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Kosovo: novo primeiro-ministro tece fortes críticas à Sérvia

É um dos pesadelos da União Europeia, que faz tensões de agregar os países dos Balcãs aos 27. No discurso de tomada de posse, Albin Kurti, afirma que não há mais negociações enquanto a Sérvia não reconhecer o Kosovo.
24 Março 2021, 18h00

Albin Kurti, líder do partido nacionalista de esquerda Vetevendosje (VV), que venceu as eleições kosovares de 14 de fevereiro passado (com mais de 41% dos votos dos cerca de 1,8 milhões de eleitores) e é o novo primeiro-ministro, teceu fortes críticas à Sérvia (que não reconhece a sua independência) e recusa fazer novas cedências.

Albin Kurti, afirma que o Kosovo já fez um compromisso com o plano de Ahtisaari e que, nesse quadro, não vê qualquer razão para estudar uma alternativa. “Não faremos qualquer outro compromisso, [o plano de Ahtisaari] deve ser claramente afirmado“, disse, ao presentar o programa do governo no parlamento de Pristina, capital do país.

O Plano Ahtisaari foi proposto em 2007 pelo mediador das Nações Unidas no Kosovo, Martti Ahtisaari, e prevê a criação de um Estado no Kosovo, “multiétnico, democrático e que respeite o Estado de direito”, sendo “supervisionado pela comunidade internacional”. Ahtisaari propunha que o Kosovo assumisse a possibilidade de redigir uma constituição, ter uma bandeira e um hino; de se juntar a organizações internacionais; concedesse uma larga autonomia aos sérvios do Kosovo e garantir os direitos da minoria sérvia; e assumisse duas línguas oficiais, a albanesa e a sérvia. A Sérvia reagiu fortemente contra o plano, sugerindo que este seria um passo para a independência, o que parece ficar claro pelo teor das propostas.

O novo primeiro-ministro disse que sem “o reconhecimento da realidade do Kosovo independente e a aceitação dessa verdade pela Sérvia”, não pode haver normalização das relações.

“Vamos melhorar as nossas relações de vizinhança por meio da reciprocidade. O caminho para a integração na União Europeia pode ser desafiador, mas não há alternativa”, disse Kurti, pedindo “unidade contra a Sérvia”, se o país não aceitar um Kosovo independente. “Devemos unir-nos contra a Sérvia. Exigiremos um debate parlamentar até a exaustão”, afirmou.

Para o interior do país, o novo primeiro-ministro disse que o seu governo pretende cooperar com a oposição e a sociedade civil – depois de anos de uma enorme instabilidade política e de níveis de corrupção, tráfico e economia informal.

Os desentendimentos entre a Sérvia e o Kosovo são um dos problemas que mais afligem a União Europeia – que tem a intenção (para já não revista) de fazer entrar todos os países dos Balcãs (a antiga Federação Jugoslava, exceto a Eslovénia e a Croácia, que já fazem parte) no seu agregado. Bruxelas tem insistido em fazer tudo para que os dois países se entendam – nomeadamente impondo compromissos em troca de financiamento – mas tem sido muito pouco bem-sucedido.

E no terreno não há vislumbre de que os povos balcânicos, que sazonalmente entram em guerra uns com os outros – salvo nas alturas em que estão todos unidos contra um inimigo comum – venham a encontrar forma de se entenderem. É aparentemente assim entre o Kosovo e a Sérvia, como é também entre muçulmanos e cristãos na Bosnia-Herzegovina.

Faz esta quarta-feira, 24 de março, 22 anos que a NATO deu início a 78 dias de bombardeamento ininterruptos contra a Sérvia, na altura República Federal da Jugoslávia, precisamente por causa (talvez entre outros assuntos pendentes) dos problemas com o Kosovo.

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