Por defeito profissional dou comigo, recorrentemente, a pensar como é que perdemos tempo à volta de assuntos que, na maior parte dos casos, não passam de “espuma dos dias”. Na verdade, a discussão pública, quiçá fruto dos tempos, parece-me circular, no que de mau isso implica. Como se fôssemos, cada um de nós, aquele rato dentro de uma gaiola que, por sua vez, está dentro de uma roda que continua a girar sem parar – porque o rato, esse, não pára – mas sem nunca, verdadeiramente, sairmos do sítio.

As discussões políticas, os debates públicos, as notícias, são muito mais sobre o que o candidato x disse, o que o deputado y respondeu, que lutas internas se travam agora em cada um dos partidos políticos, ou quem sucederá a quem.

Estes são assuntos que vemos todos os dias nas parangonas dos jornais, nas chamadas de atenção do rodapé dos telejornais, nos posts das redes sociais, Twitter incluído, e em muitos e respectivos memes. Serão assuntos relevantes porque proeminentes? Talvez. São o que de mais importante deveríamos estar a discutir enquanto sociedade? Penso que não.

Carl Schmitt, o jurista e filósofo político de origem alemã, que teve o seu nome ligado ao regime nazi, tem sido recuperado nos últimos anos, não por essas razões, obviamente. Algumas das suas posições dão um interessante contributo naquilo que é a continuação da visão pessimista do Homem e da política pelo ajuste de anteriores argumentações de filósofos como Maquiavel ou Hobbes. Acerca desta natureza, diria, do Homem. Mais, o conceito do que é Político, assim também reza o nome de uma das suas obras, e como um Estado despolitizado, logo Liberal (nesse e apenas nesse sentido, ou seja, sem marcação política) não surge como algo natural nem bom.

Claro está que a teoria política de Schmitt não é tão simplesmente exposta nem é esse o meu intuito, nem espaço aqui teríamos, mas proponho-vos, pelo menos, uma reflexão acerca deste ponto. Como se a Política, e por esta, já na senda de tantos outros filósofos que a analisaram desde Platão a Max Weber, ou Kant, fosse a sede de alinhamento daquilo que é humano. Ou seja, a despolitização da sociedade, em nada contribuiria para a não existência do “Homem lobo do Homem”, ousando eu concluir que apenas a agudizaria.

A despolitização da sociedade faz-se, no aqui e no agora, da discussão sobre o vazio, aquela discussão sobre a espuma dos dias que referi no início. E porque é que isto é importante? Por muitas razões, advogaria eu, mas talvez a mais visível seja aquela que nos é apresentada a cada eleição: números cada vez mais elevados da abstenção.

Mas não só, é visível na falta de discussão de ideias, caminhos a seguir, políticas públicas consequentes e por aí fora. Ou seja, a despolitização de uma sociedade deixa severos rasgos na malha da democracia e isso tem um propósito, ou vários. Talvez seja exatamente por isso que os movimentos de cariz populista tanto gostam do sound bite, da alienação do Homem, porque essas brechas ajudam o seu caminho, mas não são os únicos.

Vamos lá falar de Política novamente.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.