Uma crítica justa que se pode fazer ao anterior governo é a de que aprovou, sucessivamente, orçamentos desesperançados e sem projeto de futuro para o país. Orçamentos avarentos apresentados por um governo que orgulhosamente se dizia mais “troikista do que a troika”. Perdeu-se rendimento, perderam-se garantias, empobrecemos, ajustámos. O último foi o de 2015. Na altura, o primeiro-ministro não escondia ao que vinha.

Em 2014, Passos mostrava o quão pouco percebia de política. Menosprezava o facto de todos gostarmos de viver ligeiramente em negação. Dizia ele sobre o OE de 2015: “Este é um orçamento de realismo. Um orçamento que não é feito a pensar nas eleições. Eu sei que há políticos que acham que as eleições se ganham baixando impostos e aumentando salários. Devo dizer que tenho muitas dúvidas de que as pessoas, os eleitores, raciocinem exatamente nesses termos”. Mas raciocinam exatamente assim e são péssimos a fazer contas. E a esquerda sabe-o muito melhor do que a direita.

Eis-nos em 2016 a aprovar um Orçamento que não vira a página à austeridade, antes a agrava. É a austeridade de esquerda. Há mais impostos. E os argumentos de Centeno ouvimo-los já pela boca dos ministros da direita, tão criticados pela esquerda aquando na oposição. Diz Centeno: “A economia e a vida mudam. E nós temos de nos adaptar”. Tem razão. Estamos a adaptar-nos a menos crescimento e, mais do que uma realidade global, trata-se de uma realidade portuguesa. Crescemos menos porque a receita do consumo interno não funcionou. Isso mesmo é assumido neste Orçamento com as projeções para o consumo privado, que caem para metade. Mas Centeno fala de uma entidade, “a economia”, como se esta fosse indiferente às políticas adoptadas. Não é. O investimento privado estava a recuperar. Agora travou a fundo. As importações estavam controladas. Agora voltaremos a ter uma balança comercial deficitária. Não foi só a Europa que provocou esta inversão. Foi o Orçamento do Estado da geringonça.

Diz Centeno: “Temos que lidar com a realidade à medida que ela se coloca”. Verdade. Só que, perante uma economia que cresce menos, a resposta deste Governo é um Orçamento que simplesmente abdica de qualquer reforma ou medida do lado da despesa. Adapta-se à “realidade que se coloca” com uma esperança vã de crescimento económico milagroso pelo qual não se responsabiliza, suspirando pela anulação de uma garantia do BPP, claramente em risco, e de dividendos do Banco de Portugal. Zero medidas para um Estado pesado e sobredimensionado. Saudades de um Orçamento que ao menos indicava caminhos para lidar com essa espada de Dâmocles, mesmo que depois pouco concretizasse.

Finalmente, diz Centeno: “Essa ideia de se prometer o que não se pode, não.” De facto não promete o que não pode. Não promete nada a não ser impostos agravados num Estado que, com este Governo manietado por um Bloco raivoso contra o capital e um PCP sovietizado, se tornou num Estado de confisco e de manutenção de interesses adquiridos por parte de alguns setores da sociedade, em detrimento do interesse geral.