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Nazaré Costa Cabral: “Grandes crises têm sido oportunidade para centralização de poderes” na Europa

A presidente do CFP destacou várias assimetrias e ineficiências no cerne da UE e da união monetária, ao mesmo tempo que identifica nos períodos de crise momentos de maior centralização de poderes por parte das instituições europeias.
17 Março 2022, 19h36

Nazaré da Costa Cabral destaca o impacto das crises na centralização de poderes numa União Europeia (UE) composta por “soberanias desarticuladas”, uma situação que cria desequilíbrios territoriais, funcionais e do ponto de vista externo.

A ideia foi manifestada esta quinta-feira, no segundo debate do ciclo quinzenal “Pensar a Economia”, que será organizado pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal (IDEFF) da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa com o apoio da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e da Ordem dos Economistas, além do Jornal Económico como media partner.

A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP) considera que a desarticulação entre os vários Estados-membros da UE, bem como entre algumas instituições ou políticas, nomeadamente entre a orçamental e monetária, constituem interações “atípicas” e “uma tensão permanente entre forças centrífugas e centrípetas”.

A autora do livro ‘The European Monetary After the Crisis: From a Fiscal Union to a Fiscal Capacity’ explicou que, por um lado, a não correspondência entre os espaços físicos da União Económica e Monetária (UEM) e a UE é um obstáculo à eficiência das políticas europeias, um problema que cresce com um orçamento europeu excessivamente pequeno e que “não se relaciona verdadeiramente com os cidadãos” europeus. Um exemplo disso é a forma como são arrecadadas receitas ou canalizadas despesas, algo sempre feito através de processos intermediados e que não serve funções típicas de um orçamento soberano, como “a redistribuição ou a estabilização”.

Por outro lado, a “UEM é um espaço onde existe a ideia de polarização externa” no que respeita ao comércio internacional, com países tradicionalmente excedentários, outros cronicamente deficitários que são considerados de forma desigual quanto à necessidade de processos de estabilização. Este foi um problema para o qual a introdução da moeda única não ajudou a resolver, argumenta Nazaré da Costa Cabral; pelo contrário, até se agravou, dado o “valor diferente para as economias” que assumia aquando da sua introdução, representando ganhos de competitividade para países com divisas fortes, como a Alemanha, mas mais um custo para Estados-membros com moedas fracas, como o escudo nacional.

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