Entrevista a Paulo Nunes de Almeida, Presidente da AEP – Associação Empresarial de Portugal
Neste final de setembro, a AEP volta a levar ao Irão uma missão empresarial, e esta foi a quarta vez, em 10 meses. O que explica a clara aposta neste mercado?
A AEP tem promovido, desde 2009, a aproximação das empresas portuguesas ao mercado do Irão, a segunda economia mais importante naquela zona geográfica. E vamos continuar a trabalhar nesse sentido, quer seja na prospeção de negócios, quer na promoção das empresas, marcas e produtos portugueses naquele mercado.
O Irão possui 18% do gás natural e 4,9% dos recursos petrolíferos do mundo. É um mercado de 80 milhões de consumidores, jovem e com enorme potencial de consumo. Mesmo antes do levantamento do embargo, o nosso país já exportava para o Irão cerca de 37 milhões de euros (dados de 2010). Em 2014, o total das exportações portuguesas “ficou-se” pelos sete milhões. No ano passado, com o acordo de Viena que veio abrir portas ao fim das sanções, as nossas vendas começaram a recuperar e atingiram os 19,4 milhões de euros. Estes dados provam que é possível incrementar as relações comerciais luso-iranianas se mantivermos o contato com os agentes de mercado e as instituições locais.
Como correu esta última missão? Que balanço faz das seis missões (em 7 anos) já realizadas no Irão?
A última missão empresarial portuguesa organizada pela AEP ao Irão decorreu no passado mês de setembro e foi um sucesso, dentro dos objetivos a que nos propúnhamos. A AEP conseguiu juntar uma comitiva de onze empresas das áreas agroalimentar, têxtil, materiais de construção, engenharia e sistemas hidráulicos, farmacêutica, sistemas de informação e tecnologia audiovisual. Durante cinco dias, as empresas participantes mantiveram reuniões de negócios com congéneres locais e tiveram oportunidade de fazer contactos com agentes de mercado iraniano. O balanço desta última missão, assim como das anteriores, é obviamente positivo. Nos últimos 10 meses ajudámos 44 empresas portuguesas a entrar neste mercado. Para um país como o nosso, penso ser muito bom.
Como está a ser a adesão dos empresários portugueses a estas missões? Tem aumentado o número de participantes?
A adesão tem sido boa e existem bastantes empresas portuguesas apetrechadas para competir globalmente. Por exemplo, nas últimas três ações neste mercado começámos com um grupo de nove empresas. Depois, na missão empresarial em fevereiro levámos 10 à feira de construção “Project Iran”, e em abril e setembro passados 11 empresas de cada vez. Em novembro do ano passado, já havíamos levado outras 15.
O que os move no sentido deste mercado?
No último ano, o Irão tem dado sinais de querer reforçar as relações bilaterais com a Europa e, neste contexto, Portugal é visto pelas autoridades locais como um parceiro comercial credível, com experiência e know-how em algumas áreas e setores específicos. Sabemos isto porque em novembro de 2015 numa das missões que organizámos a este mercado tivemos a oportunidade de reunir com o governador provincial de Teerão,Hossein Hashemi, e com o primeiro vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria, Minas e Agricultura do Irão, Pedram Soltani, e ambos mostraram conhecer a realidade portuguesa e manifestaram abertura para que se reforcem as relações económicas e institucionais entre os dois países.
Além do mais, devo salientar que a AEP é, desde 1990, a instituição privada que no nosso país mais se tem destacado na internacionalização empresarial e no fomento das exportações. Nestes 26 anos e até hoje, a associação organizou 480 ações de promoção externa da oferta nacional em 72 países, nas quais participaram cerca de 3.000 empresas. O programa “Business On the Way” deverá ultrapassar este ano as quatro dezenas de iniciativas, em 27 mercados, tendo já em preparação a edição para 2017 e 2018, onde se prevê a realização de mais de meia centena de ações, contemplando destinos como o Irão e outros mercados.
Como se devem preparar, particularmente as médias empresas, para ter sucesso neste mercado?
Uma das formas para se ter mais garantias de sucesso neste mercado é encontrar parceiros locais, iranianos, ou nos países vizinhos com relações perfeitamente estabilizadas com o Irão. A proximidade é muito importante para facilitar o relacionamento com as empresas iranianas e para o acompanhamento dos negócios. Atendendo às especificidades do mercado iraniano, as empresas também têm em Portugal entidades para as ajudar. O Portugal – Irão Business Council, de que a AEP foi fundadora, é uma plataforma de negócios entre empresas de ambos os países que tem dado um contributo relevante para a dinamização das relações comerciais bilaterais.
Com que vantagens e desvantagens se vão deparar?
Desde o fim do embargo comercial, que vários países europeus e os EUA se mostraram interessados em fazer negócios com o Irão. Portugal tem de aproveitar a abertura comercial que se está a registar da parte da Europa, mas também do Irão, e tirar vantagem de particularidades que constituem vantagens comparativas interessantes, como o fato de as autoridades do Irão conhecerem bem a história do nosso país e considerarem a cultura portuguesa, comparando-a à persa. O papel dos portugueses no mundo é algo que o povo do Irão conhece e admira e tem deitado abaixo muitas barreiras derivadas da língua e da dimensão, por exemplo. Ao nível da população iraniana há as vantagens inerentes a uma geração jovem e bem preparada, nas universidades iranianas e internacionais, e que está aberta a uma oferta inovadora e moderna.
Nos pontos menos favoráveis, teremos de estar preparados para contornar a desvantagem relativa face a outros países, maiores e economicamente mais fortes. Depois, há ainda que considerar as vantagens proporcionadas pela implantação local, seja pela via de parcerias com investidores locais ou através da criação de filiais ou agentes.
Em que setores podem as empresas portuguesas fazer a diferença?
O mercado iraniano apresenta inúmeras oportunidades em vários sectores, desde a construção, maquinaria e ferramentas, equipamento, transporte, produtos químicos, novas tecnologias, energias renováveis, bens alimentares, produtos farmacêuticos e hospitalares, entre outros.
Os números mostram que o levantamento das sanções internacionais ao Irão ainda não têm repercussão nas relações comerciais entre Portugal e este país. Que papéis podem, e devem, assumir as empresas, por um lado, e o Estado, por outro, para alterar esta realidade?
De facto os constrangimentos ao nível das relações bancárias e seguro de crédito continuam a ser um importante entrave ao desenvolvimento dos negócios que esperamos que possam ser reduzidos gradualmente num futuro próximo. Neste sentido o Estado deve continuar, dentro das suas possibilidades e responsabilidades, a ter uma política ativa de aproximação, cooperação e monitorização das oportunidades existentes e no aproveitamento daquelas que se possam colocar no médio prazo. Já as empresas não podem deixar de aproveitar os apoios existentes para a internacionalização e focar os seus planos de negócio neste e noutros mercados que possam ampliar a implantação do “made in” Portugal no mundo.
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