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Livro: “Viagens”

Viajante afortunado, escritor célebre, proscrito da Áustria nazi, Zweig percorreu o mundo com a avidez de quem pretende realmente compreender civilizações e culturas diferentes da sua. Para ler devagar ou de um ‘trago’.
9 Outubro 2021, 10h37

 

Incluindo textos escritos entre 1902 e 1940, este livro de Stefan Zweig leva-nos de Ostende, cidade costeira belga, aos jardins ingleses, passando, por exemplo, por Sevilha (“Há cidades onde nunca se está pela primeira vez”), Bruges (“é difícil conceber algo de uma beleza mais triste do que os canais de Bruges”), Avinhão (e arredores, com a célebre fonte de Vaucluse, imortal graças aos amantes Laura e Petrarca), o mítico hotel suíço Schwert, Dijon e a sua feira gastronómica.

E ainda Oxford em período de férias letivas, ou uma ida à Metropolitan Opera House, em Nova Iorque, onde se junta a “uma multidão fervorosa (a mascar pastilha elástica)” para assistir a uma récita da wagneriana ópera “Parsifal”.

Estas e outras considerações, por entre delicadas e pertinentes descrições de lugares e paisagens, com a indiscutível qualidade literária da escrita de Zweig e a acutilância do observador atento e atencioso, fazem de “Viagens” um dos mais interessantes livros de viagens publicado nos últimos tempos em Portugal – editado pela Relógio d’Água e traduzido do alemão por Ana Falcão Bastos.

Viajante afortunado, escritor célebre, proscrito da Áustria nazi, Zweig percorreu o mundo com a avidez de quem pretende realmente compreender civilizações e culturas diferentes da sua, e procura sedimentar o caminho para uma nova e mais verdadeira forma de humanismo.

Essa paixão e esperança, sobretudo por uma velha Europa que o autor engrandece, refletem-se nestes relatos; contudo, o autor não deixa de pressentir que o continente caminha para a autodestruição – tema que encontramos em “O Mundo de Ontem”, extraordinário livro de memórias de uma Europa que já não existe, devastada por duas guerras e pela recusa de diálogo entre culturas (o que, infelizmente, voltamos a viver, pelo menos desde o conflito nos Balcãs, nos anos 90 do século passado, já para não falar da divisão durante o período comunista).

Stefan Zweig nasceu em Viena, em Novembro de 1881, viveu em Salzburgo, daí emigrando para Inglaterra, em 1934, e depois para o Brasil, onde acabaria por se suicidar, em Fevereiro de 1942. Filho de um rico industrial judeu, pacifista convicto, amante das letras e do teatro, da Filosofia e da História, Stefan Zweig manteve um intenso contacto com as mais diversas personalidades da vida cultural europeia – Freud, Valéry, Rilke, Verhaeren.

Da sua extensa obra – em que cabem também as muitas traduções de textos de Verlaine, de Baudelaire e, sobretudo, de Verhaeren – destacam-se o ensaio, a novela e a biografia (a que dedicou a Fernão de Magalhães continua a ser a obra mais relevante sobre a vida do navegador português).

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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