As autárquicas em Oeiras prefiguravam-se como um case study. Um barómetro da cultura política mesmo antes das decisões judiciais de rejeitar e voltar a aceitar duas das candidaturas.

Na elaboração da lei eleitoral os partidos reservaram para si avultados privilégios. Por isso, apesar das alterações, a Assembleia da Republica é um feudo onde os independentes apenas têm entrada através de listas partidárias e, no Poder Local, os grupos de cidadãos eleitores só desde 2001 concorrem à Câmara e à Assembleia Municipal.

Luta desigual que não obsta a que os independentes marquem a cena política, como acontece em Oeiras, município que conheceu quatro fases governativas. As três iniciais dominadas por dois partidos e uma coligação e a atual por um grupo de cidadãos eleitores. Figura incontornável nos dois períodos: Isaltino Morais, autarca sucessivamente reeleito, mas a quem o presidente do PSD negou apoio em 2005.

Ora, Isaltino não acatou a decisão, criou o IOMAF – Isaltino Oeiras Mais À Frente – cujas vitórias, malgrado as derrotas do líder no plano da justiça, se foram sucedendo: 2005, 2009 e 2013, ano em que a lei de limitação de mandatos exigiu a passagem de testemunho ao vice-presidente, Paulo Vistas. Uma vitória que Isaltino celebrou na prisão.

Porém, quando voltou à liberdade, Isaltino recusou o estatuto de senador. Quis liderar o executivo. Numa revisitação de “Ó tempo volta para trás”, criou o movimento Isaltino – Inovar Oeiras de Volta. Uma decisão que obrigou Vistas a substituir na sigla IOMAF o “I” de Isaltino pelo “I” de Independentes.

Uma corrida de presidentes, pois o PS apostou em Joaquim Raposo, o antigo edil da Amadora. Candidato que surge nos cartazes anunciando projetos para o problema das acessibilidades, embora não constitua bom cartão-de-visita a forma como ali ao lado um correligionário faz jus ao apelido ao transformar Lisboa numa medina rodoviária.

Entretanto, nasceram outras candidaturas: Heloísa Apolónia pela CDU, Ângelo Pereira apoiado por PSD, CDS-PP e PPM, Sónia Gonçalves, vereadora dissidente, pelo RENASCER Oeiras 2017 e Pedro Perestrello pelo PNR.

Uma pugna com fraca probabilidade de as dissidências do IOMAF serem capitalizadas pelos partidos. Mais previsível será a luta entre o IOMAF e o INOVAR. A maioria absoluta como miragem num concelho que prefere o mar ao deserto. Um pleito entre antigos compagnons obrigados a conviver ou a procurar aliados. Paradigma novo. A democraticidade independentista em análise.

Até ver, a forma como Isaltino reagiu à rejeição inicial e os argumentos esgrimidos na praça pública não são bom augúrio. Mostram que os independentes, se necessário, também usam os meios que criticam aos partidos.

A vitória primeiro. A ética esquecida. A natureza humana a ditar a lei. Basta ver as Tábuas com que Moisés desceu a montanha.