Tem sido recorrente, na ilha, o cancelamento de voos por força de condições atmosféricas adversas. Nenhum de nós se atreverá a contestar, por esses motivos, o cancelamento ou adiamento de viagens por parte de várias companhias. A segurança, em qualquer contexto, é uma premissa irrebatível.
Porém, podemos e devemos contestar a inoperância institucional, por parte de entidades públicas e/ou governamentais que acusam impreparação ou mesmo negligencia face aos avultados transtornos, que “tangem” condições sub-humanas, experienciadas por milhares de passageiros, nos últimos meses. E são vários os relatos públicos e particulares desses contratempos: desde pernoitar, por vezes mais do que uma noite, no aeroporto, sem qualquer provimento alimentar ou de água, e sem qualquer diligência institucional para alojar os passageiros que “ficam em terra”; sem a regular prestação de informações por parte das entidades – e nesta falha, destaca-se, inadmissivelmente a companhia aérea pública nacional – que legitimamente se impõe nestas circunstâncias, em que a vida de tantos fica suspensa e mesmo prejudicada.
No último dia 3, por exemplo a péssima prestação de serviço público da TAP foi evidente. Por causas eólicas incontornáveis para a aeronáutica, alguns voos foram cancelados, a partir do Funchal. Muitas pessoas haviam pernoitado no aeroporto, sem qualquer apoio, informação, água ou comida, que só disponibilizaram pela manhã. Nessas pessoas encontravam-se idosos e famílias com crianças. Para remarcação das viagens recomendavam as agências de viagens ou o serviço telefónico da TAP – chamadas de valor acrescentado com atendimento automático e esperas infindáveis, em muitos casos infrutíferas e ainda assim com altos custos. Quando eram solicitadas informações, por parte dos passageiros em evidente preocupação e até desespero, remetiam as mesmas para daí a uma hora, adiamento que se sucedia consecutivamente a cada hora e que se afigurava sem fim à vista. Mesmo ligando para as agências para remarcação ou cancelamento das viagens, estas informavam que passadas horas após o cancelamento dos voos, a TAP ainda não havia desbloqueado as reservas. Entretanto, estas inflacionavam e havia passagens a mais de 1000 euros com uma duração de 28 horas! A acomodação dos passageiros em unidades de alojamento, não tem, igualmente, sido devida, regular ou atempadamente providenciada. Ou a procura de alternativas, como fez recentemente a Easyjet que aterrou a nave no Porto Santo e contratou com o ferry “Lobo Marinho” o transporte de dezenas de passageiros para o Funchal.
A TAP escuda-se nos ventos, para escamotear a sua política de liberalização das tarifas aéreas que tem penalizado sobretudo os madeirenses, mas também a afluência turística. Perante o exposto, é urgente que o Governo Regional atente a estas situações e envide prementemente as soluções necessárias, e devidas reivindicações ao Governo da República, sob pena de prejuízo da própria economia regional.
O “vento” não pode “ ter sempre as costas largas”, sobretudo quando estão em causa Pessoas, e a nossa economia.