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Economia europeia dos dados valerá 829 mil milhões de euros nos próximos três anos

Em 2018, este mercado representava apenas 301 mil milhões de euros, 2,4% do PIB da União Europeia. No entanto, a advogada Magda Cocco alerta para a “fragmentação” e “assimetria” nesta área entre os 27 países e o diretor de inovação da Sonae Sierra fala em “diabolização” do conceito de monetização de dados.
12 Janeiro 2022, 17h30

A União Europeia (UE) tem hoje cerca de 153 mil empresas de dados, 542 mil utilizadores de dados e 6,6 milhões de profissionais de dados, mas até 2025 esses números vão aumentar para 173 mil organizações, 582 mil pessoas e 9,3 milhões de especialistas da área. A economia da informação pessoal e do consumidor está a crescer e uma das prioridades de Bruxelas é criar um mercado único para este sector, até porque se estima que só 10% dos dados criados sejam aproveitados.

Então, como? De que forma se garante condições de equidade? Estarão as empresas abertas a partilhar os seus dados? Qual a melhor forma de ultrapassar os desequilíbrios entre Estados-membros? Como gerir, simultaneamente, o Regulamento Geral da Proteção de Dados (RGPD), a privacidade, a transparência e os direitos fundamentais? Estas foram algumas das questões que estiveram em discussão esta terça-feira, num debate organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Das Comunicações (APDC).

“Estamos muito virados para os dados pessoais, para o RGPD, mas há mais além disso. Os dados representam novas oportunidades de crescimento, ameaças e desafios”, começou por dizer Magda Cocco, sócia responsável por Comunicações, Proteção de Dados e Tecnologia na Vieira de Almeida (VdA), na conferência “Digital Union”.

A advogada contextualizou que a economia dos dados mede o potencial dos dados e o seu impacto na sociedade enquanto a economia digital é algo mais complexo, que envolve as infraestruturas físicas e digitais, as aplicações, entre outros aspetos da digitalização. “O tecido empresarial deve, desde logo, reconhecer o valor dos dados e ver os dados como um ativo. Por vezes as PME ainda não têm consciência disso”, afirmou.

O volume de produção de dados duplica a cada 18 meses e prevê-se que nos próximos três anos a economia de dados europeia alcance no um valor superior a 829 mil milhões de euros, sendo que em 2018 representava apenas 301 mil milhões de euros, pouco mais de 2% do PIB da UE.

No entanto, há várias arestas a limar na comunidade única. Segundo Magda Cocco, a UE perdeu mercado nos dados com a saída do Reino Unido (Brexit) e procura agora medidas que criem harmonização. “A UE quer que haja uma promoção económica dos dados, para fomentar a liderança nestes domínios, e apresentou uma estratégia em fevereiro de 2020, mas identificou uma fragmentação ao nível dos dados, assimetrias de poder de mercado”, alertou.

A visão foi partilhada por Ricardo Rosa, responsável de Inovação da Sonae Sierra, que, mesmo reconhecendo que houve um acordar das empresas para estes temas, sente no ar uma “diabolização” do conceito de monetização de dados. “Eu noto, enquanto alguém que trabalha em inovação, esquizofrenia na forma como a UE olha para isto. Não podemos partir do pressuposto de que queremos ser os líderes de cloud computing e mantermos uma lógica de manutenção do número de coimas”, esclareceu.

Ricardo Rosa aplaude a conciliação legislativa na UE, porque antes do RGPD era mais difícil tratar a informação dos negócios que têm em Portugal, Espanha, Itália ou Grécia, contudo ainda nota nos vários países “dificuldade em identificar onde estão as áreas cinzentas para inovar com segurança”. “Há um terreno de difícil gestão numa área onde a Europa quer ser líder”, argumentou, na sessão online moderada pela diretora executiva da APDC, Sandra Fazenda Almeida, e pelo advogado Tiago Bessa, sócio da VdA.

O Data Protection Officer do grupo Ageas Portugal aproveitou a engrenagem e advertiu a para o crescimento dos regimes sancionatórios, que pesam sob os volumes de negócios totais das empresas e, consequentemente, têm efeitos negativos ao nível da sua competitividade. “Sem dados não existe inteligência. Os dados são decisivos na decisão de quem são os vencedores nos diferentes domínios: na indústria, no militar, na academia…”, frisou Pedro Machado, fazendo ainda referência à ameaça da desigualdade digital, apontada pelos empresários no “Global Risk Report 2022”.

A advogada da VdA mencionou a falta de rentabilização pode dever-se ao facto de diversos líderes desconhecerem que o ecossistema da economia dos dados envolve múltiplos intervenientes: operadores de comunicações, OTT, plataformas, motores de busca, agregadores, utilizadores, cibercriminosos – “que cada vez são mais sofisticados” -, supervisores, detentores de dados e mesmo reutilizadores de dados. “A nível jurídico, há aspetos que influenciam e materializam o impacto económico dos dados. Vemos que, muitas vezes, as empresas não regulam nos acordos e projetos em termos de propriedade dos dados. Cada vez mais a compliance dos dados tem um valor muito importante, o que se percebe nas transações de M&A”, acautelou ainda Madga Cocco.

“A cultura empresarial e a promoção dos conhecimentos nestas áreas é fundamental: dar poder às pessoas individualmente e às equipas para trabalharem com estas ferramentas. Apenas 25% das pessoas dentro de uma organização consegue acesso à informação que lhe permita tomar uma decisão”, concluiu Manuel Dias, National Technology Officer da Microsoft.

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