A sugestão que deixamos coloca a tónica no lado intimista da composição. Talvez por isso, certos compositores viram neste género o veículo de eleição para verter as suas confissões mais íntimas. Estamos, assim, no ambiente recatado de uma sala ou salão privado. Concessões ao gosto das massas ou fórmulas mais sentimentalistas não têm aqui lugar.
Na Europa urbana do século XIX, sobretudo em França e no mundo austro-germânico, afinou-se este gosto e a organização de concertos em casas particulares. A “música doméstica” tornou-se um mercado, não apenas um deleite. As “sociedades de quartetos” proliferavam pelas cidades, alimentadas pelo público que afluía a essas sessões recatadas, a classe média-alta da época.
Os tempos mudam, como se sabe. E embora Goethe considerasse o quarteto de cordas “o mais compreensível dos géneros de música instrumental”, nem este escapou à voragem dos tempos, às mudanças drásticas nas escolhas que fazemos e a que chamamos ócio e lazer. Hoje em dia, já não reunimos com amigos, família ou vizinhos para ouvir um quatuor. Mas pode sempre ir até ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, e deleitar-se com as interpretações do Festival de Quartetos de Cordas 2022.
Os protagonistas desta edição – Cuarteto Casals, Quarteto Tejo, Jerusalem Quartet, Borusan Quartet, Marmen Quartet e Quatuor Danel – vão subir ao palco no fim de semana de 22 e 23 de janeiro para interpretar compositores tão diversos como Beethoven, Schubert, Haydn ou Dvořák, a par de peças contemporâneas, entre as quais a estreia absoluta de uma obra do compositor português Nuno Costa, encomendada pela Fundação Gulbenkian.
Cuarteto Casals 22 de janeiro | 15h00
O quarteto espanhol que tem atuado em salas de renome como o Carnegie Hall de Nova Iorque, Philharmonie de Berlim ou o Concertgebouw de Amesterdão, traz à sala lisboeta o Quarteto para Cordas em Sol menor, op. 20 n.º 3, de Haydn, o Quarteto para Cordas n.º 16, em Fá maior, op. 135, de Beethoven e o Quarteto para Cordas n.º 9, em Mi bemol maior, op. 117, de Chostakovitch.
Intérpretes: Vera Martínez Mehner, Violino; Abel Tomàs, Violino; Jonathan Brown, Viola; Arnau Tomàs, Violoncelo
Quarteto Tejo 22 de janeiro | 18h00
Vencedor do 1º prémio no concurso Prémio Jovens Músicos, categoria Música de Câmara – nível superior, o Quarteto Tejo vai apresentar a Morte e a Donzela de Schubert e uma obra do compositor português Nuno Costa em estreia mundial, Buio.
Intérpretes: André Gaio Pereira, Violino; Tomás Soares, Violino; Sofia Silva Sousa, Viola;
Beatriz Raimundo, Violoncelo
Jerusalem Quartet 22 de janeiro | 21h00
O Jerusalem Quartet, que continua a recolher grandes elogios da crítica especializada, apresenta-se no Grande Auditório com obras de Beethoven (Quarteto para Cordas n.º 1, em Fá maior, op. 18, n.º 1), Chostakovitch (Quarteto para Cordas n.º 8, em Dó menor, op. 110), e ainda Dvořák (Quarteto para Cordas n.º 12, em Fá maior, op. 96, “Quarteto Americano”).
Intérpretes: Alexander Pavlovsky, Violino; Sergei Bresler, Violino; Ori Kam, Viola; Kyril Zlotnikov, Violoncelo
Borusan Quartet 23 de janeiro | 12h00
Oriundo da Turquia, este quarteto multipremiado privilegia compositores turcos no seu repertório, que nesta edição serão representados por Fazil Say, com o Quarteto para Cordas op. 29, Divorce, lado a lado com obras clássicas do repertório europeu: Quarteto para Cordas n.º 3, em Mi bemol menor, op. 30, de Tchaikovsky, e Quarteto para Cordas em Mi bemol maior, de Mendelssohn.
Intérpretes: Esen Kivrak, Violino; Nilay Sancar, Violino; Efdal Altun, Viola; Çağ Erçağ, Violoncelo
Marmen Quartet 23 de janeiro | 15h00
Formado no Royal College of Music de Londres, este jovem quarteto conquistou o Grande Prémio no Festival dos Quartetos de Cordas de Bordéus e com ele projetou-se na cena internacional, sendo considerado um dos mais entusiasmantes ensembles europeus. O programa que traz à Gulbenkian contempla quatro compositores. Joseph Haydn (Quarteto para Cordas n.º 50, em Si bemol maior, op. 64 n.º 3), György Ligeti (Quarteto para Cordas n.º 1, Métamorphoses nocturnes), Salina Fisher (Heal) eJohannes Brahms (Quarteto para Cordas n.º 1, em Dó menor, op. 51 n.º 1).
Intérpretes: Johannes Marmen, Violino; Ricky Gore, Violino; Bryony Gibson-Cornish, Viola;
Sinéad O’Halloran, Violoncelo
Quatuor Danel 23 de janeiro | 18h00
A formação francesa, que é também o mais veterano quarteto do Festival, nasceu em 1991, e tem em Chostakovitch o seu compositor de eleição, tendo já gravado a integral dos quartetos de cordas do compositor russo. Além deste, vai interpretar ainda obras de Johannes Brahms e Claude Debussy
Intérpretes: Marc Danel, Violino; Gilles Millet, Violino; Vlad Bogdanas, Viola; Yovan Markovitch, Violoncelo
Quarteto para Cordas n.º 2, em Lá menor, op. 51 n.º 2 (Brahms); Quarteto para Cordas em Sol menor, op. 10 (Debussy); e Quarteto para Cordas n.º 2, em Lá maior, op. 68 (Chostakovitch)
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