Sendo um banco espanhol a atuar em Portugal (e sendo um dos responsáveis o irmão de Emílio Botín) há alguma inspiração com o Santander?
A própria evolução dos dois bancos, no seu mercado natural, indica estratégias completamente diferentes. O Santander em Espanha cresceu de forma inorgânica, maioritariamente, e o Bankinter optou por um crescimento efetuado em base orgânica. E o que queremos fazer em Portugal é exportar este modelo de sucesso que o banco teve em Es panha. Nos momentos de crise e pela própria inversão ou diferença de estratégias entre os vários bancos, o Bankinter foi o único banco em Espanha que não reduziu a sua base pessoal – aumentou; não reduziu o seu valor, a sua capitalização – aumentou; e cresceu cada vez mais na sua forma de abordar o mercado. É este o modelo que queremos trazer para Portugal, visto termos uma história de sucesso em casa.
Além de Portugal, têm mais algum mercado em vista?
Para já não. O grande objetivo é mantermo-nos em Portugal. Que remos consolidar a nossa posição cá, a nossa forma de operar – um banco que opere de modo igual em duas geografias – e após esta consolidação logo ve remos.
Está otimista em termos de crescimento económico em Portugal? A “geringonça” dá-lhe estabilidade para olhar o horizonte com perspetivas positivas?
Acreditamos que existem duas condições-chave para um banco como nós ter sucesso na nossa economia. A primeira é que temos de ter uma governação estável. Felizmente, neste momento, temo-la e acreditamos que, no próximo ano, também a consigamos ter. Com maior ou menor dificuldade na passagem do orçamento, na introdução de algum tipo de medidas que poderão ter um carácter social algo menos positivo, acreditamos que esta estabilidade há-de acontecer com a normalidade com que tem acontecido até à data. A segunda condição é ter um sistema financeiro igualmente estável e forte, e acredito que toda a banca e todos os reguladores, hoje em dia, em Portugal, caminhem neste sentido. Com estas duas premissas, sim: acreditamos que podemos manter o otimismo que vemos na economia. Sim, acreditamos que algum ti po de medidas menos sociais têm, naturalmente, efeitos diretos nas poupanças e, sobretudo, no rendimento disponível das famílias em Portugal, mas não creio que sejam feitas de forma significativa ao ponto de pôr em causa alguma estabilidade dos níveis de incumprimento que existem no mercado ou até alguma tendência de decréscimo.
Nos últimos anos, assistiu-se a um apertar a regulação, na sequência de vários casos de escândalos, falências e resoluções na banca. Toda esta regulação condiciona o negócio dos bancos?
Não há dúvida de que há é um crescimento muito grande na re gulação. Eu diria que o grande desafio de qualquer banco será a adaptação ao ambiente competitivo muito diferente do que existe até à data. Um dos pontos desta alteração de ambiente competitivo da banca é precisamente a regulação. Há outros desafios como as ‘fintech’ a própria eficiência, ou seja, há diversos fatores mas este é, claramente, um dos mais relevantes. Eu não vejo como um excesso de regulação, antes como uma regulação que tem de acontecer com a finalidade de tornar o sistema bas tante mais estável e podermos evitar aqueles fenómenos, que são processos de resolução em várias geografias cada vez mais frequentes. As regras são cla ras, não esperamos ter, nos tempos futuros, algum tipo de re gulação que possa flexibilizar os requisitos de capital dentro do setor bancário. Temos de apren der a viver e a organizar-nos com estes requisitos de capital, porque podem até ser mais exigentes num futuro próximo. É desta forma que estamos a preparar atualmente o banco, quer em Portugal, quer em Espanha.
Qual o vosso rácio de capital?
Nós somos sucursal e temos a informação consolidada. Temos cerca de 12% de rácio de capital.
Sendo sucursal, já são rentáveis de forma autónoma ou ainda há financiamento da casa-mãe?
O financiamento ocorre sempre, porque a nossa dimensão de ativos ainda é superior à dimensão total de passivos. Mas cada vez menos.
Quando é que espera desligar-se?
Estes tempos têm-nos demonstrado, e essa também faz parte da nossa estratégia, que o crescimento de passivos em recursos tem vindo a ser bem maior do que o crescimento em crédito e permite-nos reduzir a dependência de qualquer financiamento da casa-mãe. A dimensão de ativos que atualmente temos em Portugal permitir-nos-ia fazê-lo, se tivéssemos essa intenção e se nos quiséssemos desligar totalmente de qualquer tipo de financiamento da casa-mãe. Mesmo tendo presente que somos um ban co novo no mercado, que tem de investir em imagem, conhecimento e produto, em pessoas, na criação de novas linhas de negócio, na integração, no desligar com a anterior casa-matriz [Barclays] e o ligar com a atual casa-matriz, o Bankinter Portugal, este ano, vai ter resultados positivos.
Na sua opinião, as ‘fintech’ são um desafio?
É uma realidade que veio para ficar, ou seja, é uma tendência que vai demorar alguns anos. E como qualquer atividade, em qualquer natureza, a banca vai ter de se adaptar a este novo ambiente competitivo. Cada vez mais hão-de existir pequenos nichos da nossa atividade bancária que há-de ter outra natureza de concorrentes. A banca vai ter de fazer um esforço enorme na revolução digital para poder acompanhar este tipo de novas tendências no mercado, porque há-de se resumir tudo a um jogo de eficiência. Com todo este ambiente competitivo, o objetivo é ter cada vez menos unidades de custo face às unidades de proveitos, que terão muito mais dificuldade em poder crescer. Inclusive, também não vejo com total desprezo alguma associação da própria banca a estas novas empresas a surgir no mercado, como forma de trabalharem em conjunto para um bem comum.
