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Joaquim de Almeida: “Espero que Trump se enterre de tal maneira, que daqui a quatro anos ninguém vote nele”

O mais internacional dos atores portugueses diz-se assustado com o consulado de Donald Trump na sua pátria adotiva. E revela que investe nos atores portugueses, mas nos Estados Unidos.
1 Julho 2017, 11h45

Joaquim de Almeida está assustado com o novo presidente norte-americano, Donald Trump. Assusta-o sobretudo a ideia de não saber o que aí vem. O ator português tem 60 anos, dois terços da vida passada nos Estados Unidos, e, sentado no Café Lisboa, confessou ao Jornal Económico que o país onde cumpriu o sonho de ser ator de cinema, onde trabalha e paga impostos, onde se naturalizou cidadão norte-americano, onde passa os mais belos e amenos invernos, de frente para o mar, na casa de Santa Mónica, na Califórnia – esse país – já não é a América ideal.

“Donald Trump não é uma pessoa fácil de se conviver”, diz. A partir daqui não há palavras mansas. Crítico voraz dos republicanos, pouco tolerante com maus políticos e polémicas, deixa as críticas mais ácidas à pessoa, ao homem de negócios e ao Presidente dos EUA. Para o ator, Trump não passa de “um menino mimado e narcisista”, não é o “grande business man que diz ser, e, de presidencial, não tem nada”. Joaquim de Almeida desmonta a tese da destreza para os negócios com o facto de o magnata de Las Vegas ter levado vários casinos à falência e perdido dinheiro num negócio que, todos sabem, tem uma enorme percentagem de lucro. No meio da conversa e da indignação, a melhor rábula de Trump. Com o telemóvel na mão, Joaquim de Almeida conta-nos quantas notificações recebe, por dia, de órgãos de comunicação social, que começam assim: Trump fez…; Trump disse…; Trump tweetou.

O ator antevê tempos incertos nas mãos de um Presidente que “diz asneiras e não se sabe comportar, que ainda não fez nem provou nada, que se limita a destruir tudo aquilo que Obama construiu”, e que levou para a Casa Branca “multimilionários de direita” que, acredita, “vão construir leis para proteger os negócios e as fortunas”.

Já no fim da conversa sobre o homem que lhe roubou a “América ideal”, ficou o desejo mais profundo de Joaquim de Almeida: “Espero que ele se enterre de tal maneira, que daqui a quatro anos ninguém vote nele”.

Lembrámo-lo de que há sempre uma casa em Sintra (a dele) desocupada quase todo o ano, mas o ator português mais internacional de todos não parece seduzido pela ideia de voltar definitivamente para Portugal. Não o diz com arrogância, mas para um homem que se habituou a ser bem pago para fazer o que mais gosta, com alguns dos melhores, era agora impossível ser ator num país “onde se investe tão pouco em cultura, onde não há cinema e o pouco cinema que se faz, não paga”.

O investimento na cultura, que não chega sequer a 1% do Orçamento do Estado, não ajuda a que tenhamos mais e melhor cinema, mais internacional e menos local. Para Joaquim de Almeida, “o cinema em Portugal está muito difícil, ou faz-se com muito pouco dinheiro. É uma proeza estar a fazer cinema com o pouco dinheiro que se faz em Portugal”.

O ator reconhece que há talento no país e até vai investir em talento português, mas nos EUA. “Estão lá agora uns atores portugueses, que criaram uma produtora em associação com outros atores americanos, que estão a escrever coisas e a tentar produzi-las. Eu, aliás, investi um bocadinho de dinheiro numa dessas coisas, porque acho que eles têm talento. E vou entrar”. Talvez seja o investimento que nunca fez numa produtora própria, porque teve uma carreira repartida por muitos países, ou porque – e talvez esta seja a verdadeira razão que nos conta – continue sobretudo a gostar de ser ator e, se a memória permitir, venham os 80. Não há reforma que o pare.

Ator até ao fim.

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