“O que sabemos é que os mercados gostam de previsibilidade e não gostam de mudança”, começa por notar Kristina Hooper, a responsável pela estratégia de investimentos da Allianz GI nos EUA, em declarações ao Jornal Económico. Quer isto dizer que, o primeiro impacto previsível das eleições norte-americanas no mercado será a volatilidade, principalmente caso Donald Trump comece a somar vitórias em Estados indecisos (ver caixa em baixo). Neste cenário, os especialistas antecipam uma reação brusca dos mercados, materializada na fuga global de ativos de risco, desde logo, ações e ‘commodities’, para ativos-refúgio como o ouro, iene ou franco suiço.
Para já, o mercado não está a descontar a possibilidade de uma vitória republicana. “Os recentes máximos renovados dos índices de ações americanas, a subida do dólar e as antecipações de aumento de taxas de juro traduzem a forte probabilidade de uma vitória de Hillary Clinton a 8 de Novembro”, nota precisamente Diogo Teixeira, administrador da Optimize. Mas se há coisa que a realidade recente mostrou é que, por vezes, o improvável acontece. Hooper deixa o alerta: “Aprendemos com o Brexit e com as eleições colombianas que as sondagens podem estar erradas”.
As eleições norte-americanas não se jogam apenas no candidato presidencial. O Congresso – composto pela Câmara dos Representantes e pelo Senado, ambos controlados atualmente pelos republicanos – mostrou ser uma importante força de bloqueio às políticas de Obama nos últimos anos. Uma repetição deste equilíbrio de forças seria provavelmente o melhor dos dois mundos para os investidores: “O mercado tenderá a reagi de forma mais positiva a uma vitória de Clinton com um Congresso republicano, uma vez que isso iria travar algumas propostas de Hillary”, afirma a responsável da AllianzGI. Em causa estão propostas que afetam diretamente alguns setores, desde logo o financeiro mas também as farmacêuticas e a biotecnologia, além da intenção de aumentar o salário mínimo para o dobro.
Infraestruturas são aposta certeira
Entre o muito que separa os dois candidatos existe um ponto de encontro: a necessidade de investir nas infraestruturas do país. Os especialistas são portanto consensuais em aconselhar o investimento em ações e dívida de empresas que beneficiem com estas propostas, como construtoras, ‘utilities’, caminhos-de-ferro, portos ou auto-estradas. ‘Commodities’ ligadas à indústria, como o ferro ou o aço, podem igualmente sair beneficiadas. Existem depois os setores óbvios que tendem a ganhar e a perder consoante o desfecho da noite eleitoral.
Mais complicado será prever a direção das ‘yields’ norte-americanas e do dólar, caso Donald Trump se torne no novo presidente norte-americano. Por um lado, “dadas as perspectivas de estímulos fiscais, poderá assistir-se à queda das ‘yields’”, nota Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial. David Pinheiro, da IM Gestão de Ativos, chega à mesma conclusão mas por via de um ‘flight to safety’, tal como aconteceu quando a S&P cortou o ‘rating’ AAA dos EUA. No entanto, “num segundo momento, as ‘yields’ poderão subir dada a expectativa de inflação, potencial reação da Fed [aumento de taxas de juro] e incerteza face à reação dos detentores de dívida norte-americana”, nomeadamente a China e o Japão, adianta David Pinheiro. A isto há que juntar ainda o previsível enorme aumento da dívida pública com Trump à frente dos destinos do país, e ainda a sua intenção de renegociar a dívida.
No dólar, o mesmo sistema de forças opostas. Para a responsável da Orey, o dólar pode, “numa primeira fase, depreciar-se via ‘outflows’. No entanto, o candidato defende uma divisa forte através da subida de taxas de juro”, o que poderá levar à sua subida. Subida do dólar é també o que defende David Pinheiro, pela sua natureza de ativo refúgio, “e pelo facto de as políticas de Trump serem inflacionistas no curto-prazo”.
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