O Goldman Sachs está confiante numa forte recuperação da economia portuguesa este ano, seguindo a tendência da zona euro, mesmo que tenha de superar a profunda quebra do produto interno bruto (PIB) no ano passado, dada a exposição ao sector dos serviços. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Jari Stehn, economista-chefe para a Europa do banco de investimento, considera os mais recentes dados da economia portuguesa “encorajadores” e sublinha o potencial impacto de 5% do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português no PIB nos próximos cinco anos, desde que, diz, seja implementado de forma “eficiente”.
“As previsões para este ano para Portugal são de forte crescimento”, afirma, justificando que dados como o indicador coincidente do Banco de Portugal ou a confiança dos consumidores revelam que “a economia está a começar a dar uma reviravolta em Portugal, tal como noutros países” da zona euro, pelo que as perspetivas para o país são “positivas”.
Apesar do Goldman Sachs não ter previsões específicas para Portugal, Jari Stehn acredita que a economia lusa irá começar a trilhar o caminho da recuperação já este ano, superando a hecatombe do ano passado. “Em termos de PIB, é claro que a quebra foi maior em Portugal do que em muitos outros países. Regra geral, maior no Sul do que no Norte [da Europa] e a razão é que os serviços têm uma maior peso sobre toda a atividade do que a manufatura”, assinala. Pelo contrário, países como a Alemanha, com uma estrutura económica distinta, registaram uma menor contração.
Apesar das boas perspetivas – até porque “os números recentes de crescimento em Portugal parecem encorajadores”, diz – há um caminho a percorrer. “Os países do sul da Europa, incluindo Portugal, ainda precisam recuperar o atraso. A economia portuguesa ainda estava cerca de 9% abaixo do nível pré-Covid no primeiro trimestre, quando para zona euro, como um todo, eram 5%. Portugal tem mais a recuperar”, assinala.
Nesse caminho, Portugal contará com o PRR como importante alavanca e que, recorda o economista, representará cerca de 9% da riqueza produzida em Portugal. “Achamos que vai ter um grande efeito na economia portuguesa, que estimamos de cerca de 5% nos próximos cinco anos”, antecipa.
“É claro que precisamos de observar a implementação. Precisa de ser implementado de forma eficiente e atempada, mas estamos bastante positivos”, vinca.
Zona euro cresce 5,2% este ano
A economia ainda está significativamente abaixo dos níveis considerados normais na Europa, devido à contração na atividade provocada pela pandemia em 2020. Contudo, Stehn assinala que o Goldman Sachs está, atualmente, “bastante positivo sobre a recuperação da Covid-19”.
Entre as razões que elenca está o progresso significativo na vertente sanitária, não só com uma diminuição do número de casos de infeção na zona euro, como com os avanços na vacinação e a reabertura da economia. Este quadro, aliado ao facto de as políticas orçamentais continuarem expansionistas e o Fundo de Recuperação vir a impulsionar significativamente o PIB, bem como o ambiente de crescimento global – “importante para a Europa porque é muito aberta ao comércio”- leva o banco de investimento a estimar um crescimento do PIB de 5,2% este ano na zona euro e de 4,5% em 2022.
“Quando olhamos para o sector da indústria, a atividade, em termos gerais, voltou para onde estava antes do surto da Covid-19. Se olharmos para a produção industrial, por exemplo, para a zona euro, já recuperou para o nível pré-pandémico no início do ano”, exemplifica, apontando que o sector dos serviços continua a ser dos mais fustigados pelos efeitos da pandemia, nomeadamente devido às restrições implementadas em vários países para conter a propagação do vírus.
Apoio orçamental “deve continuar”
Numa altura em que o debate sobre o timing da retirada dos estímulos orçamentais começa a ganhar terreno, o economista não tem dúvidas: “O apoio orçamental deve continuar a apoiar a recuperação, porque ainda há um longo caminho a percorrer em termos de recuperação”, diz.
Para Jari Stehn, existem riscos nesse processo e é precisamente por isso que é “importante” que a política orçamental se mantenha expansionista na Europa.
“O Fundo de Recuperação vai ajudar, mas também acho importante que, a nível nacional, os países não recorram a ajustes orçamentais demasiado rápido”, defende, acrescentando que tal é “adequado” também para o apoio monetário.
Esta foi, diz, uma das diferenças na resposta à atual crise face ao passado. “Houve uma mudança significativa no cenário das políticas como resultado da crise pandémica. Acho que vimos isso a todos os níveis da União Europeia”, refere, exemplificando que os governos aumentaram os défices e colocaram ênfase nos programas de apoio aos empregos e às empresas.
“Acho que tiveram bastante sucesso, se olharmos para a taxa de desemprego ou as falências não terem subido muito”, indica.
Um exemplo? A Alemanha, aponta, justificando que “deixou cair a política orçamental de défice zero. Os governos nacionais deram muito apoio”.
Outra das vertentes foi a criação do Next Generation EU, que classifica como “um grande passo para a União Europeia”.
“Foi um momento importante porque durante anos discutimos a necessidade de uma capacidade orçamental central da União Europeia. O Fundo de Recuperação é um fundo temporário, mas é possível que alguns dos seus elementos se mantenham”, acredita, elogiando ainda a ação do Banco Central Europeu.
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