Agravou-se estas semanas a situação política social e económica na Venezuela, país onde, apesar de não existirem estatísticas oficiais credíveis, residirão entre 400 e 500 mil madeirenses, incluindo segundas gerações.
O que se passa na Venezuela tem sempre muito a ver com a Madeira que nunca fica indiferente ao que ali se passa.
Ainda esta semana foi anunciada a constituição de mais uma associação virada para a emigração venezuelana e preocupada com a receção de eventuais regressos em massa à Madeira. O parlamento madeirense comemorou mais um aniversário da revolução de Abril mas os partidos orientaram as suas atenções para a situação na Venezuela.
Costuma-se dizer que não há uma família madeirense que não tenha pelo menos um familiar emigrado naquele país sul-americano. Recordo que o ex-presidente venezuelano e figura emblemática da chamada “revolução bolivariana” em curso, Hugo Chavez visitou a Madeira em Outubro de 2001 o que demonstra a forte ligação existente entre esta região insular e aquele país.
O problema da instabilidade diária transportada pela oposição e pelos apoiantes do regime para as ruas da capital, Caracas, reside no facto das reportagens televisivas terem um efeito negativo junto dos madeirenses residentes na Região, que muitas vezes não sabem o que é que o destino reserva, em cada dia que passa, aos seus familiares.
Há um medo instalado na comunidade portuguesa em geral, há assaltos a negócios, muitos deles propriedade de emigrantes portugueses que de milionários ou de ricos nada têm. Há uma espécie de conflito geracional que coloca frente-a-frente o eventual desejo de regresso temporário à Madeira, e o desejo de continuidade no país onde nasceram, vivem e estão integrados, demonstrado pelas segundas gerações, muitas delas apostadas em contribuir para a construção de uma sociedade venezuelana verdadeiramente democrática, apesar de todas as dificuldades.
O que é facto é que apesar da gravidade da situação, com várias dezenas de mortes e centenas de detidos, há um sentimento de impotência por parte dos familiares residentes em Portugal, conscientes de que pouco ou nada podem fazer pelos seus conterrâneos emigrados.
A Madeira tem acompanhado o processo com preocupação. Há quem tema um eventual regresso em massa de emigrantes madeirenses – cenário esta semana posto de parte pelo Presidente do Governo – devido ao impacto social e económico que isso teria na Região.
O que é facto é que a Madeira elaborou programas de apoio para quem regressa, mesmo que por um período de tempo limitado. O chamado plano de emergência que porventura venha a ser posto em execução será sempre nacional e da responsabilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros, esclareceu Miguel Albuquerque.
Recentemente ficamos a saber terem sido enviados para Venezuela, quantidades significativas de medicamentos, para superar as dificuldades existentes naquele país, mas ninguém sabe ao certo se essas remessas chegaram ou não aos destinatários.
Acresce a tudo isto o impacto que tiveram as crises financeiras no ex-BES e no ex-BANIF, que lesaram milhares de emigrantes portugueses, incluindo milhares de madeirenses.
Continuam a ser muitas as famílias, residentes na Venezuela ou residentes na Madeira, que passam por dificuldades económicas graves e nunca imaginadas pelos atingidos. E como se isso não bastasse, sucedem-se medidas restritivas aprovadas pelo governo de Nicolas Maduro que têm colocado crescentes obstáculos à transferências de economias por parte dos emigrantes para os seus países de origem.
A inflação galopante, a corrupção e a instabilidade, fazem com que muitos emigrantes em vez de enviarem as poupanças para Portugal, optam por as reter para que possam estar preparados para quaisquer eventualidades.
Imagens de supermercados vazios, falta de produtos essenciais, longas filas para comprar produtos inexistentes nos estabelecimentos, o peso do mercado negro, o envolvimento dos militares na supervisão do processo de distribuição de alimentos que rapidamente ficou marcado por suspeitas de corrupção tudo isso tem dado da Venezuela, a imagem de um país diferente do oásis que foi no passado recente para a emigração portuguesa, madeirense em particular.
Aconteça o que acontecer a Venezuela provavelmente nunca esteve tão perto da Madeira como está hoje. Negativamente.
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