[weglot_switcher]

“Turismo de saúde é uma oportunidade”

A Diaverum quer reforçar a posição em Portugal no setor da diálise, apostando na prevenção e na promoção dos transplantes. E quer também associar-se ao Governo, à academia e à economia social.
2 Junho 2017, 13h44

A Diaverum é uma empresa sueca e um dos principais prestadores de saúde renal em Portugal, onde detém 25 unidades de hemodiálise, nas quais trata cerca de 3.100 doentes crónicos, realizando perto de meio milhão de tratamentos por ano. Emprega cerca de 1.200 pessoas e tem uma faturação na ordem dos 73 milhões de euros por ano. Globalmente, possui cerca de 300 clínicas e trata aproximadamente 30 mil doentes em 20 países da Europa, América Latina, Médio Oriente e Austrália, faturando cerca de 650 milhões de euros.

Em entrevista ao Jornal Económico, o presidente executivo da Diaverum, Dag Andersson, afirma-se orgulhoso do percurso feito pela empresa em Portugal, que diz ser um mercado importante e onde promete continuar a investir. Não só na diálise, mas no turismo de saúde.

Portugal pode ser considerado um mercado pequeno, com um sistema de regulação restritivo. Que avaliação faz a Diaverum da sua presença em Portugal?
Para a Diaverum, Portugal não é um pequeno mercado. Estamos presentes em Portugal há mais de 20 anos e é um dos nossos maiores países em termos de clínicas e pacientes, e estou muito orgulhoso da nossa organização portuguesa. Melhorámos claramente a vida de muitos pacientes renais e isso é reconhecido nas análises feitas à satisfação dos pacientes, cuja pontuação é muito elevada, e na excelente qualidade médica. No que diz respeito ao sistema altamente regulado, os cuidados de saúde são, por natureza, uma área que é (felizmente) e deve ser muito regulamentada.

Nós estamos, no caso da diálise, a falar de pacientes crónicos com uma condição médica que é para a vida. Portugal e todos os países desenvolvidos têm regulamentos relacionados com a diálise e nós cumprimos sempre (e muitas vezes até vamos além) os regulamentos que estão em vigor. Também é nosso dever, como empresa global, transferir melhores práticas no que respeita a diferentes regulamentos que existem em todo o mundo.

Pretende reforçar a sua posição no mercado português?
Pretendemos reforçar a nossa posição em Portugal, no entanto, a rede de centros renais privados existente já é bastante completa e reconhecemos as preocupações do Governo português em relação à concorrência e à concentração de fornecedores de diálise privados. Mas ainda há muito a fazer para reforçar a nossa posição em Portugal, nomeadamente na prevenção de doenças renais, na promoção do transplante renal (com foco específico nos transplantes de dadores vivos) e no apoio aos pacientes para ajudá-los a superar os desafios sociais e profissionais. Temos uma agenda de responsabilidade social corporativa muito clara, que estamos decididos a desenvolver e a promover.

Que oportunidades identifica no mercado português?
Bem, o turismo de saúde é uma. Portugal tem um enorme potencial: um clima excepcional, riqueza e diversidade cultural, a costa e as praias e a gastronomia. Portugal – e cidades como Lisboa e Porto – está, finalmente, a receber o hype que sempre acreditei que merecia. Importante para o turismo de saúde é o Serviço Nacional de Saúde português, que proporciona uma qualidade que se classifica entre as melhores da Europa, incluindo, naturalmente, a Suécia, mesmo que esse facto talvez não seja tão reconhecido pelos europeus do norte como deveria. Todos estes fatores contribuem para que esta seja uma oportunidade importante, que procuraremos aproveitar.

No que diz respeito à doença renal, acredito que o caminho a seguir é associarmo-nos mais aos setores público, académico e da economia social para enfrentarmos os problemas que o Ministério da Saúde identificou, tendo à cabeça as altas taxas de incidência.
É importante notar que, de todos os transplantes realizados em Portugal, apenas 10% são ‘transplantes de dadores vivos’. Vamos trabalhar em estreita cooperação com a Sociedade Nacional de Transplantes e o setor social para promover os transplantes de dadores vivos.

Quais são as áreas estratégicas de pesquisa e desenvolvimento da Diaverum no curto e médio prazos?
A Diaverum tem um forte foco na investigação e desenvolvimento [I&D]. Realizamos muitos estudos e publicamos em todas as principais revistas médicas. A nossa I&D está sempre centrada nos pacientes. Aliás, estou muito orgulhoso dos estudos científicos que realizámos em áreas relevantes, como a depressão de pacientes renais, disfunção sexual em doença renal e do nosso estudo ‘Oral D’, que examina um fator de risco muito importante para pacientes renais: a saúde bucal, devido à doença óssea mineral e como isso aumenta o risco de doenças cardiovasculares.

Atualmente, temos focado o nosso trabalho científico em duas áreas: nutrição e o seu impacto sobre a doença renal e sobre os pacientes; e a saúde baseada em valor e ‘resultados que interessam aos pacientes’. Concentramo-nos em ambas, porque estamos conscientes de que a sustentabilidade dos sistemas de saúde no futuro dependerá, em grande medida, da forma como as partes interessadas (públicas, privadas e sociais) entendem o que significa ‘valor’ nos cuidados de saúde e como se organizarão para oferecer o melhor valor possível por euro gasto em cuidados de saúde. Todos os sistemas de cuidados de saúde no mundo estão a olhar para as melhores soluções de saúde value for money e, portanto, é muito importante que haja uma compreensão clara de como oferecer aos pacientes o melhor ‘valor para o dinheiro que pagam’.

A questão do preço também está no topo das preocupações dos líderes europeus. Como avalia essa preocupação?
Na verdade, é, e no meu ponto de vista deve continuar a ser, uma preocupação. As diretrizes europeias são muito claras quando afirmam que as opções que estão a ser feitas em relação aos fornecedores devem incorporar critérios diferentes e não se concentrar apenas no preço. Se o foco é exclusivamente no preço, os pacientes vão sofrer. Mais uma vez, todos os fornecedores devem ter uma agenda clara sobre como agregar valor ao sistema. Se houver apenas um foco no preço, o risco de os provedores optarem por atalhos para reduzir custos é muito alto e isso terá um impacto negativo nos pacientes. Isso não significa que os prestadores de cuidados de saúde não sejam altamente eficientes. Mas a minha opinião é que deve haver uma ligação muito mais clara entre o valor e os resultados médicos e os modelos de reembolso no futuro. Existem vários países no mundo que já começaram a relacionar taxas de reembolso a medidas de qualidade, como a Arábia Saudita e a Argentina, para mencionar dois países onde operamos.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.