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Livro: “Viagens de um Artista Enquanto Jovem”

Carlos Carreiro, artista plástico nascido em Ponta Delgada, nos Açores, cidadão do mundo e cronista das cidades que fez suas na efervescente década de 1960. Um olhar e uma escrita a descobrir.
5 Fevereiro 2022, 10h36

 

“Viagens de um Artista Enquanto Jovem”, recentemente publicado pela editora açoriana Artes e Letras, reúne crónicas escritas pelo artista plástico açoriano que saíram no Diário dos Açores entre 1967 e 1970. Estes textos resultam de viagens que o artista fez a cidades onde se viviam tempos fascinantes no final da década de 1960, como Paris, Nova Iorque, Filadélfia ou Londres.

Em Paris, assiste a “Romeu e Julieta”, pela companhia dirigida por Maurice Béjart, então considerado o mais revolucionário dos coreógrafos, tendo no principal papel feminino a bailarina portuguesa Laura Proença. De seguida, passeia pelas ruas da cidade onde, com seis graus negativos, vários homens, mulheres e crianças dormem.

Nos Estados Unidos, toma nota de como é diferente o significado que damos na Europa à História, ao visitar – como milhares de outras pessoas – a casa de Betsy Ross, em Filadélfia, a costureira que bordou a primeira bandeira do país, objeto que reencontra profusamente retratado pelo pintor ‘pop’ Jasper Johns, numa retrospetiva que lhe dedica o Museu de Arte da cidade.

Já a ‘swinging London’ lhe deixa sentimentos contraditórios, entre o maravilhoso dos museus e o erotismo da moda nas ruas londrinas, que não aprecia – “Tudo o que apareceu este ano na moda feminina e masculina é inspirado no vestuário dos séculos XIX e princípio de XX, com alterações influenciadas pela indumentária espacial e oriental. É uma loucura e um festival para a vista. A palavra ousadia já não existe e todas as principais lojas têm uma secção unissexo, onde rapazes e raparigas compram a mesma roupa, que só difere nas medidas. De resto, é tudo igual e essencialmente feminino.”

Numa visita curta, desloca-se à terra natal de Shakespeare, Stratford-upon-Avon, onde observa como “sentadas numa pastelaria, duas alegres comadres de Windsor tomam o ‘five o’clock tea’, comendo pastéis de creme, lambendo os dedos sem esfolar as afiadas línguas nos imensos anéis falsos.”

Carlos Carreiro nasceu em Ponta Delgada, em 1946. A sua carreira de pintor seguiu a par da atividade docente, enquanto professor associado na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Em 1975, criou o Grupo Puzzle com Graça Morais, Jaime Silva, Dario Alves, Albuquerque Mendes, Pedro Rocha, Fernando Pinto Coelho e Armando Azevedo, que foi um importante grupo de intervenção no meio artístico português.

A sua primeira exposição individual teve lugar na Galeria Zen, no Porto, em 1973, seguindo-se mais de sete dezenas de outras e a participação em mais de três centenas de coletivas. Com mais de quinze prémios de pintura e várias menções honrosas, desenvolveu igualmente trabalho na edição de serigrafias, para além de ter feito numerosas capas para livros e outras edições.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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