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Paula Amorim: “Carga fiscal em Portugal é muito pesada”

A mais mediática das três herdeiras de Américo Amorim assegura que não vai deixar de investir em Portugal, mas gostaria de um ambiente mais amigo das empresas.
16 Janeiro 2020, 09h30

“A carga fiscal em Portugal continua a ser muito pesada para as empresas”, disse Paula Amorim, uma responsáveis pelo Grupo Amorim, à margem das comemorações dos 150 anos do grupo. Afirmando que, apesar disso, não conta deixar de investir em Portugal, Paula Amorim não deixou de insistir que fazer negócios noutras geografias é bem mais atrativo do que em Portugal.

Mas não era esse o foco das comemorações: Paula Amorim, uma das três filhas de Américo Amorim, promete que o grupo vai continuar a ser a imagem do seu pai no que tem a ver com o que de mais irreverente tinha o homem que fez ascender o grupo ao lugar de destaque que ainda hoje tem. Irreverência foi de facto algo que o homem que foi por muitos anos o mais rico de Portugal tinha de sobra. E Paula Amorim, na sua intervenção na cerimónia pública de comemoração dos 150 anos da Corticeira Amorim, não quis deixar de dar nota disso mesmo.

“A tudo sobrevivemos e tudo ultrapassámos. Fomos corajosos quando tínhamos de enfrentar o desconhecido; fomos audazes quando não revelámos medo das contrariedades; fomos visionários quando outros quiseram olhar para o passado; fomos ambientalistas quando não se falava de ambiente; tivemos preocupações sociais quando não se falava dessas responsabilidades; internacionalizámos quando outros se fecharam; inovámos porque não aceitamos a estagnação; desafiámos o poder político quando não nos deixavam crescer; fomos à procura porque fomos inconformados”, disse Paula Amorim.

O legado de Américo Amorim – que desafiou a contingentação industrial do regime anterior a 1974, viajou para lá da Cortina de Ferro quando isso era um pecado inconfessável e tinha em Fidel Castro um dos seus melhores amigos – é, para a sua filha, um esteio que o grupo entende continuar a trilhar, sob pena de, não o fazendo, tender para a estagnação.

Mas Paula Amorim quis também distinguir António Amorim, um dos irmãos de Américo, que aos 92 anos de idade continua a seguir as andanças do grupo que ajudou a engrandecer.

“Mando-lhe recados escritos sobre o que está bem. Mas também sobre o que está mal”, havia dito António Amorim ao JE quando foi questionado sobre se seguia com atenção os critérios de gestão do seu filho, António Rios Amorim – o que obrigou o CEO do grupo a prestar prova material desse envolvimento do pai.

Desaparecido em julho de 2017, contava-se, entre tantas outras peripécias, que Américo Amorim gostava de, nos restaurantes, pedir vinhos caros que já sabia que usavam vedantes artificiais; chegada a preciosa bebida, Amorim desatava a vociferar contra o manhoso vedante e apressava-se a mandar o vinho para trás, dando a conhecer que não se permitiria consumir uma garrafa que não usasse rolhas de cortiça. Mas a mais escondida de todas as histórias do grupo é aquela que explica – ou talvez explique, não se sabe – porque é que o grupo conseguiu escapar à vaga de nacionalizações de 1975, e que mete o desaparecimento misterioso, por alguns dias, de um enviado soviético junto do poder político português. Talvez um dia se venha a saber o que é que tudo isso tem a ver com Américo Amorim.

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