As eleições autárquicas deste domingo foram as primeiras de sempre em que nenhum candidato conseguiu passar a barreira dos 100 mil votos, ficando os mais próximos bastante distantes dessa fasquia. Tal como costuma suceder, os mais votados em 2021 foram os protagonistas da disputa eleitoral pela Câmara de Lisboa, com Carlos Moedas a somar 83.121 votos, derrotando o incumbente socialista Fernando Medina, que não foi além de 80.822 votos.
O próprio Fernando Medina conseguira 106.037 votos em Lisboa nas autárquicas de 2017, mesmo ficando aquém da maioria absoluta no executivo camarário da capital, ao contrário do que sucedera em 2009 e em 2013 ao antecessor António Costa, o qual teve consigo nessas ocasiões 123.372 e 116.425 lisboetas, respetivamente. Aliás, o atual primeiro-ministro só ficou (bastante) abaixo dos 100 mil votos nas intercalares de 2007, as quais venceu com apenas 56.751 votos, superando os desavindos Carmona Rodrigues e Pedro Santana Lopes.
Bastante perto de chegar aos 100 mil votos ficou Luís Filipe Menezes ao ser reeleito para o seu último mandato enquanto presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia em 2009 (92.486 votos), confirmando a tendência para essa autarquia do distrito do Porto ser uma das que atribuem maiores votações aos seus eleitos. No domingo passado, o terceiro autarca mais votado em Portugal foi justamente o edil socialista Eduardo Vítor Rodrigues, com 73.712 votos que o deixaram pouco atrás de Moedas e Medina, mas bastante abaixo dos 85.118 votos que os eleitores de Vila Nova de Gaia lhe deram em 2017, ao conquistar o segundo mandato consecutivo.
Também acima dos 100 mil votos ficou Pedro Santana Lopes em 2009, embora os 108.457 boletins válidos não lhe tenham permitido vencer António Costa. Quatro anos antes fora Carmona Rodrigues, seu antigo vice-presidente, a ser eleito presidente da Câmara de Lisboa, com 119.837, muito à frente do socialista Manuel Maria Carrilho.
Intenso e marcado por grande afluência às urnas foi o duelo autárquico lisboeta de 2001, quando o social-democrata Pedro Santana Lopes saiu da Câmara da Figueira da Foz (para onde voltou este ano, como independente) e derrotou o incumbente socialista João Soares, então coligado com o PCP e o PEV. Santana obteve 131.135 e Soares 130.279, sucedendo-se nos anos seguintes relatos de que terá havido erros na contagem com influência no resultado final.
Krus Abecasis e Jorge Sampaio são os recordistas do poder local
Recuando até aos primórdios do regime democrático sempre houve candidatos à autarquia da capital com mais de 100 mil votos. A começar por 1976, com a vitória do socialista Aquilino Ribeiro Machado, que obteve 158.502, iniciando-se em 1979 a era do centrista Nuno Krus Abecasis, candidato da Aliança Democrática em 1979, que estabeleceu o recorde (cada vez mais difícil de bater) de 228.656 votos nessa candidatura.
Abecasis seria reeleito em 1982, com 198.274 votos (mas dessa vez sem maioria absoluta no executivo camarário), também pela Aliança Democrática, e cumpriria um terceiro mandato, com 177.439 eleitores a colocarem a cruz junto ao símbolo do PSD – o centro-direita teve listas cruzadas, cabendo ao CDS a lista para a Assembleia Municipal de Lisboa, que contou com menos alguns milhares de votos.
Seguiu-se o vice-recordista Jorge Sampaio, do PS, que conquistou a Câmara de Lisboa em 1989, à frente de uma ampla frente de esquerda socialista, comunista e não só (incluindo os partidos que dariam mais tarde origem ao Bloco de Esquerda), com 180.635 votos, bastante à frente do rival de centro-direita Marcelo Rebelo de Sousa, a quem nem uma campanha “à americana”, com um mergulho no rio Tejo, valeu mais do que agora inatingíveis 154.888 votos.
Os dois protagonistas da disputa de 1989 viriam a ser eleitos para o Palácio de Belém, mas Jorge Sampaio manteve-se mais alguns anos na Praça do Município, estabelecendo a segunda maior votação de sempre para um candidato autárquico em 1993. Foram 200.822 votos para a coligação entre PS, PCP, PEV, PSR e UDP que encabeçou, arrasando a concorrência de direita, e quando abandonou a Câmara de Lisboa para lançar a candidatura às presidenciais de 1996 deixou o vice-presidente João Soares no seu lugar.
Este ‘notável’ socialista, filho do então Presidente da República Mário Soares, obteve 165.008 votos nas autárquicas de 1997, já sem contar com o PSR de Francisco Louçã nas listas, mas quatro anos mais tarde João Soares não conseguiria travar a caminhada de Santana Lopes. Apesar de ter um resultado que atualmente lhe valeria uma vitória folgada na maior autarquia portuguesa.
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