Aos 70 anos e com 55 de carreira, Paulo de Carvalho lança um disco de duetos, “Intemporal Duetos”, para assinalar um percurso ímpar na música portuguesa. Convidou nomes como Áurea, Camané, Raquel Tavares, Miguel Araújo ou António Zambujo, mas cantou também com dois filhos, Agir e Mafalda Sacchetti. A ideia foi celebrar um conjunto de canções de vida de “alguns milhares de pessoas”.
Como surgiu a ideia de fazer um disco de duetos para celebrar os 55 anos de carreira?
Foi uma ideia do Agir, o meu filho. Quis não só fazer umas quantas músicas da minha vida – acabaram por ser 17 – mas também músicas da vida de muita gente. Eu atrevo-me a dizer de alguns milhares de pessoas. E depois juntar a isso uma série de companheiros de profissão que acabam por justificar mais ainda esta homenagem.
O disco inclui duetos com cantores de diversos quadrantes. Como foi dividir estas músicas com eles?
São gente de três gerações: da minha, de uma intermédia e de gente bem mais nova do que eu. Portanto, com esta ideia muito boa, pelo menos para mim, acredito que vai ser uma boa ideia também para muita gente. O meu filho acabou por me apresentar uma série de gente mais nova, que eu sei quem são porque conheço musicalmente mas não conhecia pessoalmente. Foi muito bom contactar com eles e cantar com eles.
Teve um sabor especial a produção ter sido feita pelo filho?
Tem sempre. Eu já tinha a certeza que ele é muito bom no que faz. Mas depois há gente que não gosta tanto por variadíssimos motivos. Mas ele faz isto muito bem. Tem um sabor muito especial, realmente, ele ter feito este disco. E depois também participou, também cantou. Tirou-me muito trabalho de cima porque dificilmente eu conseguiria concretizar tudo isto sozinho. Demora tempo e é muito trabalhoso.
Quanto tempo demorou?
Ele já andava com esta ideia na cabeça há um ano. A partir do momento que me desafiou e me explicou a ideia, demorou uns bons meses, pelo menos meio ano, a concretizar. No fundo acabei por ser um privilegiado porque acabei por só ter que cantar quando tive que cantar.
O que é que gostava que o público sentisse ao ouvir esta celebração?
Gostava que as pessoas continuassem a ter as mesmas sensações que a música nos provoca. Temos esse exemplo agora com a Eurovisão. Aquela música provocou sentimentos muito bonitos em muita gente. Foi muito bonito e era isso que eu gostava, que as músicas continuassem a provocar bons sentimentos nas pessoas que sonharam ouvir a ‘Nini dos meus Quinze anos’ ou nas pessoas que sonharam com um país melhor, com o ‘E Depois do Adeus?’. No fundo, a música serve muito para isso.
O ‘E Depois do Adeus’ marcou um momento importante da história portuguesa.
Ainda que eu não soubesse e que tenha sido por acaso, sinto um orgulho muito grande. Mas continuo sempre a ressalvar – e acho que é muito importante ser eu a dizer – que se há alguma música ou pessoa que deva estar associada ao 25 de Abril é o Zeca Afonso. Felizmente está.
Qual é o balanço destes 55 anos?
Pode-se dizer muita felicidade, um tempo muito bom. Este tempo tem sido maravilhoso, porque das coisas que me têm acontecido só há menos boas, não há más. E depois tenho uma dívida de gratidão muito grande, para com milhares de pessoas, porque efetivamente foram elas que me colocaram neste sítio. Eu sei que faço bem o meu trabalho. Mas às vezes o trabalho que vamos fazendo não é reconhecido. O público ajuda muito. Há uma série de factores que se conjugaram para que eu tenha chegado aqui a esta altura. De maneira que tudo se conjugou para que as coisas estejam neste ponto e que eu tenha 55 anos de felicidade.
Tem recordação do momento em que decidiu ser cantor?
Francamente não tenho. Isto tudo começou a brincar, com os grupos que nós formávamos, grupos rock que tínhamos em miúdos. E depois a vida foi andando, andando, até hoje. E quando dei por mim já lá iam 55 anos. Não houve um momento que eu dissesse ‘é isto que eu quero fazer e vou continuar a fazer’. Até porque eu gostava muito de futebol também. Gostava de jogar à bola e tudo isso. Mas depois foi natural ter ficado por aqui.
E quais são os próximos planos?
O próximo plano que me está a apaixonar é montar um espectáculo de apresentação do disco, com todos estes companheiros de profissão. É muito complicado porque são 17 cantigas e pôr isto em cima do palco vai ser muito complicado. Vai ser no largo do Município, em frente à Câmara Municipal de Lisboa, sendo eu um lisboeta faz todo o sentido. O nosso presidente da República vai também estar presente.
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