A 14.ª edição do NOS Alive abriu portas ao público esta quarta-feira. Depois de uma chuva de cancelamentos – Glass Animals, Tom Misch, Clairo – o sol brilhou no Passeio Marítimo de Algés, mas quem brilhou no fim, feitas as contas, foi o belga Stromae. Na memória, não tão marcantes, ficam os The Strokes: os verdadeiros fãs não saíram defraudados, mas a prestação em palco soube a pouco.
Ainda o público se servia das primeiras cervejas – inflacionadas, como é de esperar – e já os Jungle ecoavam do palco NOS, o palco principal. O festival deverá ser especial para os britânicos, que nele se estrearam em 2014, ainda num palco secundário. Desta vez, e com um palco onde cabem os sete, foram mais do que um show de aquecimento.
“São todos lindos, obrigado”, repetia a banda. Um concerto ligeiro, é certo, mas difícil de ignorar. Mais difícil ainda de ficar quieto, no meio de uma plateia que ainda se compunha mas que rejeitou desde logo ficar parada. Foram ‘Good Times’ para quem conhece os Jungle, melhores ainda para quem os ouvia pela primeira vez.
Já no lusco-fusco, e na melancolia anunciada – muitas expetativas se trocavam em relação ao concerto dos The Strokes -, os The War On Drugs entraram em palco para apenas nove temas, num concerto de rock que soube a isso mesmo, quase como quem diz “não vamos fingir ser algo que não somos”. Fossem todos assim.
Mas a banda é mais do que isso, e por detrás de uma certa timidez ou feitio, providenciaram um momento caloroso, ainda que semi-apático, aos fãs. Só mais para o fim chegou a apoteose, o êxtase, infelizmente servido já de saída. Afinal, ainda faltam os cabeça de cartaz.
Para quem não os conhecia terá sido um interlúdio útil para circular por outros palcos, ou até mesmo para jantar no recinto. É cada vez mais frequente ouvir-se, pelos recintos e plateias dos festivais, “quem são estes?” ou até “ah, acho que conheço esta”. Faz parte, dirão uns. Trágico, dirão outros.
Depois de um fiasco prestado na Dinamarca, nem há uma semana, e depois de inúmeras críticas duras à prestação dos The Strokes em palco – que rapidamente se espelharam na imprensa portuguesa – foi a vez do NOS Alive. Falou-se, ouviu-se, achou-se que o flop se iria replicar em Algés. Começou mal, com um atraso (coisa nada agradável num festival que já é conhecido pelos polémicos horários).
The Strokes surgiram em palco quase vinte minutos depois da hora marcada, quando já alguns imaginavam que a banda iria pelo mesmo caminho de Glass Animals, Clairo ou Tom Misch. Os primeiros tiveram uma aflição das cordas vocais, a segunda teve o voo para Lisboa cancelado e o último revelou estar doente. Coisas que acontecem.
Nas redes sociais, alguns festivaleiros queixaram-se dos substitutos arranjados, mas sobretudo das trocas de horários, que já são uma mazela habitual no Passeio Marítimo de Algés.
Julian Casablancas e companhia estrearam o tema ‘Is This It?” numa digressão e com fôlego e energia abriram um set, com o público a acenar, “sim senhor, assim sim”. Mas foi fogo de pouca dura. O líder da banda, que a julgar pelos óculos escuros e outfit camuflado tinha uma sessão de caça combinada para o dia seguinte, deixa cair o microfone e a verdade: “Estou bêbedo outra vez, desculpem”.
Ainda assim, e com um repertório mudado desde os últimos concertos, houve espaço para boa disposição, só interrompida por breves momentos constrangedores, para não dizer lamentáveis, de um senhor do rock antigo, que por vezes parece que tem mais que fazer do que estar ali a entreter o público português. Safam-lhes os momentos espontâneos de carisma, a interação constante com a plateia e algumas surpresas agradáveis, como uma cover da artista Clairo, que não conseguiu comparecer.
Um concerto sem dúvida anti-climático que se estendeu na duração, a somar ao atraso, e a uns quantos silêncios desconfortáveis (ninguém vai para um festival meditar). Pelo fim, já se ouvia Parov Stelar no palco Heineken e não demorou muito até a plateia dispersar.
Para o fim, o melhor. Paul van Haver, mais conhecido como Stromae, ouviu o roncar do estômago do público português à 01h00 e decidiu trazer para a mesa tudo o que tinha carta e mais uns aperitivos. The Strokes não mataram de maneira nenhuma a fome, mas o belga que encerrou a primeira noite do NOS Alive deixou o público a suar, numa noite quente, e a rir, a saltar. Daqueles concertos que se revelam um espetáculo e que nos deixam frustrados porque não soube a suficiente.
Foi com uma dicção portuguesa perfeita que se apresentou ao público, que lhe respondeu prontamente. Ninguém esperava ter de treinar o francês de segundo ciclo pela madrugada dentro no Passeio Marítimo de Algés, mas assim foi. Trés bien, Stromae.
O artista que se tornou conhecido pelo tema ‘Papaoutai’ trouxe outros êxitos como ‘Alors on Dance’, ‘Formidable’ e ‘Invaicu’. Uma refeição composta, ainda que a correr – não chegou a uma hora – mas que aconchegou bem um público que hoje se prepara para presenciar novamente a energia de Florence Welch.
O Nos Alive decorre até sábado, 9 de julho. Conheça aqui o cartaz e saiba como chegar ao festival.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com