Samuel Martins, natural de Porto de Mós, tem um dos cargos de maior responsabilidade na Fundação Bill e Melinda Gates: é diretor-adjunto de Estratégia, Planeamento e Gestão das equipas de desenvolvimento de produtos: “Vaccine Development” e “Integrated Development”. Estas equipas apoiam o desenvolvimento de novas vacinas, medicamentos, diagnósticos e outras ferramentas.
Em Seattle, a cidade onde vive com a família, os dias de trabalho são longos. Começa com chamadas telefónicas pela manhã porque muitos dos parceiros estão na Europa ou em África, e o fuso horário é de menos oito horas em relação a Lisboa.
Depois, passa para a fase das reuniões, em que se incluem a gestão do orçamento (a equipa de Samuel gere cerca de 500 milhões de dólares em bolsas), gestão de pessoal, execução dos investimentos e contactos com um dos homens mais ricos do mundo. “O Bill é extremamente dedicado às suas causas: passa bastante tempo a aprender sobre os assuntos, incluindo a parte técnica e científica, para poder contribuir e ajudar as equipas da Fundação a definir as suas estratégias. Mantém-se, assim, muito próximo do dia-a-dia. Tem uma paciência surpreendente para projetos que não são bem-sucedidos, focando-se em aprender com os erros e continuar a arriscar”, conta.
Samuel, que ainda pensou em ser médico, tirou o curso de Engenharia Física Tecnológia no Instituto Superior Técnico (IST) em Lisboa com média de 19 valores.
Teve o primeiro emprego como investigador num grupo científico no IST no segundo ano do curso (2002). Continuou esse trabalho até ao final do curso , em 2005. Nessa altura entrou na McKinsey & Company como Business Analyst. Em 2007 voltou ao Instituto para o doutoramento em Física, que terminou em 2010 – recebeu o prémio IBM Portugal, no valor de 15 mil euros, que distingue o trabalho de doutoramento desenvolvido na área da Física das Partículas.
Regressou à consultora entre 2010 e 2013 e daí seguiu para a Fundação. “A experiência na McKinsey foi única, com uma aprendizagem alucinante em áreas muito distintas: trabalhei em companhias aéreas, construtoras, bancos, seguradoras, entre outras, incluindo estratégia, operações, marketing, vendas, etc. Trabalhei em Portugal, Suiça, Inglaterra, Grécia e Angola. Um ritmo muito rápido, muitas horas no escritório, muitas viagens e picos de stress, mas com um sentimento muito forte de impacto na sociedade e na vida de muitas pessoas”, acrescenta.
De Portugal para Seattle
A chegada à Fundação do casal Gates aconteceu por concurso. “Comecei a ganhar interesse por este tipo de organizações e percebi que a Fundação Bill e Melinda Gates seria uma excelente opção: reconhecimento internacional, em particular na área de saúde, posicionamento mais estratégico (menos operacional) e bem financiada. Submeti uma candidatura e acabei por conseguir uma posição de Program Officer na área de Saúde Global em 2013. Em 2015 fui promovido a Senior Strategy Officer.”
A nível profissional, Samuel, de 34 anos, destaca a possibilidade de os EUA oferecerem oportunidades que não existem em Portugal. “O mundo corporativo americano é reconhecido como um dos mais exigentes”, afirma.
A nível pessoal, considera que o país é “fantástico para viver”. “Esta zona dos EUA (“Noroeste Pacífico”) é também reconhecida por ter uma natureza fora do comum. Por último, Seattle é uma cidade com uma qualidade de vida muito adequada a famílias (esperamos que o Trump não estrague tudo).”
O diretor não põe de parte o regresso a Portugal. “Vai depender da evolução profissional e pessoal aqui em Seattle e das oportunidades que possam surgir”. A vontade constante de aprender é uma das suas principais características. “Acho que devemos sempre acreditar mas, mais do que isso, trabalhar. Nada se consegue sem dedicação e sem esforço. Isto deverá aliar-se a uma atitude mais positiva e mais proativa. Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti. Pergunta antes o que podes fazer pelo teu país”, disse em 2011 numa publicação municipal de Porto de Mós.
Por enquanto, aproveita as férias para visitar a vila com a mulher Cláudia e o filho Afonso. “Foi onde nasci, cresci e vivi até aos 18 anos. A família e muitos amigos estão em Porto de Mós. Também tenho saudades do castelo, dos pequenos recantos da vila que percorri durante tantos anos, da fórnea e das nossas serras.”
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