A Nutrigreen, empresa que tem o Novo Banco como principal credor, entrou em processo de insolvência a 9 de outubro, tendo já um administrador nomeado pelo Tribunal Judicial da Comarca de Santarém, Jorge Calvete.
Os créditos do banco liderado por António Ramalho somam 20,5 milhões de euros, entre capital e juros. Isto segundo a lista provisória de credores publicada a 15 de dezembro de 2015, altura em que a empresa entrou em Processo Especial de Revitalização (PER). Com este volume de créditos reconhecidos, o Novo Banco lidera a lista de credores da empresa de transformação de frutas e legumes em sumos, que foi uma das coqueluches do Banco Espírito Santo (BES) de Ricardo Salgado. A Espírito Santo (ES) Ventures era acionista da empresa, com 20% do capital, face a 80% de Carlos Carvalhinha.
Segundo soube o Jornal Económico, o Novo Banco já fez o write-off deste crédito, reconhecendo a imparidade a 100%, pelo que não são esperados impactos adicionais nas contas do banco.
Ao todo, a empresa sediada em Torres Novas tem créditos reconhecidos de 34 milhões de euros.
Além do Novo Banco, na lista de credores surge a ES Ventures, com um crédito de 7,4 milhões de euros. Este fundo de capital de risco saiu do universo do Novo Banco já na era de António Ramalho, que o vendeu em agosto do ano passado. Na altura, em comunicado, o Novo Banco anunciava que a Sonaecom, através da Sonae Investment Management – Software and Technology (Sonae IM), liderou um grupo de investidores que lhe adquiriu três fundos de investimento, ficando com as unidades de participação do ES Ventures I + I, do ESV II e do ESV III.
Outra entidade que pertencia ao antigo Grupo Espírito Santo, a seguradora Tranquilidade, surge também como credora da Nutrigreen. A seguradora, que hoje pertence à norte-americana Apollo, tem um crédito a receber no valor de 48,4 mil euros.
De empresa campeã a pesadelo
Em 2010, era assim que o BES anunciava a empresa que se candidatava aos prémios BES Inovação: “É junto à saída da A1, em Torres Novas, que fica a Nutrigreen, uma empresa recente que já acumula prémios de inovação a nível mundial e que transforma frutas e legumes em produtos 100% naturais”.
A empresa que parecia a campeã da inovação acabou num pesadelo. O ‘desaire’ da empresa remonta ao acordo com a multinacional Danone, feito em 2010, que levou a empresa portuguesa a instalar na fábrica máquinas à medida das exigências da empresa francesa para produzir um novo sumo com que a multinacional se propunha “atacar” o mercado dos sumos naturais.
Mas a crise de dívida soberana e de crédito, que despontou em 2011, trocou as voltas à Nutrigreen. A crise económica e financeira bateu também à porta da Danone e esta começou a encerrar fábricas em vários países e a cancelar investimentos. O investimento em Portugal foi um desses. O assunto acabou em tribunal, com a Danone condenada a pagar à Nutrigreen 12 milhões de euros de indemnização, que já foi gasta. Segundo Carlos Carvalhinha, que já não está na Nutrigreen desde a entrada em PER, o dinheiro foi reinvestido na reestruturação de dívida, em maquinaria nova e fundo de maneio.
Em dezembro de 2012 a Nutrigreen, ainda controlada por Carlos Carvalhinha, já levava 20 milhões de euros de dinheiro investido, quando chega a notícia de que haveria investidores dos Emirados Árabes Unidos interessados em comprar a empresa de Torres Novas. Mas, passados dois anos, nem sinal dos árabes. Ainda assim a empresa chegou a 2014 com um volume de negócios de seis milhões de euros e com 140 pessoas empregadas.
A empresa não tem ainda novos investidores quando o Grupo Espírito Santo sucumbe e é decidida a Resolução do BES, em agosto de 2014, deixando a Nutrigreen sem o seu principal apoio financeiro.
Com Eduardo Stock da Cunha à frente do já então Novo Banco (que ficou com a participação de 20% na Nutrigreen, via ES Ventures), teve lugar uma tentativa de recuperar a empresa.
A Nutrigreen chegou a 2015 com uma fábrica equipada com máquinas de última geração e decidiu apostar na inovação tecnológica, com vista a abrir uma segunda unidade de produção, mas só para saladas. Carvalhinha disse então ao “Expresso” que tinha vários interessados estrangeiros na empresa, mas estas intenções acabaram por não se materializar. E no final desse ano a empresa pediu um PER.
Durante o PER, entrou efetivamente um novo acionista na Nutrigreen, o espanhol Marcial Portela, ex-quadro do Santander. Fontes contactadas pelo Jornal Económico referiram que Portela terá investido 4,5 milhões de euros para recuperar a empresa. Em vão, porque no passado dia 2 de outubro deu entrada no Tribunal da Comarca de Santarém a petição inicial de insolvência.
No dia 6 de outubro foi proferida a sentença de declaração de insolvência da Nutrigreen. O processo de insolvência foi publicado no portal Citius a 9 de outubro.
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