Vamos começar a assistir a ofertas de compra da banca sobre estas empresas?
Não necessariamente, mas contratos de parcerias de associações entre elas, acredito que seja uma realidade muito próxima. Há um interesse comum: uma tem um cliente, a estrutura, estabilidade e confiança e a outra tem a tecnologia, que de alguma forma pode ser utilizada, quer para maximizar receitas, ou produzir custos.
Quanto é que o crédito habitação representa no vosso balanço?
Representa ligeiramente menos de 80%. É uma carteira de 4,1 mil milhões de euros.
Qual foi o objetivo da campanha de crédito à habitação com ‘spread’ de 1,25%, o mais baixos do mercado?
Começámos em abril com uma campanha institucional em que só comunicámos marca, porque queríamos dar a conhecer o banco em Portugal e entendemos que sequencialmente à marca, deveríamos começar a juntar marca a produto. Optámos por começar com um produto estrela na banca, com a visibilidade e a notoriedade e que tem também uma tendência de crescimento que queríamos aproveitar. Agora estamos a fazê-lo com a conta-ordenado, principalmente para clientes particulares.
Qual o balanço da campanha de crédito à habitação?
Muito positivo. Estamos a produzir valores mensais ligeiramente superiores aos 20 milhões de euros, que estão em linha com o objetivo definido, que era de termos globalmente 700 milhões de euros disponíveis na economia durante este ano, dos quais o crédito à habitação deveria corresponder a 150 milhões de euros.
Este novo crédito está a ser feito a 1,25%?
Não. 1,25% é a taxa mínima que temos, dependente de uma relação direta entre o montante de operação e o rácio de financiamento de garantia. Nem todas as operações cabem neste quadrante. O ‘spread’ médio é de 1,9%/2%.
E o ‘spread’ médio carteira total?
A carteira total de crédito à habitação tem um ‘spread’ médio a rondar os 1%.
Pensa que vamos voltar a ter ‘spreads’ abaixo de 1%?
Nós não queremos ser conhecidos unicamente por competitividade em preço. A nossa principal regra para poder operar no mercado, nomeadamente no crédito à habitação, está muito li gada ao retorno direto que conseguimos ter nas operações de cré dito à habitação. O atual nível das Euribor desaconselha futuros decréscimos de forma relevante. Por isso, num curto espaço de tempo, não estamos a pensar em rever em baixa o nosso ‘spread’ do crédito à habitação, mas, se tivermos de o fazer, haveremos de o encarar, naturalmente, sempre com a responsabilidade de quem está no mercado para tornar a operação rentável. Acreditamos que 1,25% é um bom ‘spread’, que nos torna competitivos, que nos permite estar dentro dos nossos objetivos.
Atualmente, as taxas Euribor estão negativas. Quanto mais tempo vamos viver com taxas de juro nestes níveis?
Não é sustentável vivermos por muito mais tempo com o nível de indexantes como aqueles que atualmente estamos a viver. Acreditamos que, no prazo de 12 meses, vão mudar. Uma das grandes apostas que temos feito, complementando ao ‘spread’ de 1,25% é a oferta de taxa fixa. Que remos fixar as taxas num prazo de 10, 20, 30 anos que é o que vai permitir ao consumidor ter a estabilidade no seu orçamento. Atualmente, temos cerca de 14% dos nossos novos volumes a serem efetuados a taxa fixa em vários intervalos e temos a ambição de crescer ainda bastante nesta oferta: para 40% até 2017.
Destes 14%, a média está fixada a 10, 20 ou 30 anos?
Cerca de um terço cada.
E qual o valor médio da taxa fixa que estão a cobrar?
À volta de 0,5% acima do ‘spread’ aplicado à taxa variável.
Há uma recomendação aos balcões para fazerem taxa fixa?
Há alguma recomendação, sim. Tem de ser pela vontade do cli ente. Mas qualquer oferta a ser efetuada ao cliente, é sempre efetuada em duas dimensões, quer em taxas variável, quer em taxa fixa.
Neste momento, com taxa variável, utilizam a Euribor a 12 meses?
Sim, nas novas produções.
O que se deve fazer numa situação de juros negativos?
Pela própria natureza do negócio jurídico, o normal será a concessão de um empréstimo – seja a um particular ou a empresa – ser o retorno acrescido de uma remuneração adicional para quem faz esta natureza de investimento, que é o juro cobrado. Ou seja, vejo contra-natura a existência de situações em que é concedido um empréstimo e ainda assim existe uma forma graciosa de concessão deste empréstimo.
Defende o limite zero?
Eu defendo que remuneração da banca deveria ser, no mínimo, o ‘spread’, porque é este o ‘spread’ que incorpora o prémio de risco associado.
O que está a defender é que, no mínimo, deve ser zero por cento? Não deve haver a tal questão de abater em capital caso a taxa total seja negativa?
Encaro um valor zero como meramente excecional. O banco não está a aplicar ‘floors’ a zero ou, nos novos contratos, considerar que é um ‘floor’ zero. O que nós temos de fazer, e temo-lo feito, é considerar um ‘spread’ normal em função daquilo que nós entendemos que possa ser a evolução natural das Euribor e num prazo suficiente que nos permita não entrar numa situação de retorno negativo.
Isso nos novos contratos. E nos antigos?
Respeitar o contrato.
Ou seja, abate o capital?
Ou amortização antecipada ou, eventualmente, abater a capital.
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