“Uma solução com ‘haircut’ não seria impossível [de fazer] mas teria custos elevadíssimos, extraordinários, para Portugal”, defendeu Joaquim Miranda Sarmento, numa conversa com jornalistas para apresentar um estudo da Plataforma para o Crescimento Sustentável sobre a dívida portuguesa.
A solução para a dívida pública portuguesa não pode passar por um ‘haircut’, defendem os autores do estudo “Que caminhos para a dívida pública portuguesa”, hoje apresentado pela Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS).
“Uma solução com ‘haircut’ não seria impossível [de fazer] mas teria custos elevadíssimos, extraordinários, para Portugal”, defendeu Joaquim Miranda Sarmento, numa conversa com jornalistas que teve lugar esta manhã.
“Uma grande parte da dívida pública está em mãos nacionais – na poupança dos portugueses e no sector financeiro – e qualquer solução de haircut teria um impacto muito negativo”, defendeu o economista, que coordenou a equipa responsável pelo estudo.
No âmbito do estudo, foram analisados diferentes cenários de ‘haircut’ da dívida e suas consequências:
CENÁRIOS DE ‘HAIRCUT ANALISADOS’:
Os economistas da PCS analisaram vários cenários possíveis de ‘haircut’ da dívida, solução que rejeitam devido às consequências para o país.
- Haircut de 100% da dívida dos privados: isto permitiria baixar a dívida pública para 83% do PIB e poupar juros de 2% do PIB. No entanto, as consequências seriam a saída de Portugal dos mercados financeiros, tanto a nível da República como do sector privado. “Uma situação próxima daquela que ainda hoje se depara a Argentina, na sequência do default de 2001”, disse Miranda Sarmento. Acrescentou que, tendo em conta a elevada exposição dos bancos portugueses à dívida pública, seria necessária uma intervenção no setor financeiro que poderia passar por uma “solução à Chipre”, com os depositantes dos bancos a terem de suportar uma parte dos custos.
- Haircut de 100% da dívida em Obrigações do Tesouro, incluindo o BCE e o BdP: a dívida passaria de 130% para 64% do PIB e os juros seriam reduzidos em 2,5% do PIB. Teria como consequência a saída de Portugal dos mercados financeiros, uma necessidade de recapitalização do sistema financeiro (com um ‘levy’ sobre os depósitos), a falência do Fundo de Capitalização da Segurança Social e a possível saída da zona euro, defendem os autores do estudo.
- Reestruturação da dívida dos instrumentos europeus: Este cenário passaria por três hipóteses: a extensão das maturidades, o diferimento dos juros até 2025 e o haircut da dívida dos intrumentos euripeus. “Uma opção destas não está prevista nos instrumentos europeus. Como tal, ou teria o apoio de todos os Estados membros (algo altamente improvável) ou implicaria a saída de Portugal da zona euro, com consequências calamitosas”.