Albin Kurti, líder do partido nacionalista de esquerda Vetevendosje (VV), que venceu as eleições kosovares de 14 de fevereiro passado (com mais de 41% dos votos dos cerca de 1,8 milhões de eleitores) e é o novo primeiro-ministro, teceu fortes críticas à Sérvia (que não reconhece a sua independência) e recusa fazer novas cedências.
Albin Kurti, afirma que o Kosovo já fez um compromisso com o plano de Ahtisaari e que, nesse quadro, não vê qualquer razão para estudar uma alternativa. “Não faremos qualquer outro compromisso, [o plano de Ahtisaari] deve ser claramente afirmado“, disse, ao presentar o programa do governo no parlamento de Pristina, capital do país.
O Plano Ahtisaari foi proposto em 2007 pelo mediador das Nações Unidas no Kosovo, Martti Ahtisaari, e prevê a criação de um Estado no Kosovo, “multiétnico, democrático e que respeite o Estado de direito”, sendo “supervisionado pela comunidade internacional”. Ahtisaari propunha que o Kosovo assumisse a possibilidade de redigir uma constituição, ter uma bandeira e um hino; de se juntar a organizações internacionais; concedesse uma larga autonomia aos sérvios do Kosovo e garantir os direitos da minoria sérvia; e assumisse duas línguas oficiais, a albanesa e a sérvia. A Sérvia reagiu fortemente contra o plano, sugerindo que este seria um passo para a independência, o que parece ficar claro pelo teor das propostas.
O novo primeiro-ministro disse que sem “o reconhecimento da realidade do Kosovo independente e a aceitação dessa verdade pela Sérvia”, não pode haver normalização das relações.
“Vamos melhorar as nossas relações de vizinhança por meio da reciprocidade. O caminho para a integração na União Europeia pode ser desafiador, mas não há alternativa”, disse Kurti, pedindo “unidade contra a Sérvia”, se o país não aceitar um Kosovo independente. “Devemos unir-nos contra a Sérvia. Exigiremos um debate parlamentar até a exaustão”, afirmou.
Para o interior do país, o novo primeiro-ministro disse que o seu governo pretende cooperar com a oposição e a sociedade civil – depois de anos de uma enorme instabilidade política e de níveis de corrupção, tráfico e economia informal.
Os desentendimentos entre a Sérvia e o Kosovo são um dos problemas que mais afligem a União Europeia – que tem a intenção (para já não revista) de fazer entrar todos os países dos Balcãs (a antiga Federação Jugoslava, exceto a Eslovénia e a Croácia, que já fazem parte) no seu agregado. Bruxelas tem insistido em fazer tudo para que os dois países se entendam – nomeadamente impondo compromissos em troca de financiamento – mas tem sido muito pouco bem-sucedido.
E no terreno não há vislumbre de que os povos balcânicos, que sazonalmente entram em guerra uns com os outros – salvo nas alturas em que estão todos unidos contra um inimigo comum – venham a encontrar forma de se entenderem. É aparentemente assim entre o Kosovo e a Sérvia, como é também entre muçulmanos e cristãos na Bosnia-Herzegovina.
Faz esta quarta-feira, 24 de março, 22 anos que a NATO deu início a 78 dias de bombardeamento ininterruptos contra a Sérvia, na altura República Federal da Jugoslávia, precisamente por causa (talvez entre outros assuntos pendentes) dos problemas com o Kosovo.
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