A luta eleitoral em Lisboa poderia ter sido lançada em moldes mais competitivos do que há quatro anos quando António Costa não teve dificuldade em mostrar que a colheita de Seara na capital nada teria a ver com Sintra. Bastou ao atual primeiro-ministro manter a aglutinação com os movimentos liderados por Helena Roseta e Sá Fernandes. Um novo ensaio para a futura geringonça.
A promoção de Fernando Medina a presidente parecia aconselhar o PSD e o CDS-PP a tentarem, em conjunto, recuperar a câmara, pois Medina permaneceu colado à imagem de Costa. Até no sorriso. A vizinhança de São Bento foi por demais evidente em decisões da exclusiva competência da autarquia. Daí o protocolo com o Governo e os 11 milhões de euros com que a câmara vai contribuir para as obras do Palácio Nacional da Ajuda. A aposta na monumentalidade enquanto se intensificam problemas que afetam os lisboetas. Como o trânsito e a habitação.
O trânsito porque Lisboa, apesar do tão criticado quanto útil túnel do Santana, perdão, do Marquês, parece uma medina engarrafada. Outro Fernando, o rei, edificou muralhas. Este Fernando, o herdeiro de Costa, teima em meter o Rossio na Betesga. Especializou-se em plantar parquímetros. Sementeira garantida. Um paraíso para a EMEL. Sigla que desdobrou em “é mel”. Para os cofres da autarquia, bem entendido. Sobre gestão e planeamento nem vale a pena falar. Do Metro à Carris passando pela Segunda Circular. A hora de ponta sempre a crescer.
A habitação pois Lisboa só é menina e moça na canção. A degradação leva a palma à recuperação para residência permanente. O autoalojamento é uma falácia. Falta habitação social. As rendas proibitivas afugentam a população. Ficam os serviços e os turistas. Uns e outros bem-vindos se a identidade de Lisboa fosse acautelada. Não está a ser. Um cosmopolitismo sem residentes.
Face a este cenário era crível que o PSD e o CDS-PP apresentassem uma lista conjunta. Não se afigurando fácil a vitória, seria previsível ir além dos quatro vereadores de 2013.
Porém, a lentidão com que o PSD encarou o processo – o sonho das legislativas antecipadas – levou a que Assunção Cristas desacreditasse no acordo e cantasse de galo anunciando a sua candidatura enquanto o PSD saltitava de candidato para candidato.
Teresa sabe que não foi a primeira nem a segunda escolha. Ao aceitar fez jus aos apelidos. Foi leal ao coelho. A Passos Coelho, obviamente. Ela que nos habituou a ser leal aos seus princípios. Teresa já cumpriu a sua parte. Agora não lhe peçam um discurso mobilizador. Ou o estudo aprofundado dos dossiês. Seriam demasiados sacrifícios. Apesar da profusão de hotéis em Lisboa, o PSD vai deitar-se na cama que fez.
Lá do alto, o Marquês assiste. Apetece-lhe imitar o seu rei. Fugir para o Alto da Ajuda. A poluição cansa. Tal como a falta de estratégia. A persistência no erro.