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Literacia digital: saber e compreender é muito mais do que ter!

O futuro do mundo do trabalho é neste momento claramente digital. Atualmente e mais do que nunca, o saber-compreender este mundo é crucial para que se possa desenvolver inovação, mas também para a obtenção de um trabalho e para o fortalecimento de uma sociedade e de uma economia realmente digital com pessoas competentes.
22 Março 2021, 07h15

Hoje proponho que façamos uma viagem no tempo pelo mundo de algumas “máquinas”. O surgimento do telégrafo, da rádio e do telefone, foram inovações extraordinárias que revolucionaram toda uma forma de comunicar e de interagir, com claro impacto na vida em sociedade e, como não poderia deixar de ser, de toda a economia.

Quantos de nós se lembram dos telégrafos? Talvez muito poucos.

Quantos de nós ouvimos a rádio? Talvez alguns, particularmente quando vamos no carro logo pela manhã a ouvir as notícias do dia.

Quantos de nós têm ou utilizam diariamente o telemóvel? Arrisco-me a afirmar que 99.9% de todos nós o tem.

Mas quem se lembra do velhinho “telefone” onde tínhamos que “puxar” os números para telefonar? Talvez muito poucos ou quase ninguém.

Estas (e outras) “máquinas” marcaram a história do mundo e impulsionaram toda uma sociedade para se adaptar a novos meios de comunicação e hoje, praticamente, não conseguimos viver sem alguns deles.

Com esta revolução das “máquinas”, chegou uma que está presente em muitas casas e na maioria dos locais de trabalho nos nossos dias. Falo do computador. Esta “máquina” é quase uma extensão de nós, seja da nossa vida pessoal ou profissional.

Talvez mais do que falar em computador, hoje falamos de internet, numa “simbiose perfeita” da junção da “máquina” com a comunicação. Mas já pensaram que a internet é ainda uma “adolescente”, tendo surgido apenas por volta dos anos 70! Contudo, é uma das maiores revoluções mundiais de sempre!

E porque me dedico hoje a falar deste assunto? A pandemia trouxe muitas discussões. Uma delas foi um (res)surgimento, em grande força, da importância de desenvolver e promover a literacia digital, ou competências digitais, tal como o fazemos com a leitura e com a matemática desde muito cedo.

A Comissão Europeia refere que todos os europeus necessitam de competências digitais não só para comunicar, mas também para estudar, trabalhar, aceder a serviços e encontrar informação fiável. Contudo, 4 em 10 adultos detém poucas competências digitais básicas (Comissão Europeia, 2021). Este número, ainda que pareça pequeno, é assustador, particularmente quando nesta mesma notícia é referido que 70% das empresas mencionam que a falta de recursos humanos com competências digitais adequadas é um obstáculo ao investimento e ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras que possam beneficiar os cidadãos.

O futuro do mundo do trabalho é neste momento claramente digital. Atualmente e mais do que nunca, o saber-compreender este mundo é crucial para que se possa desenvolver inovação, mas também para a obtenção de um trabalho e para o fortalecimento de uma sociedade e de uma economia realmente digital com pessoas competentes. Mas o que são competências digitais ou literacia digital?

Numa entrevista para um emprego, quando somos questionados se possuímos competências digitais, não nos estão a questionar se temos um computador, um portátil, uma tablet ou até um telemóvel, mas sim se sabemos (e compreendemos) como utilizar as funcionalidades destes equipamentos! Por isso mesmo, competências digitais não significam ter, mas saber-compreender como utilizá-las de modo eficiente! Evidentemente que para desenvolver este tipo de literacia é fundamental o acesso à “máquina”. Mas não basta ter ou aceder a esta. Há que saber-compreender como utilizar “a máquina” e tudo o que a mesma envolve. Um estudo internacional realizado em 2018, cujo objetivo foi analisar em que medida os jovens são capazes de utilizar as TIC de forma produtiva, revelou que apenas 2% dos estudantes adquiriram altos níveis de competências digitais (Fraillon, et. al., 2020). Num mundo que se diz “digital” e onde se assume que as crianças “já nascem a saber mexer no computador”, estes resultados sugerem que estas competências não devem ser deixadas para uma aprendizagem incidental, tal como os próprios investigadores o afirmam (Fraillon, et. al., 2020). Os jovens não desenvolvem competências digitais de alto nível, apenas porque nasceram a utilizar as “máquinas”, nem desenvolvem estas competências somente porque têm o equipamento necessário para tal (ainda que obviamente o acesso seja necessário para aprender) (Fraillon, et al., 2020).

É necessário ensinar o como utilizar e levar à compreensão do seu funcionamento, de forma eficaz e competente, para que então “nasçam” os verdadeiros “nativos digitais”. Por isso, desenganem-se aqueles que pensam que o ter significa saber e compreender. Já dizia Albert Einstein “Any fool can know. The point is to inderstand.”, porque o saber-compreender é muito mais do que o simples ter!

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