “a principal causa de morte dos jovens afro-americanos”.

“Temos demasiadas armas”, insistiu Hillary, enquanto Trump admitia ser apoiado pelos elementos da NRA, o lobby das armas, e classificava-os como “muito boas pessoas”. Dizendo que fora acusada pelo opositor de se preparar para o debate, Hillary acrescentou: “E sabe para que mais me preparei? Para ser presidente e penso que isso é algo de bom.”

“Construir uma classe média, investir nela, ajudar os estudantes a que não se afoguem em dívidas são coisas que fazem pulsar a economia e não mais vantagens para quem está no topo”, disse Hillary. “Faz o mesmo que todos os políticos: só palavras e zero de ação”, acusou o republicano.

“O tema central desta campanha é decidir que tipo de país queremos”, disse logo na abertura a ex-secretária de Estado de Barack Obama. “Temos de construir uma economia para todos, não apenas para aqueles que estão nos lugares mais elevados”, referiu, defendendo uma “economia mais justa”, com aumento do salário mínimo e a garantia de salários equilibrados entre homens e mulheres.

“Os postos de trabalho estão a desaparecer e temos de impedir que nos roubem os empregos”, retorquiu Trump, referindo-se às ações de México e China, além de criticar os acordos comerciais assinados com intervenção de Hillary e, antes disso, do seu marido, como o acordo da NAFTA.

Hillary referiu-se ao comércio como “uma questão importante” e salientou: “Temos de fazer comércio com o os outros 95% do mundo e precisamos de tratados comerciais justos.” E aproveitou para fazer uma espécie de resumo: “Recordemos onde estávamos há oito anos”, afirmou sobre a crise económica aguda, num contexto em que, acusou, Trump tirou partido da crise imobiliária, enquanto este dizia que “a isso chama-se fazer negócios”. Hillary prosseguiu: “Regressámos desse abismo e não foi fácil. Agora estamos muito perto de ter uma economia melhor, mas o pior que podemos fazer é voltar a políticas que já fracassaram antes. Estou determinada a fazer com que a economia avance mais e não volte para trás.”

Durante 90 minutos, sob a moderação do jornalista Lester Holt (NBC News), os dois candidatos esgrimiram argumentos na Universidade de Hofstra, no estado de Nova Iorque, com as famílias sentadas nos primeiros lugares da assistência. No próximo dia 9 de outubro haverá um segundo despique entre os candidatos, seguindo-se um terceiro no dia 19.

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