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“É urgente pagar condignamente trabalho médico”

Anunciou a sua candidatura “após prolongada reflexão e muitas conversas com vários colegas”. Que argumentos o motivaram a avançar?
6 Janeiro 2017, 00h01

Entre outros, que os médicos necessitavam de recuperar o prestígio perdido e de uma Ordem dos Médicos que fosse um parceiro ouvido e respeitado, que tivesse uma intervenção incisiva e concisa. Uma Ordem cuja opinião fosse tida em conta. E vários colegas entenderam que eu, como bastonário, poderia desempenhar esse papel.

Por outro lado, eu devo tudo à medicina, e achei que era tempo de, na medida das minhas possibilidades, retribuir o muito que recebi. E falo no que a medicina me deu enquanto médico, mas também enquanto doente. Eu, se ainda estou vivo, devo-o à medicina portuguesa. Tive uma doença grave e sobrevivi, graças à medicina portuguesa. Essa dívida pesou na minha decisão.

Disse, também, que se candidata porque José Manuel Silva não se recandidata. Pretende uma mudança na continuidade?

É lícito concluir que haverá continuidade e haverá mudança. Eu presidi ao Conselho de Auditoria e Qualidade durante o primeiro mandato do atual bastonário e participei ativamente nas primeiras normas de orientação clínica e esse é um processo que irá continuar. Noutros campos, como por exemplo a informática, haverá mudanças.

Diz querer modernizar a Ordem. Quais as principais propostas dessa modernização?

Acabo de dar um exemplo. A Ordem dos Médicos tem que se modernizar no que respeita à parte informática. Consulte o site nacional e veja como está desatualizado. Não está adaptado aos novos meios (tablets, telemóveis), que são, hoje, a forma como a maioria de nós acede à internet.

Veja o caso da revista. Veja como os médicos ainda hoje têm que se deslocar às sedes físicas da Ordem para tratar de assuntos que poderiam ser tratados à distância, por via informática. Há muito espaço para modernizar.

Defende uma redução do valor das quotas, que diz serem “caríssimas”. São mesmo?

Com os novos estatutos, a Ordem dos Médicos perdeu fontes de financiamento. Agora, passa a viver apenas das quotizações dos associados. Por isso, e apesar do valor da quota anual ser pesada para alguns médicos, não será fácil reduzir significativamente o seu valor.

Propõe, como o atual bastonário, uma redução do numerus clausus. É para afastar o fantasma do desemprego médico?

A redução do numerus clausus não afasta o fantasma do desemprego, apenas o mitiga. Portugal está, claramente, a formar mais médicos do que aqueles que necessita, pelo que a redução do número de alunos é fundamental. Porém, também é preciso encarar a problemática da vinda de médicos, Portugueses e de outras nacionalidades, que se licenciaram no exterior.

Como compatibilizar numerus clausus com necessidades específicas de especialistas em determinadas áreas como, por exemplo, anestesiologia?

Uma coisa não está ligada diretamente à outra. A falta de anestesiologistas tem a ver com problemas de contratação e de aumento das áreas de intervenção daqueles especialistas. Veja a analgesia do trabalho de parto, que não se fazia quando me formei.

Passo a explicar: Portugal pode formar o dobro ou o triplo dos anestesiologistas e continuará a haver falta deles nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Veja que não há notícia da falta de anestesiologistas no setor privado. O que acontece, como noutras especialidades, é que sendo estes mal pagos no setor público, saem para o setor privado e para a emigração. É urgente, sublinho, urgente, pagar condignamente o trabalho médico no setor público. Essa é também uma das razões porque me candidato. Sendo matéria do foro sindical, trabalharei com os dois sindicatos médicos para que se possa definir um limiar de remuneração digna para os médicos, em todos os níveis da profissão e em todos os setores.

As universidades existentes têm capacidade para absorver o atual número de estudantes?

No que concerne à medicina, são as próprias faculdades a admitir que já ultrapassaram as suas capacidades formativas. O atual numerus clausus não obedece a qualquer racional.

Qual a principal lacuna que identifica no Serviço Nacional de Saúde?

A gestão do orçamento. O Serviço Nacional de Saúde está subfinanciado e o dinheiro que existe é gasto sem rigoroso controlo. n

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