A audição de Bernardo Moniz da Maia, grande devedor do Novo Banco, terminou hoje com críticas dos deputados às “falhas de memória” e “poucos esclarecimentos”, tendo o empresário assumido a responsabilidade moral da dívida, mas assegurando “boa-fé”.
“Não me recordo dessa situação”, “não consigo transmitir isso com a clareza que gostaria”, “não tenho ideia disso”, “não sei responder com precisão” ou “não sei os nomes” foram algumas das respostas que Bernardo Moniz da Maia foi dando ao longo da sua audição na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
A deputada do PS Isabel Oneto, vice-presidente da comissão que assumiu a presidência durante boa parte da audição, uma vez que Fernando Negrão teve que se ausentar, viu-se obrigada a intervir, durante a inquirição da bloquista Mariana Mortágua, para recordar ao empresário as regras deste tipo de comissão.
“Vejo-me obrigada a recordar que isto é uma comissão de inquérito e que se rege pelas regras do processo penal, em que não presta juramento, mas é obrigado a responder com verdade. Vejo-me obrigada neste ponto a recordar estas regras”, avisou.
No final, Isabel Oneto encerrou os trabalhos e transmitiu aquilo que foi dado a entender por muitos dos deputados ao longo da audição.
“Houve poucos esclarecimentos (…) Há bastantes falhas de memória relativamente aquilo que era o objeto das questões. Analisaremos essa situação”, enfatizou.
O curso da audição levou o deputado do PS Fernando Anastácio a pedir a palavra na qualidade de relator para esclarecer uma dúvida: “sente-se moralmente responsável por essa dívida?”.
“Obviamente que se foi contraída moralmente é-se responsável. No entanto, acho que havia formas de resolver o problema que por diversas vicissitudes não tem vindo a ser possível lá chegar”, admitiu Bernardo Moniz da Maia.
Também pelo PS, Eduardo Barroco de Melo manteve uma longa troca de perguntas e respostas para tentar apurar quem tomou a decisão em relação ao aumento de capital de algumas empresas do grupo.
“Das duas uma: ou o senhor tem muito azar e aconteceram-lhe uma série de coisas na vida que não consegue explicar ou então está a querer enganar-nos”, acabou por dizer o socialista.
No final da inquirição – e porque tinha a certeza que Moniz da Maia não iria “responder a mais nada” – Barroco de Melo deixou “uma pergunta genérica”: “o grupo Moniz da Maia assume ou não assume que durante este processo todo não só não tinha os seus créditos garantidos como sucessivamente atuou de má-fé para evitar o pagamento desses créditos?”.
A resposta, desta feita, foi imediata e o empresário garantiu que o grupo “nunca atuou de má-fé nem nunca foi essa postura”, uma vez que “sempre pretendeu encontrar as soluções para cumprir com as suas obrigações na sua totalidade”.
“Nada disso foi de má-fé, antes pelo contrário, foi de muito boa-fé e várias tentativas ao longo de muito tempo foi tentado encontrar a solução para resolver a situação em que a dívida viesse a ser paga”, assegurou, explicando que, com o tempo a passar e sem resposta, ficaram “peados como se costuma dizer”.
Bernardo Moniz da Maia assegurou ter “a maior consideração” pela comissão de inquérito.
“Posso às vezes explicar-me mal ou por vezes não entender porque na realidade isto aqui não é a minha praia e eu não conheço bem”, disse, em jeito de pedido de desculpa.
No período da inquirição da social-democrata Mónica Quintela ficou-se a saber que o empresário aufere, julga o próprio, “três mil e poucos euros” por uma das sociedades que administra – apesar da dificuldade em elencar os nomes – e não tem “património nenhum especial”, a não ser “talvez um carro que está em leasing”.
Moniz da Maia assumiu que “existe alguma pequena conta lá fora, que está arrestada pela justiça brasileira” – concretamente na Suíça -, tendo o mandado de captura que teve no Brasil sido tema.
“Era para ser feito um laboratório de investigação biovegetal, foi-se convidado por vários estados, deram um pequeno apoio para implementar o laboratório. Depois houve uma delação premiada e dai ter aparecido as notícias, mas nunca fui notificado, ainda hoje pouco sei o porquê da situação”, respondeu.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com