“A carga fiscal em Portugal continua a ser muito pesada para as empresas”, disse Paula Amorim, uma responsáveis pelo Grupo Amorim, à margem das comemorações dos 150 anos do grupo. Afirmando que, apesar disso, não conta deixar de investir em Portugal, Paula Amorim não deixou de insistir que fazer negócios noutras geografias é bem mais atrativo do que em Portugal.
Mas não era esse o foco das comemorações: Paula Amorim, uma das três filhas de Américo Amorim, promete que o grupo vai continuar a ser a imagem do seu pai no que tem a ver com o que de mais irreverente tinha o homem que fez ascender o grupo ao lugar de destaque que ainda hoje tem. Irreverência foi de facto algo que o homem que foi por muitos anos o mais rico de Portugal tinha de sobra. E Paula Amorim, na sua intervenção na cerimónia pública de comemoração dos 150 anos da Corticeira Amorim, não quis deixar de dar nota disso mesmo.
“A tudo sobrevivemos e tudo ultrapassámos. Fomos corajosos quando tínhamos de enfrentar o desconhecido; fomos audazes quando não revelámos medo das contrariedades; fomos visionários quando outros quiseram olhar para o passado; fomos ambientalistas quando não se falava de ambiente; tivemos preocupações sociais quando não se falava dessas responsabilidades; internacionalizámos quando outros se fecharam; inovámos porque não aceitamos a estagnação; desafiámos o poder político quando não nos deixavam crescer; fomos à procura porque fomos inconformados”, disse Paula Amorim.
O legado de Américo Amorim – que desafiou a contingentação industrial do regime anterior a 1974, viajou para lá da Cortina de Ferro quando isso era um pecado inconfessável e tinha em Fidel Castro um dos seus melhores amigos – é, para a sua filha, um esteio que o grupo entende continuar a trilhar, sob pena de, não o fazendo, tender para a estagnação.
Mas Paula Amorim quis também distinguir António Amorim, um dos irmãos de Américo, que aos 92 anos de idade continua a seguir as andanças do grupo que ajudou a engrandecer.
“Mando-lhe recados escritos sobre o que está bem. Mas também sobre o que está mal”, havia dito António Amorim ao JE quando foi questionado sobre se seguia com atenção os critérios de gestão do seu filho, António Rios Amorim – o que obrigou o CEO do grupo a prestar prova material desse envolvimento do pai.
Desaparecido em julho de 2017, contava-se, entre tantas outras peripécias, que Américo Amorim gostava de, nos restaurantes, pedir vinhos caros que já sabia que usavam vedantes artificiais; chegada a preciosa bebida, Amorim desatava a vociferar contra o manhoso vedante e apressava-se a mandar o vinho para trás, dando a conhecer que não se permitiria consumir uma garrafa que não usasse rolhas de cortiça. Mas a mais escondida de todas as histórias do grupo é aquela que explica – ou talvez explique, não se sabe – porque é que o grupo conseguiu escapar à vaga de nacionalizações de 1975, e que mete o desaparecimento misterioso, por alguns dias, de um enviado soviético junto do poder político português. Talvez um dia se venha a saber o que é que tudo isso tem a ver com Américo Amorim.
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