O 5G é o maior projeto de infraestrutura da história, com um investimento global estimado em cinco vezes o PIB de Portugal durante os próximos cinco anos. Nasce com a pretensão de ser o sistema com maior potencial de comunicação entre pessoas e máquinas, com novas e inéditas aplicações. Terá, por isso, um impacto brutal na redistribuição do poder político e económico entre países, setores e empresas.
Mas o 5G é também ultracomplexo. Não se trata de uma mera evolução das gerações móveis anteriores porque, para conseguir aumentar entre dez e cem vezes cada um dos parâmetros que definem as suas capacidades, tem precisado de mudar radicalmente a sua estrutura. O 5G está fundamentalmente baseado em aplicações e não em equipamentos, com camadas de controlo programáveis para aceder e processar, em tempo real, qualquer informação. Daí o impacto geopolítico de uma plataforma chamada a controlar o funcionamento da economia e das instituições de todos os países e a sensibilidade da origem da tecnologia que suporta as redes.
Apesar dos primeiros serviços comerciais estarem focados na melhoria das comunicações móveis de banda larga para suportar aplicações de consumo relativamente inócuas, como jogos e vídeos de alta definição, a verdadeira inovação virá com as aplicações industriais, no âmbito das comunicações instantâneas e massivas entre máquinas e objetos. Desta forma, a China, através da liderança indiscutível no 5G, conseguirá desequilibrar o statu quo e alavancar a competitividade do seu setor industrial, que representa 41% do PIB, duas vezes a percentagem das economias ocidentais mais industrializadas.
Em Portugal, o 5G está também a provocar uma redistribuição massiva do poder entre os agentes do mercado. É altamente desafiante porque exige aos operadores conjugar o binómio maldito de um investimento enorme com uma diminuição irreversível das receitas. Mais de dois terços do investimento será absorvido pelas torres, fibras e equipamentos radiantes que garantem a cobertura de uma rede necessariamente mais densa para suportar um caudal de dados muito maior. Por isso, a única forma de viabilizar o sistema será partilhar as redes entre todos os operadores móveis, incluindo a Dense Air e a MasMovil, recentemente instalados no país.
Este enorme desafio de infraestruturas justifica o sucesso de operadores neutros como a Dstelecom, que constroem redes para serem partilhadas por todos os operadores; e as vendas multimilionárias de ativos a empresas de infraestruturas como a Cellnex ou a fundos como a Morgan Stanley, que pretendem abrir as redes a todo o mercado.
Após o protagonismo do poder económico na reconfiguração setorial, caberá ao regulador a última palavra sobre a alocação do espectro e as condições de exploração. E parece adequado ter, neste momento, um regulador disruptivo para gerir a distribuição de recursos públicos numa tecnologia cujo impacto ultrapassa os limites setoriais e que está chamada a alavancar o desenvolvimento digital do país na próxima década.